Técnicas avançadas permitiram a leitura de um dos mais antigos manuscritos da Bíblia hebraica encontrados
Graças à tecnologia, pesquisadores norte-americanos e israelenses conseguiram decifrar o que consideram um dos mais antigos manuscritos da Bíblia hebraica já encontrados. Conhecido como pergaminho En-Gedi, o documento data dos séculos III e IV, embora alguns especialistas acreditem que ele seja mais antigo.
Segundo publicou a revista Science Advances no fim de setembro, as análises sobre o estilo da caligrafia e os traços das letras sugerem que ele poderia ser da segunda metade do século 1 ou de princípios do século 2 depois de Cristo. Embora não se trate do pergaminho mais antigo já encontrado, título que atualmente pertence aos Manuscritos do Mar Morto, que datam entre o século 3 antes de Cristo e o século 2 da nossa era, o pergaminho En-Gedi é um dos mais antigos já localizados do Pentateuco – coleção dos cinco primeiros livros da Bíblia.
Luís Gustavo Assis, mestre em Arqueologia do Oriente Médio e Línguas Semíticas na Trinity International University (EUA), explica que o pergaminho hebraico foi descoberto na década de 1970 por um grupo de arqueólogos na região de En-Gedi, um oásis mencionado na Bíblia localizado nas proximidades de Jericó e Qumran, onde foram encontrados os Manuscritos do Mar Morto.
Pelo fato de ter sido queimado por volta do século 6, o rolo não podia ser tocado por conta do risco de se desfazer em cinzas. O comprometimento do material impediu sua leitura e manuseio durante quatro décadas. No entanto, recentemente, avanços científicos tornaram isso possível. “Um pesquisador americano conseguiu digitalizar esse manuscrito. Com a ajuda de sofisticados softwares, ele foi virtualmente desenrolado, permitindo, assim, um exame mais minucioso. Isso foi considerado uma importante descoberta da arqueologia bíblica”, esclarece Assis.
A relíquia foi identificada como parte do livro de Levítico. Conforme explica Rodrigo Silva, especialista em Arqueologia Bíblica e doutor em Arqueologia Clássica, trata-se de alguns versos dos capítulos 1 e 2 nos quais Deus orienta Moisés acerca do modo correto de oferecer sacrifícios ao Senhor.
Os pesquisadores estão otimistas quanto ao fato de que a tecnologia usada nesse caso poderá servir para outros pergaminhos danificados, incluindo alguns da coleção dos Manuscritos do Mar Morto, que permanecem indecifráveis.
Confiabilidade do texto bíblico
Os cientistas ficaram impactados com “o fato de que nessas passagens o pergaminho En-Gedi Levítico é idêntico em todos os seus detalhes, tanto as letras como a divisão em seções, ao que chamamos de texto massorético, o texto judaico vigente até hoje”, disse Michael Segal, diretor da Escola de Filosofia e Religião da Universidade Hebraica de Jerusalém.
Para o doutor Rodrigo Silva, essas descobertas refutam a ideia de que a Bíblia foi alterada com o passar do tempo. “O achado de diferentes cópias da Palavra de Deus ao longo dos séculos nos permite verificar se houve alterações”, afirma. Ele acrescenta que o pergaminho En-Gedi surpreendeu até mesmo os mais céticos pois está em harmonia com o texto bíblico disponível atualmente.
Assis considera que essa compatibilidade é resultado do trabalho fidedigno dos copistas. “É seguro dizer que o cristão pode ler sua Bíblia sabendo que o texto é basicamente imutável. Deus não apenas inspirou as Escrituras, como também as preservou ao longo dos séculos”, defende.
EMANUELY MIRANDA é estudante de Jornalismo do Unasp, campus Engenheiro Coelho (Com informações da Folha de S.Paulo)
Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.