Criador do App da Bíblia mais usado no mundo fala de como a tecnologia tem ajudado a engajar novos leitores do livro sagrado
MÁRCIO TONETTI
Além de ter sido considerado pela revista Fast Company um dos 100 norte-americanos mais criativos nos negócios, Bobby Gruenewald já foi chamado de “Gutenberg” da era digital. Sua vocação empreendedora e interesse pela divulgação da Bíblia resultaram na criação do YouVersion, aplicativo mais usado pelos leitores das Escrituras no mundo. Em junho, Bobby esteve pela primeira vez no Brasil, que é o segundo na lista dos países com maior número de usuários do app. Além de palestrar no 15o Fórum de Ciências Bíblicas realizado pela Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) em Barueri (SP), ele participou do lançamento de uma edição especial da Bíblia que traz cerca de 2 mil QR Codes, unindo o físico ao digital. Foi nesse contexto que ele concedeu a entrevista a seguir.
Como nasceu o YouVersion?
Inicialmente, criamos um site que funcionou tecnicamente, mas não levou ao engajamento que esperávamos. Então, decidimos adaptar o site para dispositivos móveis e o
tráfego na web aumentou. Nessa época, Steve Jobs também anunciou a criação da App Store, o que nos motivou a desenvolver um aplicativo da Bíblia. Ele foi um dos primeiros 200 apps gratuitos disponibilizados na loja virtual da Apple. Graças às diversas parcerias e
ao apoio das sociedades bíblicas ao redor do mundo, dez anos depois
o YouVersion contabiliza 375 milhões de downloads.
De que maneira o mundo digital mudou a experiência das pessoas com o livro sagrado?
O compartilhamento é uma das experiências mais significativas. Quando os usuários expõem as Escrituras por meio do aplicativo e das redes sociais, eles também ajudam a trazer gente para essa realidade. Há um grande poder em experimentar as Escrituras em comunidade. Hoje também não necessitamos mais estar em casa para ler as Escrituras, pois as carregamos no bolso em todos os lugares.
Por outro lado, existem desvantagens?
Alguns conseguem usar os recursos digitais para tirar mais proveito de seu tempo com as Escrituras, mas outros têm dificuldades com as distrações do ambiente virtual. Por isso, preferem criar um espaço em que possam se concentrar totalmente na conexão com Deus.
Também há o pensamento de que a Bíblia digital seja menos sagrada?
Séculos atrás, quando a Bíblia ainda era lida em pergaminho, alguns rejeitaram a ideia de imprimi-
la no formato de livro. Da mesma forma, algumas pessoas hoje têm resistido à ideia de a Bíblia ser oferecida no formato digital. Porém, sabemos que a Palavra de Deus muda vidas por causa de seu poder e significado inerentes. Por isso, acredito que nossos esforços devam ser para conectar as pessoas às Escrituras, independentemente do formato.
Como entusiasta de tecnologia, você ainda lê a Bíblia em papel?
Curiosamente, eu coleciono Bíblias impressas em várias línguas e versões. Mas meu engajamento pessoal com a Bíblia é quase exclusivamente digital.
Fale um pouco sobre o acesso ao aplicativo em países fechados ao cristianismo.
Para citar apenas um exemplo, entre muitos, no Oriente Médio um homem está usando o YouVersion para apresentar a Palavra de Deus aos refugiados sírios e iraquianos. O app tem sido um meio de levar a Bíblia para regiões aonde, de outro modo, não poderíamos ir.
Você acredita que a tecnologia seja vital para a missão?
Eu busco encorajar as pessoas a ver a tecnologia como uma ferramenta para a proclamação do evangelho, não a única. Existem outros recursos e mais ferramentas surgirão. Se as pessoas continuarem perguntando como podem usar as novas tecnologias para evangelizar, Deus certamente mostrará novas possibilidades.
(Esta entrevista foi publicada originalmente na edição de julho de 2019 da Revista Adventista)
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Última atualização em 13 de agosto de 2019 por Márcio Tonetti.