Não culpe os hormônios pelo comportamento típico adolescente. Eles apenas obedecem a uma cabeça em transformação
Eles gostam de andar em bandos, defendem radicalmente suas opiniões, ficam horas trancados no quarto, se apaixonam loucamente, correm riscos, mas morrem de tédio. Além disso, sofrem uma mudança corporal fantástica, que geralmente distorce sua autoimagem e desfavorece sua autoestima, justamente quando mais desejam se envolver nos rituais de sedução. Dá para aguentar a barra da adolescência?
Todos nós passamos por ela. Falam que a culpa é dos hormônios. Entretanto, descobertas no campo da neurociência demonstram que, mais do que uma força hormonal, o cérebro dos adolescentes sofre mudanças que os impelem a ser exatamente como são. Os hormônios são importantes, sim, principalmente para o aumento de peso e estatura, amadurecimento do aparelho reprodutor e desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários. Porém, eles apenas executam o comando que o cérebro dá.
O cérebro atinge seu tamanho adulto no início da adolescência e então deixa de crescer. Nesse período sofre grandes transformações. É o que revela Jay Giedd e seus colaboradores do Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos nos seus estudos longitudinais sobre a maturação do cérebro adolescente. O hipotálamo é uma pequena estrutura cerebral que dispara e coordena a adolescência. De modo muito intenso, o cérebro adolescente sofre uma reorganização química e também estrutural. As principais mudanças e suas consequências são:
? Descarte de sinapses. A crença de que, quanto mais sinapses (conexões entre os neurônios) o cérebro possuir, mais brilhante ele será não é bem verdadeira. Na infância, há um aumento significativo delas. Porém, na adolescência, o cérebro sofre uma espécie de poda, na qual são apenas fortalecidas e mantidas as conexões que dão certo. O cérebro que não é capaz de eliminar as conexões excedentes poderia ser tido como “imaturo”. Soma-se a isso o aumento da mielina, substância lipídica que aumenta a velocidade na condução do impulso nervoso e que tem um efeito fixador das conexões que “funcionam melhor”. São essas mudanças que permitem ao adolescente a formação do raciocínio abstrato, da melhoria no processo de memorização, compreensão da linguagem e leitura.
? Alteração no sistema de recompensa. Ele inclui um conjunto de estruturas cerebrais que geram prazer e que levam à repetição de tudo que é bom ou que dá certo. O cérebro adolescente experimenta o embotamento momentâneo desse sistema, o que resulta numa insatisfação generalizada e tédio. Isso é observável no adolescente que abre a geladeira e fala que não tem nada para comer ou naquele que está de férias e se queixa de não ter nada para fazer. Embora esse comportamento deixe os pais loucos, ajuda na conquista da independência, já que o adolescente passa também a supervalorizar o novo. Infelizmente, muitos comportamentos de risco podem atingir os adolescentes que estão mais vulneráveis à busca de prazeres que estimulem ao máximo o sistema de recompensa, tais como o uso de drogas, competições em alta velocidade, impulsividade e sexo. Pais atentos poderão ajudar seus filhos a buscar outras fontes de satisfação: novos livros e autores, debates motivadores, viagens, atividades sociais ou até esportes radicais com risco controlado.
? Mudanças no córtex pré-frontal. Essa região é a porção mais anterior da superfície do cérebro e é determinante no controle cognitivo e planejamento. Associa estímulos, ações e consequências, regulando em grande parte nosso comportamento. Até que essa área esteja completamente desenvolvida, os adolescentes terão dificuldade em antecipar as consequências de suas ações ou fazer planos de longo prazo. Serão mais impulsivos e distraídos. Aos poucos, mais no fim da adolescência, usarão mais as emoções na tomada de decisões, terão mais altruísmo e empatia, e aprenderão melhor com os próprios erros. Mas, por mais que desejem acertar, continuarão a dar mancadas e entrarão em enrascadas. Afinal, adolescentes possuem cérebros também adolescentes.
TALITA BORGES CASTELÃO é psicóloga clínica, sexóloga e doutora em Ciências
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Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.