Ensino que permanece

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Rede educacional adventista comemora 125 anos no Brasil

Márcio Tonetti


Programa comemorativo realizado na CPB foi marcado por batismos e pela solidariedade. Para celebrar seu 125o aniversário, a rede arrecadou 254 toneladas de alimentos que beneficiarão inclusive famílias de estudantes

A educação adventista no Brasil teve um começo modesto. Quando a primeira escola abriu as portas em um imóvel alugado no centro da capital paranaense, no dia 1º de julho de 1896, tinha meia dúzia de alunos. No entanto, contava com a visão de pioneiros como Guilherme Stein Jr., primeiro diretor do Colégio Internacional de Curitiba. Além do ensino bilíngue (português e alemão), o método de alfabetização utilizado em seus primórdios possibilitava que os egressos aprendessem a ler e a escrever em menos tempo, conforme documentou Renato Gross no livro Colégio Internacional de Curitiba: Uma História de Fé e Pioneirismo, publicado no ano do centenário da educação adventista no ­Brasil. Apesar de a unidade ter fechado temporariamente as portas em 1904, ela foi precursora de uma rede educacional que hoje, somente no Brasil, envolve cerca de 220 mil alunos e 12 mil professores, distribuídos em 300 unidades escolares (veja o mapa abaixo).

Com o objetivo de relembrar a história e celebrar os 125 anos da rede educacional adventista no país, no dia 2 de outubro a sede sul-americana da igreja realizou um programa no auditório da CPB, em Tatuí (SP), com a presença de educadores e líderes eclesiásticos. Na ocasião, Antonio Marcos Alves, diretor do departamento educacional para a América do Sul, enfatizou que, embora seja difícil estimar o alcance de todos esses esforços, muitos frutos têm sido colhidos. Aliás, durante o próprio evento realizado na editora, dois alunos foram batizados.

O processo de modernização das escolas contribuiu para a ampliação do raio de influência da educação adventista. Para se ter uma ideia, hoje 70% dos matriculados nessa rede confessional no Brasil não são adventistas. E, apesar de isso ter trazido muitos desafios, sem dúvida também gerou grandes oportunidades missionárias.

Com fachada e infraestrutura modernas, a maioria das escolas e colégios adventistas se tornou cartãopostal na paisagem de muitas cidades. Mas o principal diferencial continua sendo seu conteúdo. E o ensino fundamentado em valores cristãos é o que muitos pais têm buscado hoje, o que dá relevância à ênfase numa educação que vai “muito além do ensino”.

Uma demonstração de como esses valores são trabalhados na prática foi a iniciativa de celebrar o 125º aniversário envolvendo os alunos numa campanha que arrecadou 254 toneladas de alimentos, mais do que o dobro da meta inicial. Os donativos serão encaminhados para famílias (inclusive de alunos das escolas adventistas) em situação de maior vulnerabilidade.

“É impressionante ver como meninos e meninas se desenvolvem harmonicamente para o exercício pleno das cidadanias terrestre e celestial”, comenta Luís Roberto Halama, mestre em Geografia e professor dessa disciplina em colégios adventistas há mais de 30 anos. Casado com a professora Vilma Rodrigues Halama, que também é professora na rede, ele considera um privilégio trabalhar num contexto que favorece a prática dessa visão mais ampla. “É isso que me inspira como educador”, frisa Halama, que também é autor de livros didáticos da CPB.

Arte: Eduardo Olszewski

TRADIÇÃO E INOVAÇÃO

Ao mesmo tempo que tem procurado manter a tradição no ensino, a educação adventista no Brasil inovou em muitos aspectos. Por exemplo, a rede conta com diversos suportes digitais que ampliam o acesso da comunidade escolar a recursos tecnológicos, como jogos educativos, simulados e serviços de secretaria.

Além disso, no contexto da pandemia foi criada a plataforma de ensino a distância E-class School, que registra números impressionantes: 9,5 milhões de aulas cadastradas, 1,6 bilhão de visualizações de páginas, 156,4 milhões de ­sessões realizadas e 155,4 milhões de atividades dos alunos. Outra novidade é o E-class Play, plataforma de streaming que visa levar para a sala de aula a linguagem das séries e produções audiovisuais.

BASE DO ENSINO

Outra grande conquista, que remonta a um passado mais distante, foi o investimento no próprio material didático a partir do começo da década de 1980. Ao longo dos anos, a produção de materiais didáticos se multiplicou, fortalecendo a parceria entre a rede e a editora da igreja. Nesse período, já foram distribuídos mais de 35 milhões de exemplares, utilizados, inclusive, por outras escolas particulares simpatizantes da nossa filosofia de ensino.

O gerente da CPB Educacional, Alexander Dutra, ressalta que os livros didáticos adventistas são produzidos por professores e educadores da própria rede. “Cada texto e cada imagem são selecionados tendo em vista a filosofia, os princípios e os valores que têm norteado a educação adventista durante todo esse tempo”, sublinha.

EDUCANDO GERAÇÕES

A educação adventista moldou várias gerações da família de Vera Lúcia de Oliveira Dorl. “Sou apaixonada pela nossa filosofia de ensino”, afirma a senhora de 70 anos. Neta de colportor, Vera conta que o avô fez um grande sacrifício para que os quatro filhos estudassem no antigo Colégio Adventista Brasileiro (atual Unasp, campus São Paulo). O mais velho, Gideon, tornou-se médico. Já os outros cursaram Teologia, sendo um deles o pastor Enoch de Oliveira.

Filha do primeiro brasileiro que liderou a igreja na América do Sul, Vera também estudou durante uma década no antigo Instituto Adventista de Ensino (IAE) e só cursou a graduação fora da rede porque, na época, a instituição adventista não oferecia o curso de Letras. Porém, durante a graduação na Universidade Federal do Paraná ela teve a oportunidade de lecionar na escola que funcionava na Igreja Central de Curitiba, trabalhando ao lado dos professores Renato Gross e Nepomuceno de Abreu. Lá também adquiriu noções de gestão escolar, o que a ajudou, anos depois, na administração de duas instituições de ensino superior, as Faculdades Hoyler e Spei.

Seus dois filhos, Denison e Luciene, também cursaram a educação básica na rede. Agora, os netos estão tendo essa oportunidade. Isabela, por exemplo, estudou no Colégio do Bom Retiro, herdeiro do Colégio Internacional de Curitiba, e está cursando o ensino médio no Instituto Adventista Paranaense (IAP). Ela sonha em ser médica-missionária; por isso, sua prioridade é cursar Medicina numa universidade que a prepare para essa missão. “Além de oferecer uma boa base acadêmica, a educação adventista nos capacita para servir ao próximo. Isso eu não vejo em outras redes educacionais”, conclui a estudante.

MÁRCIO TONETTI é editor associado da Revista Adventista (com colaboração de Bruno Guimarães, servidor da CPB Educacional e especialista em marketing e comunicação)

(Reportagem publicada na edição de novembro de 2021 da Revista Adventista)