Aos 94 anos, fundador da Sociedade Criacionista Brasileira fala sobre sua trajetória e novos projetos
Márcio Tonetti
Ruy Carlos de Camargo Vieira, engenheiro mecânico e eletricista, trabalhou no ITA e lecionou na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC/USP), onde fundou o Centro de Recursos Hídricos e Ecologia Aplicada. Ele também integrou a comissão do MEC para a avaliação de escolas de engenharia e atuou como diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), impulsionando projetos como a criação de biotérios. Fundador da Sociedade Criacionista Brasileira e autor de diversos livros, o nonagenário continua ativo, com projetos como um compêndio sobre fé e ciência e a criação de um museu criacionista virtual. Confira a entrevista.
Quando surgiu seu interesse pela ciência?
Comecei a me interessar por essa área especialmente quando cursei a disciplina de Ciências Naturais, que fazia parte do currículo do ensino médio da época. Com o apoio de minha mãe, cheguei a organizar um pequeno laboratório de química na garagem de casa. Eu havia ganhado de presente um kit recreativo com substâncias químicas, que incluía uma solução de fenolftaleína, a qual se tornava vermelha, evaporava logo em seguida e a cor desaparecia. Essas curiosidades sempre me atraíram.
O senhor dirigiu uma agência de pesquisa e lecionou em uma importante universidade pública. Como foi atuar nesses espaços sendo um criacionista?
Minha atuação, tanto na universidade quanto na Fapesp, órgão financiador de pesquisa do qual fui diretor científico, sempre foi marcada pela convivência pacífica e pelo respeito mútuo. Como nunca fui atacado, nunca precisei me defender. Cito como exemplo que um dos meus colaboradores diretos na Fapesp era um renomado biólogo evolucionista. Certa vez, numa conversa amigável, mencionei que, no quintal da minha casa, havia colhido um mamão sem sementes. Brincando, ele respondeu: “Isso aí, Ruy, é Deus te mostrando que existe evolução!” Assim, nunca tive dificuldade em me relacionar com a comunidade acadêmica, mesmo sendo criacionista.
O que ainda impede um diálogo mais profundo entre fé e ciência?
Comportando-se de forma civilizada, é possível que cada um exponha seus pontos de vista sem ser atacado. O problema, portanto, não diz respeito à ciência versus religião, mas à postura daqueles que defendem suas cosmovisões.
Nos 52 anos de existência da Sociedade Criacionista Brasileira (SCB), quais foram as principais conquistas e quais são os projetos futuros?
Uma das conquistas foi a publicação de mais de 100 edições da Revista Criacionista, abordando uma ampla gama de assuntos sobre as origens (acesse: scb.org.br). Fico muito satisfeito ao ver que conseguimos alcançar diversos grupos, desde crianças até universitários e pesquisadores. Outra grande bênção foi a classificação desse acervo editorial em categorias – todo esse material valioso estará sendo divulgado no compêndio intitulado Fé e Ciência, que será composto por oito volumes de aproximadamente mil páginas cada. Nossa alegria será completa se esse conteúdo estiver disponível, pelo menos, nas bibliotecas das escolas adventistas. Essa é uma das grandes contribuições que a SCB está oferecendo às pessoas interessadas na controvérsia entre criação e evolução. Outro projeto importante envolve a transformação do rico acervo físico da SCB em um museu virtual. No entanto, precisamos de mais patrocinadores para que essa iniciativa possa avançar.
Qual mensagem o senhor gostaria de deixar para os leitores da Revista Adventista?
Hoje, muitas pessoas estão interessadas na controvérsia entre criação e evolução, e é fundamental que os adventistas adquiram uma base mais sólida a respeito do criacionismo. Esse desafio está intimamente ligado à proclamação das três mensagens angélicas de Apocalipse 14. Temos o dever de promover um estudo mais profundo da concepção bíblica das origens.
Última atualização em 7 de novembro de 2024 por Márcio Tonetti.