Adventista visível

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O movimento do advento cresceu e ganhou visibilidade, mas não está livre de problemas

02_Editorial_FotoliaEm sua edição de janeiro/fevereiro deste ano, a revista evangélica de maior circulação na América do Norte, Christianity Today, reconheceu que o movimento adventista se tornou grande demais para ser ignorado. Num artigo intitulado “The Season of Adventists” (A temporada dos adventistas), o periódico reportou o rápido crescimento da denominação, que tem conquistado mais de um milhão de membros anuais nos últimos dez anos, tornando-se a quinta força do cristianismo em número de adeptos.

A matéria também mencionou a preocupação do presidente mundial da igreja, pastor Ted Wilson, de que o sucesso do movimento o leve a perder suas “verdades bíblicas distintivas” e de que as pessoas comecem a agir independentemente, assimilem demais a cultura evangélica, copiem o “estilo pentecostal de adoração”, adotem uma “graça barata” e proclamem um evangelho genérico.

Com a marca de 18,5 milhões de membros ao redor do globo, numa proporção de um adventista para 398 pessoas, e aumentando a contagem a cada mês, o adventismo realmente não pode ser ignorado, nem está livre dos riscos de descaracterização representados pelas mudanças culturais aceleradas. Se a diversidade que vem com a adesão de pessoas de todas as tribos e culturas traz enriquecimento e dinamismo, pode também representar perigo para a identidade. Num grande contingente de conversos há pessoas em todos os estágios da fé. Deus dá o crescimento, mas a igreja precisa cuidar da “planta”.

Depois de mais de 150 anos na estrada, o adventismo está amadurecido e muito bem estruturado. Mas é preciso que cada um conheça a essência e o propósito do movimento para que sua fé se solidifique e a missão da igreja não sofra distorções. Não podemos ser como Cristóvão Colombo, que, ao partir para o Novo Mundo, não sabia para onde estava indo, chegando lá não sabia onde estava e, ao voltar, não sabia onde havia estado!

Em seu melhor, o adventista é um cristão que crê, sabe, é, pertence, envolve-se, serve e espera, num equilíbrio harmônico. Ele crê em Deus e na sua Palavra. Sabe de onde veio, onde está e para onde vai. É um filho de Deus, refletindo a imagem de Cristo. Pertence a um sacerdócio real, uma nação santa, um povo exclusivo. Envolve-se com a comunidade e os outros. Serve a Deus e à sociedade. Espera Jesus e um novo céu e uma nova Terra. Ele não esconde sua identidade no anonimato da multidão, mas torna-se visível pela personificação de suas crenças e do amor a Deus.

Ao refletir sobre o adventismo no contexto atual, precisamos ter uma noção correta de nossa identidade e missão. Nenhuma igreja pode cumprir seu papel com eficácia se não conhecer suas crenças, seus valores e seu propósito. Isso é ainda mais verdade quando se trata de um povo chamado para cumprir uma tarefa específica. Afinal, o adventismo não nasceu do nada ou do acaso, mas do coração de Deus, a fim de ajudar o mundo a se preparar para o maior acontecimento de todos os tempos – a volta de Jesus em glória e majestade.

“Em seu melhor, o adventista é um cristão que crê, sabe, é, pertence, envolve-se, serve e espera, num equilíbrio harmônico”

Diante das mudanças constantes do mundo, como temos nos comportado? Como está a transmissão de nossa mensagem no púlpito e fora dele? Num artigo para a newsletter Reflections, Elias Brasil de Souza, teólogo do Instituto de Pesquisa Bíblica, na sede mundial da igreja, fez algumas ponderações sobre os desafios de “pregar a verdade absoluta em uma sociedade relativista”. Segundo ele, a igreja enfrenta hoje o dilema entre estilos e enfoques diferentes na pregação: objetiva x subjetiva; específica x genérica; global x local; exegética x pneumática; bíblica x contemporânea; intelectual x emocional (no artigo, espiritual); vocacional x profissional; digital x analógica; biblicamente correta x politicamente correta; universal x particular.

Em cada paralelismo desses, ele favorece a primeira ênfase, embora reconheça eventuais pontos positivos na segunda perspectiva. “Nem tudo no pós-modernismo é ruim, mas alguns efeitos colaterais dele precisam de análise crítica”, avalia. O teólogo destaca que o subjetivismo que caracteriza a pós-modernidade, se for levado à sua conclusão lógica, tem um efeito devastador para a compreensão e a proclamação da verdade.

Porém, mais devastador ainda é o esquecimento de quem nós somos, por que estamos aqui e aonde devemos chegar. A matéria de capa da edição de outubro da Revista Adventista é um exercício de memória para que isso não aconteça. [Imagem: Fotolia]

MARCOS DE BENEDICTO é editor da Revista Adventista

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Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.