O farol da colina

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Os cem anos do Unasp não se resumem a um período cronológico ou recorte histórico
O pequeno colégio cresceu e se modernizou, mas não deve perder de vista sua identidade e missão. Foto: Acervo Unasp
O pequeno colégio cresceu e se modernizou, mas não deve perder de vista sua identidade e missão. Foto: Acervo Unasp

Mario Quintana, poeta de grande sensibilidade, escreveu: “A vida é tão bela que chega a dar medo, não o medo que paralisa e gela, estátua súbita, mas esse medo fascinante e fremente de curiosidade que faz o jovem felino seguir para a frente farejando o vento ao sair, a primeira vez, da gruta.”

No início de 1982, eu era como esse felino, saindo da “gruta” do Iasp, no interior, e chegando ao IAE, na capital, para sentir o cheiro das novas ideias entre os arbustos da colina e nos prados da teologia. Por certo, muitos outros jovens experimentaram a mesma sensação.

Horne Silva, Joel Sarli, Modesto Marques, Orlando Ritter, Pedro Apolinário, Siegfried Schwantes e Wilson Endruveit são apenas alguns dos nomes que transitavam pelas salas de aulas, contando histórias, apresentando informação, expondo conceitos, corrigindo erros e inspirando ideais. Isso sem falar nos mestres de outras cátedras. Com sua sabedoria, eles nos encantavam. Devagar, o medo cheio de curiosidade foi sendo aquietado pela segurança das descobertas.

O IAE foi um oásis intelectual para o jovem sedento por conhecer tudo. Ali encontrei ar, água, comida, abrigo e caminhos. Quase 30 anos depois do diploma, tenho o prazer de escrever um editorial sobre o centenário do Unasp, que se tornou um farol na paisagem do Brasil e na vida de milhares de estudantes.

Na carta que John Lipke redigiu sobre o lugar escolhido para a fundação da escola, a 23 km do centro de São Paulo, na época com 300 mil habitantes, ele comenta: “Hoje somos poucos nestas terras, mas sonho com um batalhão de jovens passando por estas colinas em busca de preparo para a vida.” O sonho foi realizado com sobra. Se o colégio começou com 12 alunos, hoje mais de 17 mil estudam nos três campi da instituição.

Para contar essa história, encomendamos a matéria de capa ao pastor e jornalista Márcio Dias Guarda, que também passou por lá e está escrevendo o livro oficial do centenário da instituição, que será lançado em outubro. Dos tempos dos fundadores John Boehm e John Lipke ao estágio atual, você conhecerá um pouco mais sobre o símbolo maior da educação adventista no Brasil.

É impossível avaliar o impacto do Unasp na vida dos estudantes que cruzaram seus portões e, por meio deles, na sociedade. A esfera de influência de uma instituição adventista é incalculável. Os primeiros adventistas sabiam disso e, mesmo temendo o institucionalismo, investiram pesado em instituições educacionais, médicas e na área de publicações, todas com o foco na missão.

Embora o mundo de hoje não seja o de 1915 e a maneira de ver a realidade tenha mudado radicalmente, perduram os princípios que nortearam a fundação do colégio: promover o desenvolvimento equilibrado em todos os aspectos, restaurar a imagem do Criador e transmitir crenças, atitudes, valores e hábitos do adventismo.

Isso não é fácil, pois o choque de ideias e cosmovisões da fé cristã e da sociedade secular, como se fosse o encontro de placas tectônicas, tem potencial para causar um terremoto. A educação hoje enfrenta desafios que jamais passaram pela imaginação dos pioneiros.

Ao longo de um século, o pequeno colégio cresceu, virou centro universitário e se modernizou. Contudo, precisa continuar se reinventando a cada ano. Transformar-se em universidade no futuro poderá ser um dos melhores presentes para celebrar a data. E, apesar de a secularização ser uma tendência nas escolas confessionais, ele nunca deve perder de vista sua identidade e missão.

Afinal, a legítima educação adventista, conforme diz Ellen White (Educação, p. 13), é mais do que o preparo acadêmico para o mercado e o presente: “Visa ao ser todo, e todo o período da existência possível ao homem.” ­Trata-se de uma educação que tem “íntima relação com a futura vida imortal” (Fundamentos da Educação Cristã, p. 231) e continuará pelos dias infindos da eternidade.

Parabéns, Unasp, por cem anos transformando expectativas em sonho, sabedoria, serviço, vida e felicidade!

MARCOS DE BENEDICTO é editor da Revista Adventista e ex-aluno do Unasp

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Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.