Um exercício sobre o período pós-pandemia e o desenho do futuro
Marcos De Benedicto
Vivemos na época do “pós”, seja como realidade, conceito filosófico, comportamento, mero desejo ou a distorção da verdade. As palavras da moda que o digam: pós-colonial, pós-verdade, pós-humano, pós-democracia, pós-apocalíptico, pós-tudo… Isso sem falar nos “pós” mais antigos ou tão corriqueiros que nem pensamos mais neles, como pós-industrial, pós-modernidade, pós-graduação, pós-venda, pós-eleitoral… Agora o mundo se prepara para o pós-pandemia. Mas parece que, apesar da nossa experiência nessa área, ainda temos dificuldade de lidar com o “pós” e as mudanças inesperadas.
Do latim post, “pós” é um prefixo usado em relação a um espaço, período ou evento em particular. Contrário de “antes”, é sinônimo de “depois”. O prefixo é o elemento que se coloca junto a uma palavra (radical) para criar um novo sentido. Quando ligamos esse prefixo “pós” à realidade diante de nós, como fica o cenário? No seu caso, como será seu período “pós”? Como será o “pós” da igreja, tema de capa desta edição? É difícil falar em “pós-pandemia” quando tantas pessoas ainda estão morrendo, mas esta reflexão visa inspirar esperança, não relaxar os cuidados nem minimizar a dor das pessoas.
Há quem acredite que o vírus apressou o futuro, pois uma pandemia tem o poder de acelerar a história, e há quem defenda que ele fez o mundo retroceder, já que perdemos riquezas. O fato é que inúmeras análises pós-pandemia apostam que a realidade não será mais a mesma, algumas mais óbvias: a cadeia de suprimentos será alterada, o comércio será reconfigurado, crescerão o home office e o ensino a distância, o contato humano será minimizado, os hábitos de consumo serão alterados, aumentará a proteção social, as empresas de alto lucro serão pressionadas a doar mais, menos será mais e aumentará o controle sobre as liberdades individuais. Queiramos ou não, o vírus já causou uma mudança.
No entanto, será que as coisas serão mesmo diferentes? Teremos vida mais simples, evitaremos viagens desnecessárias, teremos conexões humanas mais autênticas, pensaremos no impacto ambiental, cuidaremos dos mais vulneráveis, seremos mais resilientes, serviremos melhor a Deus?
O prefixo “pós” que Deus agrega à nossa vida tem o poder de alterar o sentido do nosso futuro
Às vezes, depois de uma situação de terra arrasada, temos dificuldade de lidar com o “pós” e visualizar o que vem depois. Contudo, a Bíblia sempre apresenta um bom “pós”, ainda que leve tempo. No pós-dilúvio, Noé soltou uma pomba e depois ela voltou com um ramo de oliveira, sinalizando um novo começo. No pós-êxodo, o povo passou pelo deserto e depois chegou à terra prometida. Na sua pós-calamidade, Jó teve a certeza de que o Redentor vive e que ele ainda veria a Deus. No pós-exílio, o povo deveria buscar a Deus de todo o coração e Ele o ouviria. No pós-cruz, Cristo veria o resultado do Seu trabalho e ficaria feliz. No pós-caos, Deus assegura que surgirá um novo planeta.
Você perdeu alguém, o emprego, a saúde, a fé ou a dignidade? Pois saiba que depois do vírus vem a vacina, depois do isolamento vem o abraço, depois da seca vem a chuva, depois da chuva vem o sol, depois do pecado vem a santidade, depois do lamento vem o louvor.
Muitos cenários imaginários para o pós-pandemia não passam de especulação. Mas a Palavra delineia um quadro positivo. O prefixo “pós” que Deus agrega à nossa vida tem o poder de alterar o sentido do nosso futuro.
MARCOS DE BENEDICTO é o editor da Revista Adventista
(Editorial da edição de junho de 2020)
Última atualização em 8 de junho de 2020 por Márcio Tonetti.