O evangelho é o caminho para desarmar a igreja e a sociedade
Marcos De Benedicto
Algumas partes do mundo são críticas para a paz global, como o Oriente Médio e a Ásia, principalmente o Nordeste Asiático, incluindo a China, o Japão e a Coreia do Sul. Com uma área 15% maior do que toda a Europa, essa região tem uma população acima de 1,6 bilhão de pessoas. Mas historicamente ela não tem sido um mar de tranquilidade.
O mesmo pode ser dito sobre a posição estratégica do cristianismo. Somos agentes da paz. Deus nos deu o ministério da reconciliação. Precisamos ajudar a reconectar o mundo com Deus. Mas será que isso ocorre de verdade? O cristianismo tem sido tão guerreiro quanto as outras religiões, às vezes até mais. No âmbito individual, a retórica bélica é frequente. E isso não vem de hoje.
Em seu livro Uncommon Decency (IVP, 2010, p. 49), Richard J. Mouw discorre sobre a civilidade cristã em um mundo não civilizado, o que não significa deixar de fazer julgamentos sobre o que é correto, e conta um episódio “exemplar” sobre os grandes debates entre os puritanos e os quakers no século 17: “O grande pregador puritano Richard Baxter escreveu um panfleto no qual chamou os quakers de ‘beberrões, mulherengos e desgraçados sensuais’ e outras ‘criaturas miseráveis’. E então – no caso de não tê-los insultado o suficiente – insistiu que os quakers não são melhores do que os ‘papistas’. O líder quaker James Naylor anunciou que foi compelido ‘pelo Espírito de Jesus Cristo’ a responder a essas duras acusações. E passou a caracterizar seu oponente puritano como ‘serpente’, ‘mentiroso’, ‘filho do diabo’, ‘maldito hipócrita’ e ‘cão estúpido’.” E olha que eles discutiam doutrinas. Isso que é “espírito cristão”!
No mundo polarizado de hoje, os ataques e insultos se tornaram ainda mais comuns. O pior é que alguns celebram grosserias dos outros, especialmente do mundo político, como se isso fosse parte da religião e da fé que Jesus entregou aos santos. Ser terrorista da internet é tão incompatível com o adventismo quanto ser soldado armado na guerra. Somos não combatentes também nos campos de guerra virtuais. Ou não? Deus não nos deu o mandato para matar, ainda que metaforicamente, mas para oferecer a vida. Ideologia política na igreja polariza e mata; o evangelho despolariza e vivifica.
Quando Jesus nasceu, uma multidão de anjos louvou a Deus com palavras amistosas: “Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na Terra entre os homens, a quem Ele quer bem” (Lc 2:14). Paz na Terra, paz nas famílias, paz nos corações, paz entre o Céu e a Terra. Isso é o que Deus deseja.
A missão de Cristo é “restituir à Terra e ao Céu a paz que o pecado roubou”, pontuou Ellen White (O Maior Discurso de Cristo [CPB, 2021], p. 23). “Os seguidores de Cristo são enviados ao mundo com a mensagem de paz” (p. 24). Focalizando a dimensão interior, ela observou: “É o amor ao ego que destrói nossa paz” (p. 16). Isso equivale a dizer: se você quer paz, reduza o ego, cultive a humildade de Jesus, espelhe a graça Dele em sua vida. Aproveite o clima de Natal para aprofundar e promover a paz.
Com gratidão pelos 21 anos de conquistas no período de liderança do pastor José Carlos de Lima como diretor-geral da CPB e desejando grandes bênçãos ao novo diretor, pastor Edson Erthal de Medeiros, nossa equipe também faz votos de um Feliz Natal e abençoado ano novo para você!
MARCOS DE BENEDICTO é editor da Revista Adventista
(Editorial da edição de dezembro de 2021)
Última atualização em 6 de dezembro de 2021 por Márcio Tonetti.