O cenário atual pode abrir caminho para a manifestação do poder ditatorial previsto em Apocalipse 17
Marcos De Benedicto
O mundo está pendendo para o autoritarismo. Regimes ditatoriais, sejam de direita ou de esquerda, não florescem sem personalidades autoritárias, que, por sua vez, dependem de uma predisposição autoritária da sociedade, um tipo de mentalidade que favorece a homogeneidade, não reconhece a complexidade e não tolera a pluralidade de ideias. Os maiores beneficiários são os apoiadores do regime e o círculo próximo dos autoritários.
Essa é a opinião da jornalista Anne Applebaum em seu recente livro Twilight of Democracy (Doubleday, 2020). Segundo ela, a classe intelectualizada, incluindo os ideólogos e a elite que sabe usar a linguagem jurídica sofisticada, tem um papel destacado no aumento da polarização e da intolerância. “Na Roma antiga, César mandava os escultores fazerem versões múltiplas da sua imagem. Nenhum autoritário contemporâneo pode triunfar sem o equivalente moderno: escritores, intelectuais, panfletários, blogueiros, marqueteiros, produtores de programas de TV e criadores de memes que vendem sua imagem para o público” (p. 17).
Independentemente do mérito do livro ou de qualquer viés ideológico, sem dúvida a política está mais raivosa, o que pode caminhar para a intolerância em regimes tradicionalmente democráticos. A própria eleição norte-americana, em novembro, pode ter um impacto significativo na geopolítica e no rumo da democracia. Mas como interpretar isso do ponto de vista profético?
No meio adventista, o interesse por temas escatológicos cresceu nos últimos meses. Evidências disso são as inúmeras lives, pregações e palestras sobre o assunto. Por exemplo, a convite da sede sul-americana da igreja, teólogos do Brasil e do exterior estão realizando 14 palestras sobre escatologia para pastores nos meses de setembro e outubro. Um dos temas escolhidos para esse curso é a besta de Apocalipse 17, tópico reconhecidamente difícil. Afinal, o que tem de especial esse misterioso monstro que era, não é e ressurgirá? Qual é seu papel no fim dos tempos? Quem é o oitavo rei?
“O Apocalipse é um painel pintado com habilidade por meio de símbolos que criam um sentido transcendente para a história”
Levando em conta a importância do assunto e a variedade de interpretações, a Revista Adventista pautou o tema na tentativa de lançar um pouco de luz sobre esse assunto importante e intrigante. Para fazer sentido e ser convincente, a interpretação deve ser sólida exegeticamente, prestando atenção aos detalhes, e ter coerência interna, evidenciando a simetria e a beleza da narrativa. Nossos pioneiros avançaram no estudo das bestas de Apocalipse 13, mas ainda precisamos de mais solidez em relação ao capítulo 17.
Nesse estudo é importante observar o que o próprio autor do Apocalipse diz e a maneira pela qual ele organizou sua narrativa. O apóstolo João, em sua obra-prima sobre o grande conflito cósmico, construiu uma metanarrativa coerente, unindo inúmeros retalhos das profecias bíblicas. O Apocalipse é um painel pintado com habilidade por meio de símbolos que criam um sentido transcendente para a história.
Como sabemos, uma bênção especial é reservada para quem estuda o Apocalipse: “Bem-aventurado aquele que lê, e bem-aventurados aqueles que ouvem as palavras da profecia” (1:3). A diferença entre “o que lê” (singular) e “os que ouvem” (plural) indica o ambiente da igreja, em que uma pessoa apresenta o conteúdo do livro e o público acompanha a leitura. Busquemos essa bênção!
MARCOS DE BENEDICTO é editor da Revista Adventista
(Editorial da edição de outubro de 2020)
Última atualização em 6 de outubro de 2020 por Márcio Tonetti.