A experiência radical de conversão passa pela convergência entre a ação divina e a resposta humana
Mudança súbita, como ocorreu com o apóstolo Paulo, ou transformação gradual, como aconteceu com o discípulo Pedro, a conversão é um fenômeno marcante. Experiência de deslocamento, Céu e Terra atuando juntos, psicologia e teologia interagindo, individualidade e comunidade marcando presença, trata-se de um evento que divide a vida em antes e depois.
Histórias de conversão sempre despertam interesse e emoções, pois mostram o ser humano em sua vulnerabilidade sendo tocado e trabalhado pelo Espírito Santo. Mas, nos últimos tempos, o tema também tem atraído a atenção de antropólogos, psicólogos, sociólogos e teólogos, além de outros estudiosos da academia. Se o paradigma clássico de conversão retratava uma transformação interior súbita com raízes espirituais e psicológicas, a tendência agora é enfatizar as nuances da interação social e a mudança gradual.
Pelo olhar de um sociólogo ou psicólogo, o processo pode ser um pouco mais complexo do que parece. Lewis Rambo, autor do livro Understanding Religious Conversion (Yale University Press, 1993), defende um “modelo sequencial”, que inclui contexto (o ambiente em que a mudança ocorre), crise (ruptura com a situação anterior), busca (procura de um novo significado), encontro (contato com o defensor da nova realidade), interação (negociação das mudanças necessárias), compromisso (decisão de devotar a vida à nova orientação espiritual) e consequências (efeito cumulativo de várias experiências positivas ou negativas). Esse “mapa” não é único nem definitivo, mas ajuda a entender o processo.
O mesmo autor escreve: “A conversão é paradoxal. É elusiva. É inclusiva. Ela destrói e salva. É súbita e gradual. É originada totalmente pela ação de Deus e criada totalmente pela ação dos humanos. É pessoal e comunal, particular e pública. É passiva e ativa. É um afastamento do mundo. É uma resolução de conflito e uma capacitação para ir ao mundo e enfrentar, ou criar, conflito. É um evento e um processo. É o fim e o começo. É definitiva e aberta. A conversão nos deixa devastados – e transformados.”
Apesar desses tons sociológicos e psicológicos, a conversão tem um caráter essencialmente religioso e sobrenatural. Ela envolve a mudança de cosmovisão (modo de pensar) e a transformação real da vida, o que afeta a identidade, as afeições, as atitudes, os costumes, os relacionamentos, os motivos, os interesses, as prioridades e o destino da pessoa.
Para Ellen White, a verdadeira conversão é mais do que mero sentimento ou um turbilhão emocional (Mensagens aos Jovens, p. 71). É uma “transformação do coração, um volver-se da injustiça para a justiça” (Nos Lugares Celestiais, p. 20), uma “mudança radical” (Testemunhos Para a Igreja, v. 4, p. 17), uma “transformação do caráter” (Testimonies to Southern Africa, p. 30). O primeiro passo é a convicção da real condição de pecado e da transgressão da lei (1888 Materials, p. 130). Não é apenas um evento e, portanto, precisamos de uma nova conversão cada dia (Testemunhos Para a Igreja, v. 1, p. 699). Essa “mudança só pode ser feita pelo Espírito Santo” (Nos Lugares Celestiais, p. 20) e envolve a pessoa toda.
Em seu livro Turning to Jesus (Westminster John Knox, 2002), Scot McKnight enfatiza que todos precisamos nascer de cima, mas o nascimento varia quanto ao tempo, à duração e ao grau de dificuldade. As narrativas de conversão do Novo Testamento não apresentam um modelo único, embora o exemplo de Pedro seja bastante típico. De fato, para a maioria das pessoas, a conversão é mais um processo do que um evento. O padrão pode envolver socialização na comunidade de fé, participação em ritos litúrgicos ou decisão pessoal. E o chamado de Jesus ao arrependimento e à transformação inclui até mesmo a conversão coletiva de Israel (e da igreja) aos princípios de seu reino.
Os motivos para a conversão podem ser muitos, como retomar a herança religiosa familiar, aderir a novas verdades, resolver uma crise, mudar o roteiro pessoal e encontrar um novo propósito. Porém, o mais legítimo é o reconhecimento do estado de pecado e a necessidade de salvação.
Foi para mostrar ao vivo algumas histórias maravilhosas de conversão que pautamos o tema como matéria de capa desta edição. Alegre-se com essas transformações e converta-se também! [Créditos da imagem: Fotolia]
MARCOS DE BENEDICTO é editor da Revista Adventista
Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.