Igreja aproveita momento político para levar Cristo à ilha caribenha
“Saudades de Barack Obama!”, antecipou em fevereiro o articulista David Brooks no jornal The New York Times a respeito do primeiro presidente negro dos Estados Unidos, elogiado por “irradiar” um “ethos de integridade, humanidade, boas maneiras e elegância”, em contraposição ao baixo nível da campanha presidencial deste ano.
Foi Obama quem aterrissou em Cuba, único país socialista do Ocidente, no dia 20 de março, para a primeira visita oficial de um presidente norte-americano à ilha em quase nove décadas. O encontro entre Obama e Raúl Castro não significa um realinhamento entre suas nações, nem o fim da ditadura cubana, mas um primeiro passo para a reaproximação.
O reatamento das relações entre Estados Unidos e Cuba, costurado pelo papa Francisco, tem sido visto como um sinal de abertura. No entanto, o processo pode demorar. De acordo com o relatório de 2016 da organização Human Rights Watch, o regime cubano continua reprimindo e desrespeitando direitos básicos.
Sob o céu de Cuba, uma história de sofrimento, perseverança e fé que impressionou o mundo cristão foi a de Humberto Noble Alexander. Numa noite de 1962, a menos de um quarteirão de sua casa, os faróis de seu carro iluminaram um Oldsmobile 1957 azul e branco bloqueando a rua. Ele pensou em voltar e ir por outra rua, mas outro Oldsmobile parou atrás de seu carro. Dois policiais em roupas de civis, armas na mão, ordenaram que ele os acompanhasse até o G-2, o quartel-general da “KGB” cubana. Sentado no banco traseiro do automóvel, vendo as algemas presas ao assoalho, um policial do lado esquerdo, com uma arma apontada para seu peito, outro do lado direito, ele pensou que seria um interrogatório de rotina. Lá chegando, nu e tremendo de frio diante dos captores, descobriu que a justiça não significava nada na ilha de Fidel.
Nas brechas dos poderes políticos, Deus implanta as sementes da verdade e da salvação
Falsamente acusado de conspiração para matar o ditador, o jovem pastor adventista, que tinha sido levado para um interrogatório de “cinco minutos”, passaria os 22 anos seguintes em nove prisões desumanas. Torturado ao extremo, reclassificado como fanático perigoso por resistir à “reeducação”, recebendo tiros na mão e na perna para abandonar a religião, levado para “a Sibéria de Cuba”, unido a outros cristãos, apelidado de “o pastor”, vendo homens morrerem e homens nascerem de novo, Alexander permaneceu fiel ao seu Deus dentro das portas do inferno. Sua história foi contada no livro I Will Die Free (Pacific Press, 1991). Libertado em 1984 pela intervenção do reverendo Jesse Jackson e a ação de Deus, ele, de fato, morreu livre em 2002. O primeiro sermão que Alexander pregou em solo americano ao ser libertado foi sobre a origem do pecado, o mesmo tema que havia pregado quando foi preso.
Hoje, as coisas estão melhores. A relativa liberdade religiosa em Cuba vem desde 1992, com a adoção do caráter laico do Estado. Porém, ainda há barreiras políticas e econômicas. Às vezes, os cristãos não têm dinheiro nem para comprar uma Bíblia. Apesar disso, o fervor é admirável. Na União Cubana, há mais de 32 mil adventistas. E existe até mesmo um seminário em Havana, construído pelo ministério Maranatha.
Estados Unidos e Cuba parecem opostos, mas têm pontos em comum. A potência norte-americana, em sua fase de cordeiro, oferece plena liberdade. Mas um dia, encarnando o dragão, restringirá a expressão do pleno evangelho bíblico, pois isso não será interessante para sua nova proposta política (Ap 13). Cuba, ainda seguindo o anacrônico regime comunista, adepto do ateísmo e contrário aos princípios bíblicos, tem servido aos interesses do mesmo império do mal, com a supressão da liberdade. Contudo, em ambos os cenários tem havido e haverá pessoas fiéis que fazem e farão avançar a causa do evangelho.
Nas brechas dos poderes políticos, Deus implanta as sementes da verdade e da salvação, como mostra a reportagem de Lisandro Staut. Apesar da oposição, o reino de Cristo é maior e mais forte do que todos os reinos da Terra. E as portas do inferno não prevalecerão contra ele (Mt 16:18). Um dia, todas as forças do mal serão destruídas. E os impérios da tirania darão lugar ao reino eterno de paz e liberdade. Que esse dia chegue logo!
MARCOS DE BENEDICTO é editor da Revista Adventista
Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.