O fenômeno dos influenciadores chegou às igrejas. Isso é bom ou ruim?
Marcos De Benedicto
Para o bem e para o mal, influenciamos e somos influenciados o tempo todo. Mas há um novo fenômeno que potencializou o impacto da influência: o surgimento de personalidades que usam Facebook, YouTube, Twitter, Instagram, TikTok e outras mídias sociais para mudar a maneira de pensar, consumir e viver das pessoas.
Muitos desses influenciadores digitais são celebridades ou microcelebridades que ganham dinheiro para divulgar produtos e fazer seus seguidores acreditarem que são o que não são e podem ter o que não podem comprar, se bem que há uma crescente cobrança por autenticidade e coerência mesmo nesse ambiente em que o “eu” se torna a mercadoria. Não sei se você é do tipo que compra um par de sapatos só porque um youtuber recomendou ou o algoritmo rastreou suas pegadas. Mas o fato é que os novos influenciadores têm um enorme público.
No ano passado, segundo a plataforma Emarsys, já havia mais de 3,2 bilhões de pessoas usando pelo menos uma mídia social (42% da população mundial). E, de acordo com o eMarketer, no Brasil as pessoas passam em média 3 horas e 40 minutos nas mídias sociais por dia. Isso é mais do que o tempo gasto para comer e beber!
Entretanto, o fenômeno da influência digital na sociedade como um todo não é a preocupação aqui. Nosso foco é a presença dele na igreja, algo cada vez mais comum. Em vez de subir à plataforma da igreja para falar à audiência, os influenciadores usam as plataformas da internet para atingir um grande público. Mas será que não estamos trocando o evangelho por hashtags, a velha história por stories, a pregação por postagens, as testemunhas por influenciadores, os discípulos por seguidores? O pior é que os influenciadores criam um “efeito de halo”, em que as pessoas passam a ver o todo pela parte. Que tipo de imagem de Deus, do cristianismo e da igreja eles projetam?
“Quando a vida se resume ao mundinho do influenciador, suas opiniões e seus produtos, o universo se torna pobre demais e o horizonte muito limitado”
Obviamente, a arte de influenciar pode ser uma grande bênção. Jesus era um influenciador. Paulo era um influenciador. Ele repetiu várias vezes: “sejam meus imitadores” (1Co 4:16; 11:1; Fp 3:17; 2Ts 3:7). Muito antes do surgimento dos influenciadores, Cristo destacou que nós somos o sal da terra e a luz do mundo (Mt 5:13-16). Porém, Ele não disse que somos o silício do Vale ou os bits da informação. Somos pessoas influenciando pessoas.
Por isso, é importante avaliar a qualidade dessas influências. Antes de tudo, o influenciador deve ser um bom cristão e evitar as ideologias. E, se a sua influência não for boa, talvez seja melhor ele ser “cancelado”. Influenciar para o mal pode significar morte espiritual. Infelizmente, o fenômeno tem ganhado tanta força que alguns têm se perguntado: “Será que chegou a hora de sair das mídias sociais?” Talvez não, mas, parafraseando Jesus (Jo 17), precisamos ter consciência de que vivemos no mundo virtual, mas não pertencemos a ele.
Quando a vida se resume ao mundinho do influenciador, suas ideias e seus produtos, o universo se torna pobre demais e o horizonte muito limitado. Se a cultura da celebridade continuar se expandindo na igreja, é sinal de que estamos perdendo a guerra. Como seguidor de Cristo, seja um influenciador do bem e não do mal. Quanto mais ampla for sua esfera de influência, maior será sua responsabilidade.
MARCOS DE BENEDICTO é editor da Revista Adventista
(Editorial da edição de novembro de 2020)
Última atualização em 19 de novembro de 2020 por Márcio Tonetti.