Sede sul-americana da Igreja Adventista, criada em fevereiro de 1916, chega aos cem anos com muitos motivos para celebrar
Se você fosse convidado para estruturar uma igreja, que tipo de organização proporia? Para os primeiros adventistas, o melhor seria não ter estrutura nenhuma, embora isso pareça impensável hoje. Registradas em 1844, as palavras de George Storrs de que a igreja “se torna Babilônia no momento em que é organizada” ainda ressoavam na cabeça de muitos. Os adventistas não haviam percebido que a pregação da verdade precisa de uma estrutura assim como uma flor precisa de um vaso.
Contudo, nem todos pensavam dessa maneira. Em setembro de 1852, numa visão que deu origem a um artigo publicado no ano seguinte (ver Primeiros Escritos, p. 97), Ellen White se convenceu de que, embora a “formalidade” devesse ser banida, a “ordem”, um princípio do Céu, não podia ser negligenciada.
Para o líder Tiago White foi ficando cada vez mais claro que o sucesso da missão dependia de organização. Em 1853, ele escreveu cinco editoriais na Review and Herald sobre o assunto e desafiou os rivais a encontrar pelo menos uma passagem bíblica contra a organização.
Finalmente, o bom senso prevaleceu e, em maio de 1863, a Associação Geral foi organizada. Em 1901, quando a igreja estava indo na direção oposta, com a superconcentração de poder em Battle Creek, uma tendência que Ellen White vinha criticando por dez anos, a igreja fez uma reorganização radical. Falando para os líderes logo antes dessa assembleia, ela disse: “Deus quer uma mudança […] aqui […] e agora” (Manuscrito 43a, 1901). O modelo organizacional/administrativo adotado com sucesso na ocasião é basicamente o mesmo até hoje. As Divisões surgiram em 1913.
Na estrutura formal da igreja, com quatro níveis hierárquicos (igrejas, Associações, Uniões e Associação Geral), cada esfera envolvendo uma geografia maior, as Divisões funcionam como escritórios regionais ou extensões da Associação Geral. Hoje, das 13 sedes que existem no mundo, a Divisão Sul-Americana, que está completando cem anos, tema da reportagem de capa desta edição, é uma das mais relevantes. Afinal, as sementes de fé, esperança e salvação espalhadas em nosso continente nasceram, floresceram e deram grandes frutos, alcançando a marca de 2,4 milhões de membros.
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Mais do que um fenômeno sociológico, o crescimento da igreja no continente sul-americano é um milagre com as digitais divinas
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A dimensão institucional da igreja foi fundamental para esse sucesso. Se a religião conecta as pessoas em um nível mais profundo, a organização elabora estratégias, toma iniciativas, cria projetos, facilita a missão, forma líderes, partilha valores, protege a unidade e irradia uma influência positiva por milhares de quilômetros. Uma instituição pode se tornar fossilizada, dogmática e imoral, mas, quando é legitimada e guiada por Deus, torna-se uma bênção. Embora a pesquisa Barômetro da Confiança indique que o índice de credibilidade das instituições públicas no Brasil anda bastante baixo (37%), a Divisão Sul-Americana é uma maravilhosa exceção. O melhor é que a organização tem tido a consciência de que ela não é um fim em si mesma, mas existe para cumprir a missão de anunciar o evangelho.
Entretanto, a história não é feita apenas por grandes iniciativas de governos e instituições, mas também por um mosaico de pequenos atos no varejo do dia a dia, muitas vezes no anonimato. Para esse processo, um número incontável de pessoas ofereceu sangue, suor e lágrimas, levando a bandeira do advento aos mais extremos rincões da América do Sul. Se fôssemos escolher cem pessoas para marcar a data, como a Divisão fez, não poderíamos deixar de fora muitos estrangeiros. Basta dizer que, dos 13 presidentes da entidade, apenas os quatro últimos são brasileiros!
Parabéns à Divisão Sul-Americana pelos cem anos! Suas conquistas são uma combinação de esforços humanos e milagres divinos. Porém, os milagres maiores ainda estão no futuro. [Créditos da imagem: Fotolia]
MARCOS DE BENEDICTO é editor da Revista Adventista
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Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.