A psicologia da gravidez e a influência dos pais sobre os filhos pequenos
Um espermatozoide (gameta masculino) se encontra com um óvulo (gameta feminino). De repente, a barriga da mãe começa a crescer. Ansiedade, expectativa. Mudanças no corpo da mãe, crescimento do bebê a cada semana. No primeiro trimestre, ocorre a multiplicação acelerada das células, seguida pela formação do embrião e o desenvolvimento do feto; no segundo, todo o sistema se completa, e o bebê começa a se mexer, criando momentos mágicos; no terceiro, ele ganha peso e altura. Depois de nove meses, se tudo correr bem, a mãe olha com surpresa para aquela carinha fofa, uma soma misteriosa de DNAs, e descobre quem estava dentro dela. As emoções tomam conta de todos. É o milagre da vida, que renova o ciclo da existência e transforma as pessoas para sempre.
É aí que, na opinião de muitos pais, começam os desafios. O que fazer quando o bebê chora? Quando alimentá-lo? Quem vai cuidar dele se a mãe precisar trabalhar? E quando chegar o momento de enviar o filho para a escola? Qual seria a melhor maneira de educá-lo? Como ensiná-lo a amar Jesus? E as perguntas se multiplicam.
Essas preocupações são legítimas. Porém, se você deixar para pensar no futuro do filho depois que ele nascer, estará atrasado. No livro Mente, Caráter e Personalidade (volume 1, capítulo 16), Ellen White apresenta uma série de orientações sobre as influências pré-natais. De acordo com a autora, a mãe transmite aos filhos “seus próprios traços de caráter, fortes ou fracos” (p. 134). Por mais assustador que seja, o fato é que os hábitos dos pais e até das gerações passadas afetam o futuro de seus descendentes.
Tudo isso ocorre pela força da “epigenética”. Esse mecanismo bioquímico afeta a forma pela qual os genes se expressam e tem um grande impacto ao longo da vida. Hoje a ciência reconhece que os fatores genéticos não explicam tudo. As experiências no período perinatal criam “assinaturas epigenéticas” positivas ou negativas que modulam e ativam o potencial genético (link.cpb.com.br/10ffc5).
Em vez de criticar, ore para que o poder de Deus seja maior do que a epigenética na vida de nossos filhos
Enfim, por conta disso, a criança pode se tornar mais estressada ou tranquila, insegura ou decidida, vulnerável ou resiliente. A montanha de estudos mostrando essas influências, especialmente nos primeiros mil dias, é enorme. Até medicamentos e a idade dos pais têm relevância. Do peso do bebê ao vínculo afetivo com os pais, tudo recebe uma marca. A boa notícia é que certos traços podem ser revertidos.
Devemos dar atenção especial a essa fase. Não é por acaso que a Bíblia recomenda que aproveitemos todas as circunstâncias para ensinar às crianças o amor a Deus e o caminho a seguir (Dt 6:4-9; Pv 22:6; Ef 6:4). Se o inimigo quer imprimir sua “própria imagem” detestável nos filhos (Mente, Caráter e Personalidade, v. 1, p. 136), Deus também deseja imprimir Seu caráter sublime neles. A cosmovisão bíblica, que reflete a mente e os valores de Cristo, deve ser ensinada desde a infância.
O relacionamento afetivo entre pais e filhos nos primeiros anos é o tema de capa neste mês em que se comemora o Dia das Crianças. Leia a matéria com atenção e valorize essa etapa fundamental da vida, mas guarde uma coisa no coração: não julgue as famílias disfuncionais, até porque a maioria das famílias dos heróis bíblicos era assim. O ser humano é complexo. Há pais que fazem tudo certo, inclusive nosso Pai celestial, e os filhos seguem caminhos errados. E há pais que fazem tudo errado, e os filhos fazem boas escolhas. Em vez de criticar, ore para que o poder de Deus seja maior do que a epigenética na vida de nossos filhos.
MARCOS DE BENEDICTO é editor da Revista Adventista
(Editorial da edição de outubro de 2022)