O mundo está redescobrindo o sabor das proteínas vegetais
Marcos De Benedicto
Você certamente já ouviu falar de proteínas, mas talvez não saiba que essas macromoléculas constituem 20% do nosso corpo e são essenciais para quase todas as funções das células. O consumo diário recomendado é obtido ao se multiplicar o total de quilos do peso corporal por 0,8. Assim, se você pesa 60 quilos, precisa de 48 gramas de proteína por dia, o que não é difícil de conseguir. Por exemplo, 100 gramas de soja contêm cerca de 34 gramas do nutriente.
Se no passado a caça era o símbolo da busca por proteína, hoje as coisas mudaram. Tornou-se mais fácil encontrar proteína vegetal, inclusive em redes de fast food. Mas nem sempre foi assim. Embora a dieta vegetariana (ou vegana, como diriam alguns) tenha começado no Éden (Gn 1:29) e a prática de comer apenas vegetais seja registrada desde o 7º século antes de Cristo, a palavra “vegetarianismo” se popularizou somente no século 19.
LEIA TAMBÉM: A influência global da dieta adventista
Na América do Norte, o movimento vegetariano tem duas raízes religiosas. Primeiro, em maio de 1850, a denominação metodista Bible Christian Church, sob a liderança do reverendo William Metcalfe, fundou a Sociedade Vegetariana Americana, que influenciou vegetarianos famosos como Sylvester Graham e William A. Alcott. Depois, a partir de 1863, seguindo a grande visão recebida por Ellen White em Otsego (Michigan) sobre a reforma de saúde, a Igreja Adventista do Sétimo Dia passou a promover ativamente o vegetarianismo.
Pode-se dizer que a Igreja Adventista tem sido a principal influência institucional religiosa na mudança dos hábitos alimentares modernos no Ocidente. De propriedade da igreja ou de adventistas, nomes como Sanitarium (Austrália), Granix (Argentina), Superbom (Brasil), Nutana (Dinamarca), Granose Foods (Inglaterra) e La Sierra Industries, Loma Linda Foods, Morningstar e Worthington (Estados Unidos) são responsáveis por várias linhas de produtos sem proteína animal.
Criados pelo médico John Harvey Kellogg, renomado líder do Sanatório de Battle Creek, os primeiros “substitutos” comerciais da carne, chamados Nuttose (1896) e Protose (1899), eram feitos originalmente de matérias-primas de amendoim, incorporando depois glúten de trigo, que tem uma história muito mais antiga. Por volta de 1912, a Kellogg Co. já vendia pelo menos sete produtos de glúten. Na atualidade, as opções são variadas, e estão surgindo novidades. É o que mostra a matéria de capa desta edição.
Felizmente, a oferta de alimentos vegetarianos e veganos experimenta uma explosão. Segundo um relatório da empresa de análises Research and Markets, o mercado global desses produtos gira hoje em torno de 4,6 bilhões de dólares e deve chegar a 6,4 bilhões até 2023. No cenário mundial, de acordo com um artigo publicado em 2017 na revista Foods, o consumo de proteína vegetal corresponde a 57% do total, contra 43% de origem animal. O melhor é que as proteínas vegetais vêm acompanhadas de fibras, antioxidantes e fitonutrientes.
O impulso para essa “virada de mesa” é a consciência do impacto que os produtos de origem animal podem ter na nossa saúde, além do sofrimento dos animais e do estrago no meio ambiente. Isso sem falar na influência sobre a espiritualidade. O adventismo precisa continuar a ser protagonista nessa área, oferecendo os melhores “bifes” vegetais do mercado, mas sem fanatismo, pois equilíbrio e bom senso são os melhores ingredientes das boas dietas.
MARCOS DE BENEDICTO é editor da Revista Adventista
(Editorial da edição de setembro de 2018)
Última atualização em 24 de setembro de 2018 por Márcio Tonetti.