Ex-presidente mundial da Igreja Adventista, que estava com câncer, foi um incentivador da inovação e do uso da tecnologia
O pastor Robert Stanley Folkenberg, que liderou a Igreja Adventista por nove anos na década de 1990, morreu ontem, 24 de dezembro, em sua casa em Winter Haven, na Flórida (EUA), ao lado da família. Nascido em 1º de janeiro de 1941, em Santurce, Porto Rico, onde seus pais atuavam como missionários, Folkenberg faleceu poucos dias antes de completar 75 anos, após uma longa batalha contra um câncer de cólon.
Eleito no dia 6 de julho de 1990 para ocupar o posto administrativo máximo da Igreja Adventista, a escolha de Folkenberg, então com 49 anos, foi considerada uma surpresa, pois na época ele era presidente de uma Associação e não estava entre os nomes mais cotados. Isso não acontecia desde que a igreja foi reorganizada em 1901.
Logo ele evidenciou seu lado inovador, alterando a estrutura e enxugando a máquina administrativa da igreja. “A estrutura deve ser serva da missão”, ele disse na época. Adepto da tecnologia, ele achava que a internet era um meio extraordinário para a igreja levar a mensagem do advento ao mundo e cumprir sua missão global. Sob sua liderança, a Igreja Adventista foi a primeira denominação a usar a tecnologia do CompuServe, precursor da Web, em sua rotina interna.
“O pastor Folkenberg tinha muitas ideias criativas e inovadoras em relação ao evangelismo e ao trabalho da igreja”, comenta o atual presidente mundial da igreja, pastor Ted Wilson. “Como presidente da Associação Geral, ele investiu fortemente na mídia voltada para as atividades evangelísticas e foi pioneiro no uso da internet para a comunicação interna da igreja.”
Ao mesmo tempo, Folkenberg era apaixonado pela missão, razão de ser de seu ministério. Durante sua administração, ele ajudou a lançar o projeto da Missão Global, uma iniciativa criada para estabelecer novas congregações ao redor do mundo. “Não poderíamos desejar um apoio maior para a Missão Global do que o de Folkenberg”, avalia Michael Ryan, o primeiro diretor dessa área em nível mundial.
“Participação na Missão Global não é opcional”, dizia com frequência Folkenberg, para quem o nome de Jesus precisava ser proclamado em todo lugar onde ainda não era conhecido. Cada membro, na visão do líder, era um embaixador de Cristo.
Estudo e legado
Folkenberg estudou em Porto Rico até o 4º ano e então concluiu o nível fundamental em Cuba. Depois, estudou na Califórnia e concluiu o ensino médio em Oregon no ano de 1958. Estudou ainda no Atlantic Union College, em Massachusetts, e no Newbold College, na Inglaterra, graduando-se pela Universidade Andrews, no Michigan, em 1962. No ano seguinte, completou o mestrado em teologia também na Andrews.
Piloto de avião e de helicóptero, ele voou mais de 2.000 horas, a maior parte na América Central e no Caribe, onde desenvolveu muitos anos de seu bem-sucedido pastorado. No território da Divisão Interamericana, seu currículo engloba várias atividades ministeriais e administrativas. Ele foi pastor no Panamá (1966-1968), diretor de mordomia na Associação do Panamá (1968), presidente da Missão de Honduras (1970), secretário (1974) e depois presidente da União Central Americana (1975). Em 1980, tornou-se assistente do presidente da Divisão Interamericana. De 1985-1990, antes de ser eleito presidente mundial da igreja, foi presidente da Associação da Carolina.
Em 1992, quando ele visitou a Casa Publicadora Brasileira, pareceu-me menos carismático e caloroso do que o presidente anterior, Neal Wilson, que também havia nos visitado (mais tarde, fiz uma matéria na Universidade Andrews com o filho dele, Robert Folkenberg Jr, que hoje lidera a igreja na China). Porém, as pessoas que conviveram de perto com ele falam de sua amizade e grande interesse humano.
Libna Stevens, diretora assistente de comunicação da Divisão Interamericana, relembra que Folkenberg era capaz de voar de Guatemala para a Costa Rica, onde seu pai administrava um colégio, para ver como as coisas estavam. “Antes de voltar, ele visitava nossa casa muitas vezes para tomar desjejum. Ele adorava mandioca e, com um grande sorriso, ia diretamente até a cozinha para fritar cebola enquanto minha mãe cozinhava.” Libna diz que o líder sempre tirava tempo para conversar com ela e sua irmã.
Hilda Matar-Montero, que trabalha na Divisão Interamericana desde 1977, também relembra que Folkenberg, mesmo depois de ter sido eleito presidente mundial da igreja, achou tempo em sua agenda intensa para oficiar seu casamento. “Ele era um amigo verdadeiro.”
Matar-Montero manteve contato com Folkenberg ao longo dos anos e falou com ele por telefone no dia 9 de dezembro. “Eu disse-lhe que todos nós estávamos orando por ele”, ela conta. “O tempo é tão curto, Hilda, mas eu estou pronto”, replicou o pastor.
Folkenberg morreu tranquilamente à 13h35 da quinta-feira, 24, rodeado por sua família. Seus últimos dias foram cheios de paz, revela sua filha Kathi Folkenberg Jensen, enfermeira. Ele deixa a esposa, Anita Emmerson, e dois filhos, Robert Jr. e Kathi, e seis netos. O funeral será no dia 10 de janeiro, às 16h, na Igreja Adventista de Avon Park, na Flórida. O pastor Ted Wilson oficiará a cerimônia.
O pastor Jan Paulsen, eleito presidente mundial da igreja em 1999, quando Folkenberg renunciou à função, o descreve como “um homem cheio de ideias, alta energia e espírito agradável”. “Ele designava responsabilidades para seus colegas e então dava espaço e tempo para que desempenhassem as tarefas”, acrescenta Paulsen. “A microgestão não era o estilo dele.”
Para Paulsen, o maior legado de Folkenberg, que após deixar a sede mundial da igreja criou o programa missionário ShareHim, é seu amor pela missão.
[Marcos De Benedicto com base em texto de Andrew McChesney, da Adventist Review, e equipe da ANN. Créditos das fotos: Adventist Review / Arquivos Adventistas]Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.