Não basta dizer que as novas gerações não têm fé. É preciso acreditar na juventude e investir em seu futuro

O crescimento exponencial do cristianismo no Sul Global tem levado alguns a afirmar que este é o melhor momento da fé cristã na Ásia, África e América do Sul. Mas do outro lado do mundo a situação não está tão boa. Em muitos países do Ocidente a geração Z está deixando as igrejas em massa. O fenômeno é complexo e atinge muitas denominações.
Diante desse problema, o que a igreja pode fazer? A matéria de capa desta edição tem o objetivo de discutir essa questão. Reconhecemos que o tema é polêmico e que não existem muitas certezas. No entanto, o assunto é importante demais para que fiquemos em silêncio. Enquanto a reportagem trabalha com o tópico de forma mais analítica, eu irei enumerar algumas coisas que, caso eu fosse jovem, gostaria de ver na minha igreja:
- Saiba quem são os jovens. Hoje é até difícil dizer quem é jovem, pois não temos claros “ritos de passagem” para indicar o momento em que um indivíduo deixa um grupo e passa a pertencer a outro. Mas é preciso conhecer nosso tempo e entender como os jovens se relacionam a ele, uma vez que a juventude está na vanguarda das mudanças. As respostas de ontem não são suficientes para as perguntas de hoje.
- Afirme o valor do jovem. Muitos jovens vivem na periferia existencial. Precisam de uma palavra de afirmação e conselho, com autenticidade, abertura e atenção individual, no estilo pastoral de Jesus. Querem proximidade, humildade, interesse sincero, abertura, aceitação, espaço, oportunidade, apoio, programação inteligente, projetos desafiadores.
- Torne a igreja relevante. Ela deve ter credibilidade. O jovem precisa confiar que a igreja, além de ensinar a verdade e oferecer a salvação por meio de Cristo, é um lugar seguro e bom para o futuro dele. A igreja deve apostar numa visão transcendente e ajudar o jovem a descobrir o propósito da existência. A vida centralizada no eu faz parte da matriz do pecado.
- Apoie os movimentos jovens. Quem se importa investe tempo e dinheiro. Não feche a porta para as iniciativas dos mais novos. A cabeça da juventude tem sido um território fértil para ideias sensacionais. Em um artigo no The Journal of Youth Ministry em 2014, Mark H. Senter III afirmou que “nenhuma mudança substantiva no ministério jovem veio da academia”. Os acadêmicos apenas aperfeiçoaram o que já existia.
- Organize um exército. Não para combater e matar, mas para ajudar e salvar (ver Ellen White, Educação, p. 271). Um exército do evangelho, caracterizado pelo poder do Espírito Santo, tem o potencial para fazer uma revolução do bem e explodir as trincheiras das forças do mal.
- Crie um ambiente santificado. Os jovens vão para a igreja ou permanecem nela não porque veem um lugar mais parecido com o mundo, mas porque percebem um ambiente mais semelhante ao Céu. Levar o mundo para dentro da igreja na tentativa de impedir que os jovens saiam dela é o caminho mais curto para colocá-los no mundo. Igreja é lugar de alegria autêntica, mas não de entretenimento falso.
- Saiba que a decisão, em última instância, é do jovem. Os pais e a igreja podem fazer tudo certo e, ainda assim, dar tudo errado. Há um contexto sociocultural que afeta as escolhas, mas a decisão de ficar ou sair é de cada um. Por isso, um dos papéis fundamentais da igreja é interceder intensamente pelos jovens.
- Abrace os que erram. Algum dia, muitos jovens voltam – cheios de escoriações e arrependimentos. Como ensina a parábola do filho pródigo (Lc 15), considerada o evangelho em uma cápsula, a atitude a ser demonstrada para com os que deixam a casa e decidem regressar é a do Pai, e não a do irmão mais velho, que tenta usurpar a autoridade paterna e peca sem nunca ter saído de casa. Revele graça mesmo quando o jovem causar desgraça. Para cada filho pródigo, mostre um amor pródigo. Se a igreja for uma casa apenas para os puros e santos, os pecadores continuarão sem teto.
Cuidar dos jovens de nossa igreja é um trabalho integrado de família, igreja e escola, que podem criar pontes entre as gerações. Isso tem um custo, mas o investimento traz dividendos para a eternidade.
MARCOS DE BENEDICTO é editor da Revista Adventista
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Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.