Existe algo bem melhor do que o álcool para alegrar o coração
Marcos De Benedicto
O garçom se aproxima e oferece uma garrafa de vinho para o cliente adventista sentado à mesa do elegante restaurante. No avião, a comissária de bordo repete a oferta. Aceitar ou não? Afinal, com toda a sua glamorosa história, essa bebida não representa um legado cultural da antiguidade, cujo consumo tem sido validado pela ciência?
Infelizmente, alguns cristãos têm relativizado o preceito bíblico para não ingerirmos bebidas alcoólicas. No entanto, mais uma vez, a ciência comprova o acerto da revelação divina, como mostra a matéria de capa edição de outubro da Revista Adventista. Um novo estudo global, realizado em 195 países e publicado na prestigiada revista The Lancet, chegou à conclusão de que mesmo um drinque (o equivalente a 10 gramas de álcool puro) faz mal. Enquanto duas doses por dia aumentam em 7% a probabilidade de lesões e doenças como o câncer, cinco doses diárias elevam o risco para 37%. Esse é o mais importante estudo já realizado sobre os efeitos do álcool na saúde humana.
Que o álcool faz mal sabe-se há muito tempo. Por isso, na América do Norte, no início do século 19, surgiram várias iniciativas para limitar ou banir o uso de bebidas alcoólicas. Por exemplo, o trabalho da Sociedade Americana de Temperança, fundada em 1826, causou um impacto expressivo. No livro Revolução na Saúde (CPB, 2018), Dores Eugene Robinson relata os resultados obtidos pelos ativistas da abstinência: “Em menos de uma década, eles conseguiram formar cerca de 5 mil sociedades locais, com mais de 1 milhão de membros. Milhares de fabricantes de bebidas foram levados a encerrar as atividades, e mais de 6 mil varejistas interromperam as vendas. Cinco mil bêbados – supostamente incuráveis – foram recuperados, e 700 navios passaram a navegar sem o uso de bebidas alcoólicas. Os periódicos sobre temperança foram numerosos” (p. 28).
A partir da segunda onda pela proibição da venda de bebidas alcoólicas nos Estados Unidos em 1873, os adventistas também assumiram o protagonismo nessa causa, o que mostra que já fomos mais ousados. Ellen G. White se tornou uma ativista pública em favor da proibição e da abstinência total, cooperando com a União Feminina de Temperança Cristã (WTCU, em inglês). Para ela, os adventistas deveriam estar “na dianteira de toda verdadeira reforma” (Review and Herald, 29 de agosto de 1907).
Na perspectiva adventista e bíblica, o cristão não deve tentar alterar seu estado de humor pela ingestão de qualquer substância, mas pode ser transformado pela presença do Espírito. Essa é a ordem inspirada de Paulo: “E não vos embriagueis com vinho, […] mas enchei-vos do Espírito” (Ef 5:18). O modo do verbo aqui é imperativo (um comando), a forma é plural (se aplica a todos), a voz é passiva (somos enchidos) e o tempo é presente contínuo (a ação deve ocorrer agora e continuar). Ambas as “substâncias” mudam nossa maneira de agir, mas, enquanto o álcool degrada, o Espírito eleva. Se o vinho põe tolice na boca, o Espírito cria louvor no coração (v. 19). Assim, não encha a taça com bebida espirituosa, mas transforme-se em uma “taça” para o Espírito.
MARCOS DE BENEDICTO é editor da Revista Adventista
(Editorial da edição de outubro de 2018)
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Última atualização em 19 de outubro de 2018 por Márcio Tonetti.