A questão do uso dos dons na igreja requer mais atenção de líderes e membros
“Pastor, deixa que eu dou o dízimo pelos demais membros.” Se você ouvisse alguém dizer isso, acharia estranho, não é? Porém, quando poucos alcançam o alvo de batismos e os demais se “escondem” à sombra desses missionários, é como se estivéssemos concordando com o fato de que o “polpudo” dízimo de alguns pudesse suprir a infidelidade dos demais.
A realidade é que a igreja tem valorizado mais o grande resultado de poucos do que a efetiva participação de todos. Em outras palavras, poucos estão salvando alguns e muitos não estão salvando ninguém.
Esta condição tem sido evidenciada de algumas formas:
1- Sabiamente há uma estrutura disponível para promover e registrar os bens, mas o mesmo nem sempre acontece com os dons.
2 – A cada sábado, os membros adoram com os bens no momento das ofertas, mas não se considera tão necessário adorar com os dons na hora da chamada do ministério pessoal.
3 – Há uma equipe para incentivar o sábio uso dos bens, mas falta uma equipe para visitar também os infiéis no uso dos dons. A igreja precisa ter testes de dons disponíveis aos membros assim como possui os envelopes de dízimos.
4 – O calendário denominacional contempla um sábado específico para desafiar os membros a devolver ao verdadeiro dono aquilo que lhe pertence. E o que dizer daqueles que estão com a dedicação dos dons atrasada, ou que nunca levaram alguém a Cristo, ou ainda aqueles que os enterraram num passado bem distante? Não deveria o Senhor receber também o fruto dos dons atrasados? O “dia de pôr em dia” também deveria aplicar-se à área missionária.
5 – O que as igrejas fazem quando há dinheiro de sobra no caixa? Algumas melhoram o seu próprio templo, e outras, mais missionárias, constroem novas igrejas. E quando há dons sobrando na própria igreja? Estas igrejas fazem esforços missionários enviando pessoas para fortalecer outras igrejas mais carentes ou os enterram nos bancos da própria igreja?
6 – Quando o membro recebe uma bênção, sabiamente decide dar uma oferta especial como forma de gratidão. Se a bênção aumenta, o pacto também cresce proporcionalmente. Por que não decidir também levar alguém para Cristo, dedicando mais tempo para a missão, ou ampliar os dons?
A maioria dos membros da igreja entende que não deve ser fiel nos bens apenas em alguns meses do ano ou ao longo de alguns anos da vida, mas sempre. A mesma leitura necessita ser feita em relação aos dons. Infelizmente, uma grande parte para de trabalhar porque o interessado já foi batizado, ou porque o cansaço, o estresse nas atividades seculares ou mesmo a velhice bateram à porta.
Não há dúvidas: Deus é honrado pela fidelidade nos dízimos e ofertas mesmo que o salário seja pequeno (Mc 12:42-44). Mas e se o dom não for o de pregar, cantar, liderar ou qualquer outro de “projeção”? Estaria a pessoa dispensada da entrega dos demais dons?
Os dons espirituais consistem nos maiores legados enviados pelo Céu à igreja. É o sacerdócio de todos os crentes. Quem está administrando essa conta? Estão os dons sendo multiplicados e potencializados? Ou eles vêm sendo desperdiçados? Estão os líderes administrando sabiamente esse sublime valor confiado à igreja? A igreja tem crescido no envolvimento dos membros nos dons espirituais?
O apelo para se ofertar e dizimar não deve estar na necessidade da igreja, mas na necessidade do doador. Da mesma forma, a entrega dos dons não deve estar focada simplesmente no benefício proporcionado ao outro, mas na necessidade da participação de cada sacerdote.
Ser fiel na devolução dos recursos a Deus deve, sim, continuar merecendo ênfase na igreja. Mas entregar os dons a Ele precisa ser encarado como algo indispensável por todo aquele que deseja continuar sendo membro do corpo de Cristo. O conselho bíblico de Mateus 23:23 também se aplica aqui: “Fazei isto sem omitir aquilo”. [Créditos da imagem: Fotolia]
Marlinton Lopes é presidente da Igreja Adventista para a região Sul do Brasil
Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.