Igreja promove nos Estados Unidos conferência sobre saúde emocional
Há mais de um século e meio, a Igreja Adventista do Sétimo Dia defende a ideia de que a saúde integral depende do cuidado do corpo, da mente e do espírito (ou natureza espiritual). Ocorre que muita ênfase é dada à saúde física, haja vista as inúmeras publicações a respeito disso e a explosão de academias das mais diversas modalidades. E se a pessoa é religiosa, a vida espiritual também será levada em grande consideração. Mas o que dizer da saúde emocional? Das três áreas básicas que integram a vida humana, essa parece ser a mais negligenciada. Pensando nisso, líderes das Divisões Norte-Americana (DNA) e Sul-Americana (DSA) da Igreja Adventista decidiram realizar um congresso justamente sobre saúde mental. O Health Summit deste ano começou ontem à noite e vai até o dia 17, com o tema “Emotional Wellness – Sharing Wholeness, Serving All”. O local escolhido foi Orlando, na Flórida, para onde 214 participantes e 19 expositores se dirigiram, vindos de várias partes dos Estados Unidos, Canadá, América do Sul, Europa e até da Rússia.
O perfil do público é bem variado: há diversos profissionais de saúde (médicos, psicólogos, terapeutas, conselheiros), pastores, líderes e voluntários de ministérios de apoio da Igreja Adventista. E o objetivo dos organizadores, além de promover a importância do tema saúde emocional, é prover atualização técnica numa perspectiva cristã para lideranças da igreja e proporcionar o intercâmbio multiprofissional e multidisciplinar a respeito do assunto.
Segundo o Dr. Marcello Niek Leal, diretor do Ministério da Saúde da Divisão Sul-Americana e um dos organizadores do evento, saúde mental compreende duas perspectivas diferentes: uma visão cognitiva, relacionada com a mente, o intelecto e a consciência; e uma visão emocional, relacionada com a emoção, o sentimento e o humor. “Nesta conferência, estaremos dando destaque para o aspecto da saúde emocional”, diz ele. “Esse é um tema relevante e atual, mas, infelizmente, ainda muito mal compreendido e de alto impacto na saúde dos indivíduos de modo geral”, reforça.
Niek garante que, inclusive no meio adventista, tem sido observada uma demanda crescente por esse assunto, “uma vez que, refletindo a sociedade moderna, muitos de nossos irmãos e pastores que têm sofrido nessa área têm encontrado alguma dificuldade em obter informações e apoio especializado cristão”.
Os adventistas entendem que a saúde emocional é parte fundamental do bem-estar do ser humano. Por isso mesmo, a igreja desenvolve no mundo todo uma série de programas e projetos de apoio à comunidade em geral. Essas atividades incluem (mas não estão limitadas a) programas de prevenção de suicídio, combate à depressão, superação de traumas e abusos, superação de vícios, etc. Mas muito mais pode e precisa ser feito. Daí a necessidade de encontros como o Health Summit, no fim do qual será apresentada uma lista de propósitos e planos a serem executados.
Na primeira noite do encontro, um convidado especial marcou presença e falou aos participantes. O Dr. Vivek Murthy é o Surgeon General dos Estados Unidos, o cargo médico de mais alta autoridade em saúde pública no país, com a tremenda responsabilidade de liderar o Serviço de Saúde Pública. Não há um equivalente direto no Brasil, mas seria algo como um diretor médico geral do Ministério da Saúde, e não o ministro em si, que é um cargo mais político.
Murthy destacou a relevância do trabalho da Igreja Adventista para a saúde pública e para o fortalecimento da comunidade. Além disso, ressaltou que a saúde emocional é condição fundamental para o bem-estar do ser humano, uma vez que é impossível pensar em saúde sem uma visão integral. Ele concluiu exortando a liderança adventista a orar, e prometeu que também estaria orando pelos projetos da igreja e atuando em seu departamento para apoiar as iniciativas em favor da saúde emocional.
A brasileira Katia Reinert é diretora associada para o Departamento de Saúde da Associação Geral e principal organizadora do congresso. Para ela, que tem um PhD em Enfermagem pela Universidade Johns Hopkins, o equilíbrio das emoções vem da nossa capacidade de interagir com as pessoas e com as situações decorrentes dessas relações. “Relacionamentos estáveis, em que as pessoas se interessam umas pelas outras, cuidam e se sentem cuidadas, respeitam e são respeitadas, proveem as condições necessárias para o equilíbrio emocional”, afirma Katia.
Nesse sentido, na visão dela, cada igreja deve ser um centro de influência positiva para a criação desses núcleos de relacionamentos estáveis. “Temos essa visão; temos a estrutura organizacional de nos agrupar em pequenos grupos, que promovem relacionamentos saudáveis; temos o conceito de missão (serviço) bem aplicado; então, a igreja se tornar um centro de difusão de saúde emocional passa a ser apenas consequência disso”, Niek concorda.
Depois do discurso do Dr. Murthy, foi a vez do médico e pastor Peter Landless falar sobre a filosofia de saúde dos adventistas. O Dr. Landness é diretor do Departamento de Saúde da Associação Geral e argumentou que “a filosofia de saúde adventista é a visão cristã da saúde integral, que só pode ser inteiramente vivenciada por meio da restauração promovida por Deus”. E disse mais: “A mensagem de saúde da Igreja Adventista não é sobre comer, beber ou dormir bem, mas sobre uma visão integral que abrange mente, corpo e espírito. Compartilhar a saúde integral e servir aos outros é o nosso propósito.”
De acordo com o diretor, “nosso modelo de saúde é o de Jesus Cristo (Mt 9:35-37), e os pontos-chave para esse modelo são esperança, compaixão e cuidado”. Afinal, Jesus passou mais tempo curando do que ensinando.
MICHELSON BORGES, enviado especial, é editor da revista Vida e Saúde
Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.