A tragédia humana

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Entenda por que a cruz é nossa única segurança de que um dia, finalmente, toda a maldade do mundo chegará ao fim
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Foto: Georgina Coupe/site Fotos Públicas

“Mas quem é que está preparado para o impossível que vai acontecer? Quem é que está preparado para a tragédia e para o absurdo do sofrimento? Ninguém! A tragédia do homem despreparado para a tragédia – esta é a tragédia do homem comum”. Essas frases de Philip Roth, em seu livro Pastoral Americana, vieram à minha mente neste mês de novembro, enquanto acompanhava as informações sobre dois acontecimentos que atraíram a atenção da mídia internacional: o atentado terrorista em Paris e o rompimento das barragens da mineradora Samarco, em Mariana (MG).

Tragédias dessa natureza provocam um clima geral de consternação e despertam o senso de solidariedade humana. As iniciativas de apoio às vítimas chamaram minha atenção, a exemplo da campanha empreendida pela Agência de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA Brasil) em favor dos desabrigados em Mariana e dos que sofrem com o ocorrido. Porém, fiquei refletindo especialmente sobre as comparações com desastres similares, as quais pude acompanhar em alguns pequenos artigos de notícias. Certo dia, após o atentado terrorista em Paris, o portal Exame.com trouxe a manchete: “Os números do maior ataque contra a França após a 2ª Guerra”; e a página do Fantástico, no portal G1, referiu-se à tragédia em Mariana como “o maior desastre ambiental de MG”.

No ritmo das comparações, acabei me lembrando de outros acontecimentos. Os ataques de 11 de setembro de 2001 contra os Estados Unidos são quase unanimemente considerados o maior atentado terrorista da história. Por sua vez, a explosão de um dos reatores da usina nuclear em Chernobyl, Ucrânia, em 26 de abril de 1986, é vista como o pior desastre ambiental da humanidade. Outro acidente, ocorrido em 2 de dezembro de 1984 em uma fábrica de pesticidas na Índia, provocou a morte de mais de 15 mil pessoas, e afetou diretamente a vida de outras 500 mil, em função das doenças causadas pela emissão de 45 toneladas de metil isocianato na atmosfera, um produto altamente tóxico e destruidor. E o que dizer do holocausto, as guerras mundiais e tantos outros fatos na história que nos deixam perplexos?

A lista poderia crescer a um número extremamente elevado. Porém, tudo isso se torna inexpressivo diante da maior tragédia humana, a qual remonta a um tempo muito distante. De fato, ela está registrada na Bíblia, e é mencionada inúmeras vezes para que não a percamos de vista. O apóstolo Paulo a resumiu da seguinte forma: “Assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram” (Rm 5:12).

Todos os traumas humanos são meros desdobramentos da tragédia primordial. Quando o infortúnio bate à porta da nossa casa, quando o sofrimento atinge em cheio pessoas a quem amamos, ou mesmo quando ele afeta pessoas que não conhecemos – mas com quem nos identificamos simplesmente por serem tão humanos quanto nós – queremos dar um basta a tudo. Porém, um problema mais sério precisa ser tratado: a maldade no coração do homem.

A Bíblia diz que a entrada do pecado no mundo não pegou Deus de surpresa. Retornando à pergunta de Philip Roth: “Quem é que está preparado para a tragédia e para o absurdo do sofrimento?”, a resposta é: Deus está! Quando João Batista viu Jesus pela primeira vez, prontamente declarou: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1:29). Por sua vez, o livro do Apocalipse nos leva para um tempo antes da criação do homem, e apresenta o “Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Ap 13:8). Paulo confirmou a ideia, declarando que a graça nos foi dada em Cristo Jesus, “antes dos tempos eternos” (2Tm 1:9; ver também Rm 16:25; Ef 1:4; Tt 1:2). A ideia por trás de todas essas passagens bíblicas é que havia um plano de emergência traçado em caso de corrupção da raça humana. Esse plano encontra seu ponto decisivo na cruz de Cristo.

Deus criou as coisas para o uso humano, mas criou o coração humano como um lugar para Sua própria habitação. As coisas não deveriam ocupar o lugar interior. Mas o pecado entrou no mundo, e com ele a inversão de valores. A tragédia primordial humana foi tão além de qualquer desastre que possamos imaginar, que nada menos que a morte do Filho de Deus se tornou necessária para reverter seus efeitos.

Por essa razão, conforme mencionou certa vez o famoso evangelista Billy Graham, a cruz é uma ofensa porque confronta as pessoas em suas atuações diárias, mas essa é uma confrontação a qual todos têm que enfrentar. Na cruz, o pior do homem e o melhor de Deus se encontraram. Ela é nossa segurança de que um dia, finalmente, toda a maldade do mundo chegará ao fim. O Céu será nosso lar definitivo e um feliz retorno ao estado original de toda a criação de Deus.

NILTON AGUIAR, mestre em Ciências da Religião, é professor de grego e Novo Testamento na Faculdade Adventista da Bahia e está cursando o doutorado em Novo Testamento na Universidade Andrews (EUA)

Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.