Nada novo debaixo do sol

3 minutos de leitura
Apesar de as mudanças no calendário virem acompanhadas de velhos dilemas, não podemos perder de vista a esperança em um “novo céu e uma nova terra” 

nada-novo-debaixo-do-sol

Queda no preço das ações da Petrobrás motivada pelos constantes escândalos da corrupção; conflitos entre as nações, como o rompimento das relações entre Arábia Saudita e Irã; alagamentos decorrentes das chuvas de janeiro e centenas de desabrigados; cobertura exagerada da mídia sobre determinados fatos, como o falecimento do pop star do rock, David Bowie. Enquanto isso, outros assuntos de interesse geral são relegados a um segundo plano. E o que dizer dos milhares de preservativos que já começaram a ser distribuídos pelo Brasil afora como um dos preparativos para o Carnaval 2016? Algo diferente do que já vimos nos anos anteriores? Os personagens podem até ser outros, mas, ao que parece, o ano “novo” começa sem muitas novidades. Como dizia o sábio Salomão, “não há nada novo debaixo do sol” (Ec 1:9).

O ritmo repetitivo que envolve a vida cotidiana me fez lembrar o seguinte pensamento de Ed René Kivits: “Como vive a pessoa para quem a vida se tornou uma repetição enervante e chegou ao fastio da mente e das sensações? Experimenta sempre o mesmo e chega sempre no mesmo lugar? Como vive a pessoa que pensa sobre a vida, que se debruça para observá-la e chega à conclusão de que tudo o que vai acontecer já aconteceu? Como vive a pessoa para quem a vida não traz nenhuma novidade, cuja única expectativa é ver hoje o que já viu ontem? Essa pessoa vive com tédio”.

Quando eu era criança, uma pergunta que me causava certa inquietação estava relacionada com o que faremos durante toda a eternidade. Às vezes, me pegava imaginando: será que o Céu não se tornará um lugar entediante? Afinal, que atividade será infinitamente empolgante para que supere o tédio de se ter todo o tempo pela frente?

Com o passar dos anos, essa questão parou de me incomodar. Afinal, como diz Paulo, por ora vemos apenas como em espelho, obscuramente (1Co 13:12). Isso significa que não temos condições de avaliar quanto o Céu será agradável, tão agradável que, creio eu, palavras do tipo “tédio” simplesmente deixarão de existir.

Em todo caso, a Bíblia nos dá uma pista de como será nossa vida na eternidade: “Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação” (2Co 4:17). O que significa exatamente esse peso eterno de glória? Sinceramente, não sei. Estou ansioso para descobrir! A única coisa que sei é que, como diz Ellen White, “Ali… todas as faculdades se desenvolverão, serão ampliadas todas as capacidades. A aquisição de conhecimentos não cansará a mente nem esgotará as energias. Ali os mais grandiosos empreendimentos poderão ser levados avante, alcançadas as mais elevadas aspirações, as mais altas ambições realizadas; e surgirão ainda novas alturas a atingir, novas maravilhas a admirar, novas verdades a compreender, novos objetivos a aguçar as faculdades do espírito, da alma e do corpo”.

Tudo isso acontecerá ali, não aqui. Se quisermos falar de um lugar entediante, falemos deste mundo. É oportuna a pergunta de Salomão: “Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo?”. Ele mesmo responde: “Não! Já foi nos séculos que foram antes de nós” (Ec 1:10).

Em contrapartida, o livro do Apocalipse fala a respeito de “um novo céu e uma nova Terra” (Ap 21:1). O próprio Jesus afirma: “Eis que faço novas todas as coisas” (Ap 21:5). Ellen White acrescenta que “no plano da redenção há alturas e profundezas que a própria eternidade não pode exaurir”. Isso por si só já é razão suficiente para que alguém abandone completamente a ideia de que seja possível entrar no Céu qualquer centelha do enfado que impera neste mundo.

Quando releio os dois últimos capítulos do Apocalipse, fico impressionado com o fato de que, embora João tenha trazido informações de como será a Nova Jerusalém e a nova ordem sem pecado, ele preferiu se concentrar na pessoa de Jesus. Na verdade, as últimas palavras da Bíblia não são as palavras de João, mas as palavras de Jesus. Há um tom de urgência em Sua voz. Três vezes Ele menciona que virá outra vez (Ap 22:7,12, 20). E então concluo que João terminou assim seu livro porque sabia que a única forma de ocorrer tudo o que está descrito nos dois últimos capítulos é por meio da volta de Jesus.

Além da informação de que virá outra vez, Jesus transmite um conselho e uma promessa. Na primeira vez, Ele diz: “Venho sem demora. Bem-aventurado aquele que guarda as palavras da profecia deste livro” (o conselho). Na segunda vez, Ele diz: “Eis que venho sem demora, e comigo está o galardão que tenho para retribuir a cada um segundo as suas obras” (a promessa). Na terceira vez, apenas a reafirmação de Sua vinda: “Certamente, venho sem demora”. A resposta de João foi: “Amém! Vem, Senhor Jesus!” Qual é a sua resposta neste novo ano? [Créditos da imagem: Fotolia]

NILTON AGUIAR, mestre em Ciências da Religião, é professor de grego e Novo Testamento na Faculdade Adventista da Bahia e está cursando o doutorado em Novo Testamento na Universidade Andrews (EUA)

Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.