Os robôs sexuais e a decadência moral da humanidade

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No tempo em que tecnologias têm sido criadas para estimular a prática distorcida da sexualidade, entenda por que a Bíblia é tão enfática ao condenar as relações ilícitas
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O site do Jornal do Brasil publicou neste mês um artigo sobre uma das últimas novidades da indústria do sexo: os robôs sexuais. Esse tipo de produto existe desde 2010, quando foi apresentada ao público a “primeira namorada robótica em tamanho real”, resultado de anos de pesquisa e milhões de dólares investidos. Previstas para estarem disponíveis no mercado até 2017, as máquinas terão a “habilidade” de falar e responder a estímulos.

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Algumas versões mais sofisticadas poderão custar 15 mil dólares, aproximadamente 40 mil reais. Apesar do alto custo, a expectativa de vendas está causando muita euforia. Segundo David Levy, autor de Love and Sex with Robots (Amor e Sexo com Robôs), estima-se que, em 2030, a maioria das pessoas no mundo terá algum tipo de envolvimento com sexo virtual na mesma frequência com que se envolve com pornografia atualmente. E em 2050 as relações sexuais com robôs se tornarão tão populares que as pessoas não considerarão isso uma traição. Levy chega a cogitar a possibilidade de que as pessoas se casem com robôs no futuro.

Protestos contra essa nova tendência têm vindo de diversas partes. “Sexo com robôs pode se tornar um vício”, comentou o especialista em robótica Joel Snell em reportagem publicada no site do jornal britânico Daily Mail. “Robôs sexuais estarão sempre disponíveis e não poderão dizer ‘não’, de modo que o vício será facilmente alimentado”, ele acrescenta. Por sua vez, Kathleen Richardson, uma especialista em ética quanto ao uso de robôs, defende que a novidade reforça estereótipos tradicionais relacionados à mulher, bem como a ideia de que um relacionamento se resume ao contato físico.

O real problema

Embora depoimentos como os de Joel Snell e Kathleen Richardson tenham argumentos sólidos, eles tocam apenas na ponta do iceberg. Do ponto de vista bíblico, o problema é mais profundo: a impureza sexual é apresentada como um terrível obstáculo para que nosso caráter se torne semelhante ao de Cristo. Chamamos isso de santificação, a qual pode ser definida como processo em que nossa mente é moldada diariamente pela contemplação do caráter de Jesus. Quanto mais olhamos para Cristo, mais parecidos com Ele nos tornamos. Como diz Ellen White: “Olhando para Jesus adquirimos visão mais brilhante e distinta de Deus, e pela contemplação somos transformados” (Mente Caráter e Personalidade, v. 1, p. 331).

A Bíblia não usa meias-palavras para tratar do assunto da impureza sexual. Paulo afirmou: “A vontade de Deus é que vocês sejam santificados: abstenham-se da imoralidade sexual” (1Ts 4:3). Claramente, ele estabelece uma íntima relação entre santificação e abstinência da impureza sexual. É importante notar como ele introduz o assunto: “… já os instruímos acerca de como viver a fim de agradar a Deus e, de fato, assim vocês estão procedendo. Agora pedimos e exortamos a vocês no Senhor Jesus que cresçam nisso cada vez mais” (v. 1). Tão grande é a preocupação de Paulo com esse tema, que ele enfatiza: “Cada um saiba controlar o seu próprio corpo de maneira santa e honrosa, não dominado pela paixão de desejos desenfreados…” (v. 4). E finaliza: “Deus não nos chamou para a impureza, mas para a santidade” (v. 7). Em outras palavras, Paulo estava tentando dizer que impureza sexual e santificação são opostos quanto a água e o óleo. Não há espaço para meio-termo.

Porém, isso não é tudo. A Bíblia vê a questão da impureza sexual com tanta seriedade que essa prática é comparada à adoração aos ídolos (At 15:20, 28-29; Ap 2:14, 20). Em Romanos 1:18, encontramos uma séria denúncia contra a humanidade: “A ira de Deus é revelada dos Céus contra toda impiedade e injustiça dos homens”. Que objeto de denúncia deveríamos esperar aqui? Assassinato? Furto? Poderia ser. Porém, apesar de graves, esses pecados não estão em pauta nessa passagem. Em vez disso, a denúncia de Paulo alterna entre a adoração aos ídolos (Rm 1:23, 25) e a impureza sexual (v. 24, 26 e 27). A partir daí, segue-se uma torrente impetuosa de vícios: “Injustiça, maldade, ganância e depravação. Estão cheios de inveja, homicídio, rivalidades, engano e malícia. São bisbilhoteiros, caluniadores, inimigos de Deus, insolentes, arrogantes e presunçosos; inventam maneiras de praticar o mal; desobedecem a seus pais; são insensatos, desleais, sem amor pela família, implacáveis” (v. 29-31). Quanto mais os homens se aprofundam em seus pecados, mais perdem o senso de que pecado é pecado.

A Bíblia poderia parar por aqui, mas há uma série de outras advertências. Na primeira carta aos coríntios, Paulo também diz que Deus não fez o corpo para a impureza sexual (1Co 6:13). Uma vez que nosso corpo é templo do Espírito Santo, a recomendação é: “Fujam da imoralidade sexual” (v. 18); literalmente, foi isso o que José fez (Gn 39:12). Idolatria associada à impureza sexual é também o alvo da exortação de Paulo em 1 Coríntios 10:7-8. Nesse capítulo, ele tem em mente o episódio relatado em Números 25, em que o povo de Israel foi atraído para a idolatria (Nm 25:2) por influência das mulheres moabitas (v. 1). Em 2 Coríntios 12, a impureza sexual (v. 21) está associada a outros pecados: “brigas, invejas, manifestações de ira, divisões, calúnias, intrigas, arrogância e desordem” (v. 20). Distante do Espírito Santo, o indivíduo fica vulnerável diante de todas essas tentações.

Ao recomendar que a impureza sexual não deve existir na igreja, Paulo comentou novamente que ela é contrária à santificação do crente: “Entre vocês não deve haver nem sequer menção de imoralidade sexual como também de nenhuma espécie de impureza e de cobiça; pois essas coisas não são próprias para os santos” (Ef 5:3). Afinal de contas, ela é uma aberta violação da lei de Deus (Êx 20:14; Mt 5:27-28; 1Tm 1:9-10). A propósito, a Bíblia apresenta a impureza sexual como o motivo que atraiu o juízo divino sobre as cidades de Sodoma e Gomorra (Jd 7). E seguramente trará também o juízo divino contra o mundo contemporâneo. Daí a solene exortação: “Assim, façam morrer tudo o que pertence à natureza terrena de vocês: imoralidade sexual, impureza, paixão, desejos maus e a ganância, que é idolatria” (Cl 3:5). A aversão que Deus tem pela impureza sexual pode ser facilmente percebida no modo como ela é revelada no livro do Apocalipse. Um falso sistema de adoração é simbolizado pela meretriz do capítulo 17, a qual embebedou os habitantes da Terra com o vinho de sua devassidão (Ap 17:2).

No catálogo de vícios apresentado em Gálatas 5:19-21, a impureza sexual aparece no topo da lista: “imoralidade sexual, impureza e libertinagem; idolatria e feitiçaria; ódio, discórdia, ciúmes, ira, egoísmo, dissensões, facções e inveja; embriaguez, orgias e coisas semelhantes”.

Alguém pode se perguntar como a imoralidade sexual abre as portas para tantos outros pecados. O seguinte comentário de Ellen White nos ajuda a entender: “Bondade, pureza e verdade, reverência para com Deus e amor pelas coisas sagradas – e tudo isso são afeições santas e nobres desejos que ligam os homens ao mundo celestial – são consumidos nos fogos da lascívia” (Patriarcas e Profetas, p. 335). Portanto, a lista de Paulo não deve causar surpresa. Muito menos deve nos surpreender seu comentário: “Eu os advirto, como antes já os adverti: Aqueles que praticam essas coisas não herdarão o Reino de Deus” (Gl 5:21). Esse é o verdadeiro problema da impureza sexual.

Como vencer

Em seu livro O Jesus que eu nunca conheci, o escritor Phillip Yancey comenta que a obra de um escritor católico francês chamado François Muriac o ajudou em sua luta contra a tentação sexual. Muriac também travou a mesma luta. Os seus livros mostraram a Yancey que “a autodisciplina, a repressão e os argumentos racionais são armas inadequadas para lutar contra o impulso da impureza”. Muriac compreendeu que “a impureza nos separa de Deus”. Ele concluiu que “a pureza é a condição para um amor mais elevado – para a posse acima de todas as outras posses: a de Deus. Sim, isso é o que está em jogo, e nada menos”.

Para esses dois autores, o desejo de estar na presença de Deus e o esforço para permanecer em Sua presença são a única forma de superar o problema da impureza sexual. Em consonância com esse pensamento, Ellen White afirmou: “O coração deve ser renovado pela graça divina, ou será inútil procurar pureza de vida” (p. 336).

A Bíblia deixa claro que a prática sexual ilícita tirará pessoas do Céu (Gl 5:19-21; Ef 5:5; Ap 21:8; 22:14). Portanto, nosso desejo de ir para lá deve ser uma constante motivação para que não nos envolvamos com a impureza sexual em suas variadas formas. Afinal, vimos acima que ela é uma inimiga do processo de santificação. Conforme a Bíblia enfatiza em Hebreus 12:14, “sem santidade ninguém verá o Senhor”. Não é possível experimentar profunda intimidade com Deus e ao mesmo tempo alimentar pensamentos impuros. Além disso, Deus está atento a tudo que fazemos e ao que pensamos. Consciente disso, Jó, um dos grandes campeões da fé, asseverou: “Fiz aliança com meus olhos; como, pois, os fixaria eu numa donzela? Que porção, pois, teria eu do Deus lá de cima e que herança, do Todo-Poderoso desde as alturas? […] Não vê Ele os meus caminhos e não considera cada um de meus passos?” (Jó 31:1, 2 e 4).

Finalmente, para aqueles que, de alguma forma, já se envolveram com impureza sexual, não é preciso entrar em desespero. A Bíblia diz: “Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça” (1Jo 1:19). A purificação da nossa vida é uma obra que somente Cristo pode realizar. Porém, existe algo que podemos fazer; algo que está no campo da decisão, e que pode ser resumido nas seguintes palavras: “Aqueles que não querem ser presa dos ardis de Satanás devem bem guardar as entradas da alma; devem evitar ler, ver, ou ouvir aquilo que sugira pensamentos impuros” (Patriarcas e Profetas, p. 337). Esse conceito está profundamente enraizado na Bíblia e é sintetizado pelo apóstolo Paulo da seguinte forma: “Tudo o que for verdadeiro, tudo o que for nobre, tudo o que for correto, tudo o que for puro, tudo o que for amável, tudo o que for de boa fama, se houver algo de excelente ou digno de louvor, pensem nessas coisas” (Fp 4:8).

NILTON AGUIAR, mestre em Ciências da Religião, é professor de grego e Novo Testamento na Faculdade Adventista da Bahia e está cursando o doutorado em Novo Testamento na Universidade Andrews (EUA)

Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.