Silêncio e solitude são exemplos deixados por Cristo para a transformação do caráter
As revelações de envolvimento do alto escalão político em ações corruptas estão chacoalhando o Brasil e provocando todo tipo de reação, especialmente nos últimos dias. Há uma necessidade premente de reforma política. Não resta dúvidas disso. Mas, saindo do nível da epiderme, é necessário que haja uma mudança mais profunda, que transforme o caráter.
Jesus se utilizava de uma arma poderosa contra a corrupção do gênero humano. A Bíblia afirma que ele “muitas vezes se afastava para lugares desertos, a fim de orar” (Lucas 5:16, NBV). Esses momentos não aconteciam casualmente. Normalmente, eles aparecem na narrativa bíblica depois de um dia de muita atividade ou antes de enfrentar uma maratona de pregações, curas, conversas pessoais e enfrentamentos contra forças do mal.
Nesta sociedade superestimulada, a hiperatividade e a hiperconectividade, que levam à fadiga física e espiritual, abrem as portas para que a natureza corrupta de todos nós continue reinando. O contexto dos primeiros cristãos não se aproximou, nem de longe, do ritmo que a existência humana assumiu no século 21 na cultura ocidental. Portanto, se Jesus fazia da solitude, do silêncio e da oração práticas de sobrevivência espiritual, o que dizer de nós hoje?
O vício da atividade ininterrupta condicionou o homem moderno a pensar que a inatividade é um inimigo ou um luxo. De acordo com essa lógica, esse momento de interrupção é chato e depressivo. Isso afeta até mesmo a maneira como os cristãos compreendem o papel do sábado. O afastamento constante de Cristo para “lugares desertos” derivava do entendimento da importância desse dia (Mateus 14:23; Marcos 1:35) não apenas como interrupção semanal, mas como descanso integral do ser humano – dia de adoração, de repensar o fluxo da vida, nossas atitudes e valores.
O que se percebe no mundo contemporâneo, no entanto, são pessoas tentando manter a sanidade em meio ao frenesi. Exaustas, tornam-se presas fáceis para a corrupção que corre nas veias e habita a mente humana.
Precisamos de “sábados” diários, mesmo que duvidemos que temos tempo para isso. Um tempo de solitude e silêncio não significa uma dose diária de solidão depressiva. Tomar tempo para a reflexão espiritual é liberdade contra a tirania capitalista e reconhecimento de que Deus é quem controla todas as coisas. Nele encontramos a fonte do equilíbrio, algo tão raro em nossa sociedade. Além disso, é na solitude com Deus que descobrimos uma nova dimensão do tempo.
Alguns têm medo do silêncio porque ele revela o vazio da alma. Mas é preciso lembrar que tudo o que existe foi gerado a partir do vazio – “No princípio criou Deus… A Terra era sem forma e vazia” (Gênesis 1:1,2). Nesse santuário no tempo, em que Deus não enfrenta concorrência, a cura acontece e a vida brota em abundância, linda e espiritual.
Ignorar a solitude e silêncio diários com Deus é trapacear a nós mesmos. Portanto, mãos à obra. Mas por onde começar? As palavras de Jesus apontam o caminho: “Venham comigo para um lugar deserto e descansem um pouco” (Marcos 6:31).
SEPARE TEMPO
A quantidade de tempo não é tão importante quanto o fato de esse tempo ser sistemático. É possível começar com 15 minutos. Aceitar o convite de ir com Deus a um lugar tranquilo requer entrega e submissão. Não pare quando terminar suas tarefas ou quando tiver um tempo livre. Pare no exato momento que você definiu com Deus.
DIMINUA O RITMO
O estímulo constante ao qual nos submetemos faz com que nossa mente e corpo vivam em ritmo acelerado. Com a velocidade, a sensibilidade e a capacidade para reconhecer detalhes são severamente diminuídas. Acontece que a Bíblia ensina que a voz de Deus é uma suave voz (1 Reis 19:12,13). Então, afaste toda distração, desligue o celular e o computador. Respire fundo e peça a Deus que o inunde com sua presença e luz.
OUÇA
Fale menos e escute o que Deus está falando por meio das Escrituras. Em alguns dias, talvez você não queira ler. Então, apenas fique na presença de Deus como uma criança descansa no colo do pai. O ato de estar na presença de Deus não requer uma atividade, apenas a consciência de sua presença.
Silêncio e solitude com Deus revelam a riqueza do companheirismo experimentado por Enoque, Noé e Moisés, entre outros. O companheirismo com Deus transformou corruptos como Zaqueu. Por que não transformaria as pessoas hoje? [Foto: Fotolia]
PAULO CÂNDIDO é doutor em Ministério e missionário no Oriente Médio
Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.