O segredo para garantir o bom desempenho escolar dos filhos
Seria possível da pior cidade do Brasil tirar um exemplo de educação? Esse lugar e essa lição existem. Manari é um município do sertão de Pernambuco, a 400 km de Recife, que conta com 19 mil habitantes. Em 2003, a Organização das Nações Unidas (ONU) considerou a cidade o pior lugar do país para se viver, com base no seu baixíssimo índice de desenvolvimento humano (IDH), que é avaliado essencialmente por três pontos: renda, saúde e educação. Mas, na última década, muita coisa mudou. Manari subiu 18 posições no ranking de IDH, mas ainda figura entre as cidades mais pobres do Brasil. Porém, onde havia 55% da população analfabeta, hoje se tem 250 professores e 4,9 mil alunos estudando em 37 escolas municipais e estaduais.
“É um fenômeno que acontece nas escolas públicas de algumas cidades extremamente pobres, mas que apresentam altíssimos indicadores de aprendizagem. Nos últimos anos, em Manari o Ensino Fundamental e até o Ensino Médio ficaram acima da média de Pernambuco. Por duas vezes foi o primeiro colocado do estado. O único indicador que se encontra diferente nele é a participação da família”, comenta a doutora em Educação Bernardina Araújo de Souza. “As relações são muito estreitas. Geralmente, a professora é cliente do padeiro que é pai de aluno da escola. O pedreiro trabalha na casa dessa mulher, e aí se constrói uma rede de relacionamento e convivência entre escola e família.”
Dentro das escolas particulares, nas pequenas ou grandes cidades, não podemos dizer que a realidade seja diferente. “O sucesso dos filhos depende da parceria entre escola e família. Os pais precisam participar da vida escolar do filho até para que ele entenda que está dedicando tempo a algo verdadeiramente importante”, explica a coordenadora pedagógica do Colégio Adventista de Belo Jardim, em Pernambuco, Rakcione Menezes.
Bernardina explica essa parceria de núcleos como a maior responsabilidade quanto à formação do indivíduo: “A família trabalha com princípios, valores, tradições; e a escola, com um papel mais formal, o do saber científico e da sua transformação em conhecimento escolar. São dois papéis diferentes, mas que constituem os aspectos mais importantes para a construção da pessoa. Logo, são instâncias que não podem se excluir. Elas precisam interagir de forma inteligente, equilibrada e sustentável.”
Prova prática
Alexandre e Airma Melo são os pais de Júlia, 14, Bernard, 12, e Heber, 3, alunos exemplares. Em 2014, quando cursou o 8º ano do Ensino Fundamental, Bernard teve o tão sonhado 10 como média geral do ano. “Ele é um aluno excepcional, daqueles que ‘fecham a prova’; é literalmente um aluno nota 10”, conta Rakcione Menezes, coordenadora pedagógica do colégio em que as crianças estudam. Júlia, que em 2015 ingressa no Ensino Médio, é destaque em todas as disciplinas e já ganhou diversos concursos de redação e língua portuguesa no município em que mora.
E se engana quem pensa que o sucesso desses alunos seja apenas a inteligência nata. Se existe uma coisa que eles aprenderam cedo dentro de casa foi a palavra rotina. De segunda a sexta, às 6h30, todos na casa estão de pé. O culto familiar é o primeiro momento do dia, seguido pelo desjejum, e depois todos se dirigem às suas atividades. Os filhos estudam pela manhã, enquanto os pais trabalham. Airma optou por reduzir a carga horária de trabalho para dar mais assistência aos filhos, e todos os dias às 13h30 está em casa. “Já rejeitei algumas propostas de emprego nesse contraturno, pois entendo que é importante acompanhá-los de perto nessa fase”, conta a mãe.
Mais do que investir em livros e em uma boa escola, os pais precisam trabalhar com a instituição para que os alunos obtenham bons resultados
Após o almoço, todos os filhos desempenham uma atividade doméstica, seja lavando a louça ou ajudando a arrumar a casa. Depois vem um cochilo ou lazer. No horário pontual, todos se sentam à mesa para estudar, e de uma forma muito peculiar: a mãe fica perto acompanhando tudo. “Primeiro pergunto o que foi ensinado na escola naquele dia. Eles precisam fazer uma revisão do conteúdo, mesmo que já tenha sido lido na sala. Costumo fazer perguntas sobre o assunto para ver se ainda resta alguma dúvida. Depois, eles fazem as atividades de casa, e nada fica para o dia seguinte”, conta.
Júlia gosta da dedicação da mãe e do empenho dela em ajudá-los: “Como já faz tempo que mamãe estudou esses assuntos, ela tem que relembrar antes de sentar com a gente para a revisão, e então ela aprende também. Ela explica de uma forma bem simples assuntos de história e fórmulas de matemática, por exemplo.” Embora o acompanhamento seja presencial, Airma garante já ter conquistado seu objetivo: que o filhos tenham autonomia nos estudos. “Eles são muito disciplinados, e costumo dizer que o período em que menos estudam é a véspera das provas, pois já estão sabendo o conteúdo.”
E mesmo no caso do pequeno Heber, que ainda não tem tarefinha de casa, Airma já estimula o momento do estudo no contraturno escolar com exercícios lúdicos, atividades que trabalhem o raciocínio para o desenvolvimento cognitivo. “A parceria da família com a escola não é uma fórmula para que o aluno seja necessariamente um gênio, mas para que ele se sinta feliz e seguro”, define a doutora Bernardina Araújo.
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Rebbeca Ricarte é jornalista
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Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.