A melhor dieta

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Saiba por que você não deve confiar na pesquisa recente que questionou os benefícios do vegetarianismo
Pesquisa que relacionou consumo de vegetais e doenças é mais uma evidência de que muitas instituições educativas estão mais preocupadas com a exposição na mídia do que com o rigor científico. Créditos da imagem: Fotolia

O resultado de uma pesquisa realizada pela Universidade Cornell (EUA) e publicada no ano passado no periódico científico Molecular Biology Evolution lançou uma sombra de dúvida com relação aos benefícios do vegetarianismo como opção nutricional mais saudável para a dieta humana. Segundo os pesquisadores, uma dieta à base de plantas por muitas gerações poderia acarretar mutações genéticas que aumentariam os riscos de câncer e enfermidades cardiovasculares. As mutações ocorreriam para facilitar a absorção de ácidos graxos essenciais das plantas pelos vegetarianos, elevando no organismo os níveis de ácido araquidônico, que conduziria a processos inflamatórios e câncer. Essa conclusão é totalmente contrária a uma gama de outros estudos científicos referentes ao assunto realizados por várias universidades norte-americanas de prestígio, incluindo a Universidade de Loma Linda, na Califórnia.

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O estudo comparou a população de Pune (Índia), onde a população segue uma dieta vegetariana por gerações, com a população do estado do Kansas (EUA), onde o consumo de alimento de origem animal é bem alto. O perfil genético mostrou que a população vegetariana tinha 68% do gene variante, enquanto os não vegetarianos tinham apenas 18%. Concluiu-se, assim, que vegetarianos têm maior risco de contrair as enfermidades mencionadas do que os não vegetarianos.

No entanto, uma análise da pesquisa mostra que a conclusão, apesar de alardeada como fato, carece de evidências concretas para respaldá-la. A divulgação do resultado dessa pesquisa, assim como ocorre com muitas outras que abandonam a integridade científica, apela simplesmente para o sensacionalismo editorial, exagerando nas conclusões e omitindo fatos importantes. Vou sintetizar as conclusões que podemos tirar desse estudo:

1. Apesar dos alardes feitos pela mídia, os pesquisadores não coletaram nenhum dado que pudesse relacionar o gene variante com os riscos das referidas enfermidades na população vegetariana.

2. Na verdade, o que eles fizeram foi criar a seguinte hipótese: se o ácido araquidônico está envolvido em processos inflamatórios, pessoas com esse gene variante podem estar em maior risco. Trata-se apenas de uma hipótese sem evidências que a confirmem.

3. Foi levado em conta apenas o fator de ser ou não vegetariano, e ignorou-se a existência de outros fatores importantes da dieta. A população vegetariana referida tem uma dieta muito rica em cereais refinados, açúcar, frituras, bolos e refrescos adoçados, que tendem a aumentar os processos inflamatórios.

4. Foram ignoradas outras pesquisas que provam de maneira contundente os benefícios de uma dieta vegetariana aliada a um estilo de vida saudável.

Bill Harris, professor da Universidade de Dakota do Sul, passou a maior parte de sua carreira estudando os efeitos dos ácidos graxos na saúde e afirma que não há relação entre níveis de ácido araquidônico e câncer em seres humanos. O biólogo teórico Marcus Feldman, da Universidade Stanford, avalia que “a pesquisa em si não indica serem os não vegetarianos mais saudáveis do que os vegetarianos; ela aponta apenas para certa mutação genética ocorrida há muitas gerações”.

Atribuir a essa mutação apenas um fator, sem dados que o respaldem, e diante de dezenas de outros possíveis, nada mais é do que falácia acadêmica. Essa pesquisa é mais um exemplo de como muitas instituições educativas e seus acadêmicos estão mais preocupados com a exposição na mídia do que com o rigor científico. Você pode continuar comendo seus vegetais, pois as pesquisas mais sérias indicam ser essa a melhor dieta!

SILMAR CRISTO é médico, consultor e autor de vários livros sobre saúde e qualidade de vida

(Texto publicado originalmente na edição de junho de 2016 da Revista Adventista)

Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.