Abandonar os produtos de origem animal é importante, mas não é suficiente para garantir a saúde
Nas últimas duas décadas, o vegetarianismo tornou-se bastante popular, impulsionado por razões éticas, religiosas e ecológicas. Não é raro, hoje, ouvir testemunhos de celebridades falando dos benefícios que receberam para a saúde física e mental ao optar pela eliminação ou limitação no consumo de alimentos de origem animal.
A Igreja Adventista vem contribuindo há mais de cem anos para a divulgação do vegetarianismo, mediante palestras, cursos de cozinha saudável, publicação de literatura e outras inúmeras ações educativas que, pioneiramente, empreende.
Ao longo desses cem anos, milhares de nossos membros adotaram o vegetarianismo, almejando melhorar a qualidade e aumentar a expectativa de vida. É impossível não admirar a fé pura e simples dos pioneiros ao abraçarem a reforma de saúde quando ela ainda carecia de prova ou demonstração científica.
Em contraste com aqueles tempos, agora as vantagens de uma dieta baseada em plantas estão bem estabelecidas empiricamente. Há até rankings dos povos que mais vivem no planeta. Novamente, os adventistas se destacam: os irmãos do sul da Califórnia são objeto de pesquisas do próprio governo americano, na busca pelos segredos para viver muito e bem. Ser vegetariano passou a ser item de moda, sinal de modernidade, sinônimo de saúde.
Infelizmente, esse estreito ponto de vista iludiu nossa irmandade do mesmo modo que a todo o mundo. Pensamos que só banir a carne da dieta faria tudo o mais correr “às mil maravilhas”. Isso nos (dis)traiu e nos “tranquilizou”. Levou-nos a crer que era tudo quanto nos competia fazer na tarefa de manter a saúde. Deixamos de perceber verdades reveladas e outros aspectos da verdadeira reforma da saúde proposta nos escritos de Ellen G. White. Os resultados são desastrosos, já que podiam ser facilmente evitados.
Tenho assistido um recorrente caso típico: alguém me procura, queixando-se de problemas de saúde comuns na população em geral. Invariavelmente, este alerta precede a descrição de seus incômodos: “Doutor Silmar, aquilo que eu vou contar não tem nada que ver com minha alimentação, pois sou vegetariano há décadas.” Então, desfilam perante mim os sintomas e indícios das mesmíssimas enfermidades que assolam todos os pacientes, sem distinção.
Alguns, às vezes, me indagam, decepcionados: “Sou vegetariano por tanto tempo! Como pude desenvolver um câncer, ou diabetes, ou doença cardiovascular?” Por dever de oficio, por honestidade, digo-lhes: “Se é vegetariano há dezenas de anos, você só está me contando 10% da história. Vamos conversar sobre os outros 90%?”
É ali que encontramos as causas de seus problemas de saúde. Sem dúvida, afastar-se dos produtos de origem animal (não apenas da carne) é parte importantíssima da mensagem de saúde, e a ciência corrobora o que a teologia recomenda. O erro é imaginar que tal fator isolado seja suficiente para garantir bons resultados. Na verdade, adotar uma dieta baseada em plantas ocupa a quinta posição, em ordem de importância, em uma lista dos doze hábitos que mais impactam negativamente a saúde.
O que muita gente ainda não percebeu é que o plano de Deus para a vida é amplo, coerente, integrado, ou holístico, para usar uma palavra da moda. Precisamos recuperar esta visão original – multifatorial – da mensagem (e da reforma) de saúde e escapar dessa zona perigosa de conforto e falsa segurança. A maneira como tratamos nosso corpo pode ter repercussões não apenas presentes e futuras, mas para toda a eternidade.
Silmar Cristo é médico, consultor e autor de vários livros sobre saúde e qualidade de vida
Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.