Esperança renovada

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O dia 22 de outubro de 1844 marcou a virada espiritual que definiu a identidade e o propósito dos adventistas

Stanley Arco

Crédito: Adobe Stock

Ao estudar as profecias do livro de Daniel, o pregador batista norte-americano Guilherme Miller dedicou atenção especial a uma delas: “Até duas mil e trezentas tardes e manhãs. Depois, o santuário será purificado” (Dn 8:14). Ele interpretou essa passagem como um anúncio do retorno de Cristo para purificar a Terra. Com base no princípio dia/ano (Nm 14:34; Ez 4:6), e partindo da ordem para a reconstrução de Jerusalém após o exílio babilônico, em 457 a.C. (Dn 9:25; Ed 7), Miller concluiu que Jesus voltaria entre março de 1843 e março de 1844. Seus argumentos convenceram muitas pessoas sinceras, dando origem ao movimento que ficou conhecido como milerita.

Após o encerramento desse período, o pregador milerita Samuel Snow popularizou sua interpretação de que a profecia se cumpriria, conforme o calendário judaico caraíta, no dia equivalente ao Dia da Expiação daquele ano: 22 de outubro. A expectativa pelo iminente retorno do Senhor era algo doce ao coração dos fiéis.

O dia chegou, mas Cristo não veio. A doce esperança se transformou em amarga decepção. O que aconteceu? Após o desapontamento, alguns mileritas voltaram a estudar cuidadosamente as Escrituras, buscando entender o que, de fato, havia ocorrido. Embora o cálculo dos períodos proféticos estivesse correto, o evento profetizado era outro. Eles concluíram que a profecia não se referia ao retorno literal de Cristo à Terra, mas ao início de uma nova fase de Seu ministério: a purificação antitípica do santuário celestial, o juízo investigativo pré-­advento. Essa compreensão lançou as bases para o desenvolvimento das doutrinas distintivas do movimento adventista.

Em breve, toda decepção será substituída pela alegria eterna

Em Apocalipse 10, João relata a visão de um anjo poderoso descendo do Céu, com um livrinho aberto na mão. Ele é instruído a tomar o livro e comê-lo. Disseram-lhe que seria doce na boca, mas amargo no estômago. Esse “livrinho” é interpretado como uma referência às profecias de Daniel, que permaneceriam seladas até o tempo do fim (Dn 12:4). Sua abertura simboliza a redescoberta e a compreensão dessas profecias. A chamada “experiência agridoce” representa a expectativa inicial quanto à iminente vinda de Cristo, uma mensagem doce e empolgante para os crentes mileritas, mas que se tornou em amargo desapontamento quando Ele não voltou na data esperada.

Apesar da decepção, Apocalipse 10:11 enfatiza que a missão deve continuar: “É necessário que você ainda profetize a respeito de muitos povos, nações, línguas e reis” (Ap 10:11). Trata-se de um chamado à perseverança na pregação do evangelho eterno e das verdades redescobertas sobre o juízo pré-advento e o ministério celestial de Cristo.

No relato de sua primeira visão, Ellen White mencionou Carlos Fitch, um pastor que ela conheceu e que participou ativamente da proclamação da vinda de Cristo. Fitch aceitou a mensagem do advento por meio das palestras de Guilherme Miller e, com dedicação, tornou-se um dos líderes do movimento milerita. Morreu dias antes do esperado retorno de Jesus, após contrair uma enfermidade ao realizar batismos numa manhã fria de outono (Primeiros Escritos [CPB, 2022], p. 47).

Sua esposa, motivada pela esperança, consolava os filhos com a promessa do reencontro em poucos dias, que não se cumpriu. Ainda assim, os crentes não abandonaram a missão. Era preciso continuar anunciando a verdade bíblica, agora com entendimento mais claro sobre o ministério celestial de Cristo. Em breve, toda decepção será substituída pela alegria eterna. Mais do que as dores deste mundo, devemos, pela graça de Deus, cumprir o propósito de preparar pessoas para o novo mundo que está por vir! 

STANLEY ARCO é presidente da Igreja Adventista para a América do Sul

(Publicado originalmente na seção “Bússola” da Revista Adventista de outubro/2025)

Última atualização em 16 de outubro de 2025 por Márcio Tonetti.