Figura materna

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O que é uma “mãe suficientemente boa”

Talita Castelão

Foto: Adobe Stock

Não existe mãe perfeita. Na teoria sabemos disso, mas acabamos, ainda que de forma inconsciente, exigindo muito de nossas mães. É difícil o filho reconhecer que a mãe não é a mulher maravilha que a sociedade tende a reforçar. Mãe é gente como a gente, e só! Se você teve uma mãe suficientemente boa, fique feliz. Mas o que significa isso?

O conceito de “mãe suficientemente boa” surgiu com o pediatra e psicanalista inglês Donald Woods Winnicott. Responsável por acolher crianças fora de Londres durante a Segunda Guerra Mundial, em virtude da ­ameaça de bombardeios na cidade, Winnicott observou que, quando separadas dos pais, as crianças ficavam vulneráveis ao aparecimento de problemas emocionais. Ele acreditava que o ambiente seria muito importante para o desenvolvimento do potencial humano. Na verdade, Winnicott considerava que esse ambiente propício fosse a mãe ou alguém que exercesse a função materna. O pai, por sua vez, seria o principal apoiador nesse processo de levar a criança a experimentar fases em direção à independência, até que, na idade adulta, pudesse formar a própria identidade.

Num primeiro estágio, a criança depende absolutamente da mãe. Além de a mãe prover fisiologicamente o alimento, estabelece com a criança a rotina de cuidados que faz com que perceba sua existência no mundo. Mas esses cuidados serão fortemente influenciados pela figura materna que a mãe teve enquanto filha. Nesse período, o bebê experimenta a sensação de onipotência ao sentir que a mãe é uma continuação dele mesmo, estando sob seu controle. Essa “ilusão” acontece principalmente porque, nesse momento, a mãe se adapta às necessidades da criança para atendê-la.

O próximo passo será “desiludir” o bebê, conduzindo-o ao estágio de dependência relativa, em que a criança se desenvolve sem se sentir fundida à mãe. Acontece o desmame, e a criança começa a suportar pequenas frustrações. Nesse processo de desilusão ganham importância objetos transicionais (geralmente macios, como cobertor, travesseirinho, bichinho de pelúcia), que a ajudam a pegar no sono, enfrentar momentos de solidão, suportar a ausência da mãe ou um humor mais depressivo. A mãe suficientemente boa perceberá que o crescimento do filho não significa uma rejeição pessoal a ela nem que o ­vínculo construído esteja em perigo, mas sim que a criança está integrando a personalidade e desenvolvendo a autossuficiência.

No estágio rumo à independência, cada vez mais a personalidade será integrada e a onipotência dos períodos anteriores será atenuada. A criança conseguirá dispensar o cuidado materno real, substituído paulatinamente pela introjeção dele. Nessa fase, alguns conflitos inconscientes deverão ser resolvidos, e a mãe e o pai auxiliam nesse enfrentamento à medida que oferecem aceitação incondicional.

Longe de ser perfeita, a mãe suficientemente boa não precisa compreender intelectualmente suas tarefas, mas busca exercer com prazer sua função materna ao executar o que lhe parece correto.

TALITA CASTELÃO é psicóloga clínica, sexóloga e doutora em Ciências

(Artigo publicado na seção Em Família da Revista Adventista de maio de 2021)