Para quem sonha com uma casamento feliz e duradouro, as boas escolhas começam pelo tipo de relacionamento
Muita gente pensa que “ficar” é coisa exclusiva de adolescentes ou de quem não quer compromisso. A verdade, contudo, é que essa prática envolve pessoas das mais diversas idades, e a lógica desse comportamento também permeia a vida de quem diz querer algo sério. Mas por que será que isso acontece?O termo “ficar” e a prática desse comportamento invadiram o Brasil nos anos 1990, mudando o modo de adolescentes, jovens e adultos se relacionarem. Ficar significa trocar carinhos, beijos, abraços e até mesmo manter relação sexual com alguém sem necessariamente conhecer a pessoa ou voltar a encontrá-la. Às vezes, as pessoas ficam com amigos ou conhecidos, mas deixam claro que não há um envolvimento emocional que justifique o namoro.
Esse jeito de se relacionar tem criado muita confusão, porque parece ser incoerente com o que as pessoas, especialmente as mulheres, esperam da relação. É o que revelou uma pesquisa feita na James Madison University (EUA) com 150 mulheres e 71 homens, todos universitários. O estudo mostrou que, enquanto as mulheres preferem namorar, os homens preferem “ficar casualmente”. Porém, como os namoros de hoje raramente começam sérios, as garotas acabam se adaptando ao padrão mais masculino, mesmo tendo sido orientadas para a continuidade nas relações. Por isso, muitas mulheres que “ficam” revelam uma espécie de lamento em suas falas: “Se ele quisesse namorar… eu gostaria.”
No Brasil, um estudo conduzido pela psicóloga Jaqueline Cavalcanti na PUC do Rio de Janeiro também demonstrou outra contradição entre os adeptos desse novo estilo de relacionamento. Embora muitos queiram o prazer imediato do “ficar”, acalentam o sonho de ter um casamento convencional e monogâmico. Ao discutir a heterogeneidade na percepção dos jovens sobre os relacionamentos na atualidade, a pesquisadora afirma que existem os que acreditam que as relações continuam como sempre foram e os que enxergam o campo amoroso como desordenado, instável, inseguro e frágil.
Algumas razões foram apontadas para essa mudança significativa na forma de se relacionar: (1) flexibilização de normas e regras (fruto das demandas capitalistas, reflete-se na possibilidade de acumular mais e diferentes sensações); (2) foco na autossatisfação e autorrealização (uma relação estável pode demandar muita dedicação; assim, o outro é visto como meio de acesso ao próprio prazer e diversão); (3) valorização do tempo presente (ao enfatizar o aqui e agora, qualquer compromisso em longo prazo é interpretado como perda de oportunidades novas e contínuas); e (4) importância dada à liberdade individual (o compromisso com alguém é visto como impedimento para vivenciar certas experiências “permitidas” apenas para os “desimpedidos”).
Para quem prefere namorar, as vantagens são claras. Em relacionamentos mais sérios, as regras costumam ser mais explícitas, dando pouca margem para quebras de contrato. É possível fazer planos de longo prazo e dividir momentos importantes da vida. Os namorados compartilham companheirismo e ajuda mútua, principalmente em momentos difíceis. Ou seja, você sabe que pode contar com aquela pessoa. E poder contar com alguém é raro em nossos dias. “Parece que vivemos num momento em que ninguém se importa com ninguém”, reclamam muitas pessoas. Além disso, só o namoro pode proporcionar a vivência de situações que vão favorecer um maior e significativo conhecimento de alguém com quem você talvez divida o resto da vida.
Se você sempre “ficou” e nunca namorou, que tal se aventurar numa relação mais desafiadora? Se você já namora, pode tentar ser um(a) namorado(a) muito melhor. E, se está casado(a), nunca deixe de namorar. Escolha uma pessoa e torne-se simplesmente inesquecível para ela!
TALITA BORGES CASTELÃO é psicóloga clínica, sexóloga e doutora em Ciências
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Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.