Retrato falado

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A descrição bíblica sobre a (i)moralidade social dos últimos dias se cumpre em nossa geração

Sinais-retrato-falado-foto-fotolia Mensalão, petrolão, reality show, funk ostentação, selfie, relacionamento aberto, casamento gay, pedofilia, estupro, serial killer e muito mais. Monte o quebra-cabeça e você verá a terrível face da iniquidade. Esse horroroso e multifacetado retrato está estampado todos os dias nos meios de comunicação e reflete a degradação moral da sociedade contemporânea.

Será que esse panorama tem alguma coisa a dizer sobre o fim do mundo? De acordo com a Bíblia, “nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis, pois os homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes, desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres do que amigos de Deus” (2 Timóteo 3:1-4, itálico acrescentado).

As palavras que introduzem esta matéria soam como uma espécie de “tradução na linguagem de hoje” dos termos que o apóstolo usou para caracterizar a sociedade do tempo do fim. Isso significa dizer que a situação moral do mundo atualmente é uma evidência inequívoca de que Jesus está próximo de voltar.

É verdade que as ondas de imoralidade são cíclicas na história humana e que os pecados que degradam nossa sociedade não são novos. Porém, como “dores de parto”, a imoralidade de nossos dias entrou numa onda crescente, parecendo não haver mais limites para a maldade. Mais do que pecados cometidos aqui e ali, estamos assistindo à generalização da impiedade e à institucionalização da iniquidade.

Em nome de um pretenso avanço, os mais nobres valores da espécie humana estão sendo esfacelados e substituídos por moralidades difusas, criadas para atender a insaciabilidade corrupta, promíscua e perversa que destrói a sociedade. Neste artigo, a maior parte dos exemplos vem da realidade brasileira, que pode representar perfeitamente o panorama mundial.

Corrupção

O sujo esquema de compra de votos de parlamentares conhecido como mensalão desviou para as contas de políticos corruptos 141,5 milhões de reais. Após quase nove anos da revelação dessa fraude de proporções monumentais, 24 dos 40 indiciados pelo Ministério Público foram condenados. No entanto, um detalhe chama a atenção: alguns políticos, ao serem presos após condenação por esse crime vexatório, deixaram-se fotografar com o punho levantado, sugerindo resistência e heroísmo. Não há arrependimento nem vergonha! Como se o mensalão não fosse suficiente, o país foi surpreendido com a notícia de que sua principal estatal, a Petrobras, vem sendo descaradamente assaltada pelo mesmo grupo político. A soma do roubo apurada até aqui já chega a meio bilhão de reais, valor que faz o mensalão parecer “mensalinho”.

O mais triste é que posturas assim não são exclusivas de quem detém o poder, mas refletem o padrão social corrompido de nossos dias. Diga-se de passagem, as últimas eleições brasileiras evidenciaram que, na hora do voto, a maior parte do eleitorado não leva em consideração o tema da corrupção. Desvios de recursos públicos e coisas semelhantes apenas refletem o cotidiano de muitas pessoas. Sonegação de impostos, compartilhamento ilegal de sinal de internet e desonestidade de forma geral são algumas das práticas que revelam a face corrupta da sociedade.
“Egoístas”, “avarentos”, “traidores” e “atrevidos”. Paulo realmente acertou em cheio na descrição da humanidade que viveria antes da volta de Jesus. O apóstolo Tiago (5:1-4) se uniu a ele, denunciando o acúmulo de riqueza adquirida por meio de fraude, corrupção e exploração.

A corrupção gera opressão e sofrimento, e isso apressa o fim da longanimidade de Deus. A resposta divina para a recorrente pergunta bíblica sobre a injustiça, “até quando, Senhor?”, surge sempre quando o cálice dos opressores transborda (Gênesis 15:16; Êx 3:9). A vinda de Jesus é a resposta. Por isso, Tiago conforta a igreja: “Sede vós também pacientes e fortalecei o vosso coração, pois a vinda do Senhor está próxima” (Tiago 5:8). O transbordamento inigualável da corrupção revela a iminência do retorno de Jesus.

Orgulho

Atualmente, assistimos também a uma avassaladora onda de autoexposição nas redes sociais. Só para se ter ideia, o termo selfie foi escolhido pelo dicionário Oxford como a palavra do ano em 2013. As pessoas andam narcisisticamente apaixonadas por si mesmas. Como a madrasta malvada de A Branca de Neve e os Sete Anões, milhares perguntam todos os dias: “Facebook, Facebook meu, existe alguém mais bonito, inteligente e espiritual do que eu?” Isso tomou conta do mundo.

Porém, mesmo na classe artística, há quem esteja cansado dessa febre que parece não querer passar. A atriz Fernanda Montenegro declarou recentemente, em tom de desabafo: “Selfie é um terror, um horror, uma idiotice. Aí eu pergunto: vai fazer o que com isso?” Esse exibicionismo egolátrico, aparentemente inocente, relaciona-se com o orgulhoso desejo humano de ser mais do que o outro e estar sempre em evidência. É como escreveu C. S. Lewis: “O prazer do orgulho não está em se ter algo, mas somente em se ter mais que a pessoa do lado. Dizemos que uma pessoa é orgulhosa por ser rica, inteligente ou bonita, mas isso não é verdade. As pessoas são orgulhosas por serem mais ricas, mais inteligentes e mais bonitas que as outras” (Cristianismo Puro e Simples, p. 163). Orgulho é olhar para a vida e ver apenas um espelho. Talvez venha daí a volúpia das fotos com o celular na mão diante da própria imagem refletida, na súplica por curtidas e elogios.

Existem também formas menos sutis de manifestação do orgulho. A disseminação de estilos musicais como funk ostentação escancara diante da sociedade o egotismo e a baixeza da condição humana, a qual em segmentos mais refinados está escamoteada em “boa educação” e finesse. Os chamados MCs ostentam, em clipes musicais e shows, todo tipo de artigos de luxo e instigam o desejo de adolescentes e jovens carentes de possuir esses itens. O resultado é frustração e criminalidade.

O mundo dá sinais
evidentes de que
a iniquidade chegou
ao seu auge

No íntimo, o orgulho, com todas as práticas humanas que o refletem, está ligado a seu originador, Satanás: “Tu dizias no seu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo” (Isaías 14:13, 14). Lúcifer estava tão apaixonado por si mesmo que não conseguia imaginar ninguém acima dele, nem mesmo Deus. Nessa declaração, o sujeito “eu” aparece cinco vezes e indica a amplitude da egolatria do diabo, a qual também é estampada no rosto de todo ser humano não regenerado. O retrato da sociedade nos últimos dias é um traçado, cada dia mais aprimorado, da face de Satanás.

Perversão sexual

No âmbito da sexualidade, o quadro não é menos aterrador. Em 5 de maio de 2011, o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu, por unanimidade, a união civil entre pessoas do mesmo sexo no Brasil. Desde essa data, o Estado brasileiro concede todos os direitos civis próprios de um casamento para as ­uniões estáveis homossexuais.

Para instrumentalizar a decisão do STF e tornar ainda mais dramático o quadro, em 2013, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) baixou uma resolução que obriga os cartórios brasileiros a oficiar a união civil entre pessoas do mesmo sexo. Nesse mesmo ano, foram realizados 3.071 casamentos homossexuais, de acordo com dados do Registro Civil e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na mesma direção, em 2011, o Conselho Federal de Medicina (CFM) também aprovou uma medida que garante aos casais homossexuais o direito de recorrer a técnicas de reprodução assistida financiadas pelo SUS.

Decisões como essas afastam de forma definitiva a sociedade do ideal divino para a sexualidade humana e a família. O homossexualismo não é uma prática recente no mundo, mas a institucionalização e o incentivo dessa conduta aproximam a geração atual da condição dos habitantes de Sodoma e Gomorra, cidades condenadas e destruídas também porque adotaram como estilo de vida o pecado que a Bíblia chama de “abominação” (Gênesis 19:4, 5; Levítico 18: 22).

O tratamento dado à homossexualidade atualmente é apenas um aspecto do panorama mais amplo e degradante em que se encontra a sexualidade humana. Depois do famigerado beijo gay na TV, a escala descendente de perversão na mídia flerta com o casamento aberto (tipo de relacionamento em que o cônjuge libera o parceiro para a infidelidade), o poliamor (casamento com múltiplos parceiros) e outras aberrações do gênero.
Diante disso, o sempre presente adultério nas novelas brasileiras virou coisa pequena. Os reality shows popularizam todo tipo de perversão, incentivam a iniquidade e, o pior, arrebentam em audiência. Isso faz cumprir a descrição bíblica de que, nos últimos dias, os homens seriam “mais amantes dos prazeres do que amigos de Deus”.

Toda essa onda de pecaminosidade é encarada com a maior naturalidade do mundo. A respeito dessa insensibilidade humana para o erro, Isaías adverte: “Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal; que fazem da escuridade luz e da luz, escuridade; põem o amargo por doce e o doce por amargo! […] Por isso, se acende a ira do Senhor” (Isaías 5:20-25). A relativização do pecado apressa o derramamento do cálice da ira de Deus (Apocalipse 14:10).
Violência

A criminalidade se multiplica de maneira assustadora. Centenas de pessoas são mortas todos os dias. Periodicamente, novos assassinos em série são revelados. O tráfico de drogas só cresce, e o número de suas vítimas fatais sobe em proporções dantescas. Essa barbárie é explorada sadicamente em programas de televisão, o que insensibiliza ainda mais a consciência humana, que já está cauterizada. Filmes e séries retratam heroicamente a violência, glorificam a maldade e barateiam a morte.

Mais uma vez, Paulo acertou. Os homens são realmente “cruéis”, “implacáveis”, “inimigos do bem” e “sem domínio de si”. Sobra desamor em relação à vida humana, que, em alguns casos, é reduzida ao valor de coisas insignificantes. Roubos, latrocínios, assassinatos em série, chacinas, guerras e genocídios testemunham escandalosamente que o fim chegou.

Você pode estar pensando: “Mas sempre houve maldade no mundo. O que me diz que o fim realmente está próximo?” O que diferencia esta geração são as proporções gigantescas e a dimensão global da iniquidade. “Com a crescente atividade do príncipe do mal, é de se esperar que o curso milenar do mal chegue a um clímax de intensidade nos ‘últimos dias’” (Comentário Bíblico Adventista, v. 7, p. 358). O mundo em que vivemos dá sinais evidentes de que a iniquidade encontrou seu auge. Vemos todos os dias a representação mais perfeita da imoralidade predita para o fim.

Outro retrato

Sinais-retrato-falado-Jesus-fmt Ao mesmo tempo, outro retrato com traços completamente opostos tem sido pintado: a face de Jesus, estampada no rosto de seus filhos. Como luz em meio a trevas, o povo de Deus comunica ao mundo a iminência do retorno do Senhor (Apocalipse 14:6-12) e espera com ansiedade esse acontecimento (2 Pedro 3:12). A iluminação da Terra com a mensagem do evangelho indica também que o fim chegou (Mateus 24:14; Apocalipse 18:1).

A antítese entre o retrato de Jesus estampado na face de seus filhos e a selfie de Satanás publicada na sociedade é evidente. A atuação do povo de Deus ameniza as injustiças provocadas pelos ímpios, mas também acirra a oposição, o que resulta em perseguição e sofrimento. Por isso, a sociedade igualitária, sonhada nas utopias da modernidade, só será possível quando for estabelecido o reino de Deus na Terra (Isaías 65:17-25). Com o reflexo de Cristo em todos, o novo mundo será marcado por justiça, fraternidade, pureza e paz (2 Pedro 3:13).

Qual deve ser nossa postura diante desses quadros tão antagônicos que anunciam o fim de todas as coisas? Vamos deixar Jesus responder: “Ora, ao começarem estas coisas a suceder, exultai e erguei a vossa cabeça; porque a vossa redenção se aproxima” (Lucsd 21:28). Vem, Senhor Jesus! [Imagem: Fotolia]

Vinícius Mendes é editor associado na Casa Publicadora Brasileira

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Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.