A manifestação da glória divina na encarnação de Jesus
Wellington Barbosa
Era uma cena impressionante. Ao longe, as pessoas viam Moisés entrando na tenda do encontro, enquanto a coluna de nuvem se punha à porta. Aquele era o lugar em que o líder do povo de Deus se encontrava visivelmente com o Soberano de Israel. A distância não era casual, mas representava o contraste entre a santidade do Senhor e a pecaminosidade de Seu povo.
Naquele contexto, no qual Israel havia se rebelado e transgredido a aliança recém-estabelecida no deserto do Sinai, Moisés pediu uma coisa ao Senhor: “Se a Tua presença não for comigo, não nos faças sair deste lugar” (Êx 33:15). Diante da confirmação divina à sua súplica, o profeta deu um passo além e Lhe fez outro pedido: “Peço que me mostres a Tua glória” (v. 18).
Mais do que contemplar a luz que irradia de Deus, Moisés desejava ver Sua face. A resposta divina pressupõe a intenção do profeta (v. 20). Contudo, a barreira imposta pelo pecado impedia esse tipo de aproximação. Pouco tempo antes, o Senhor havia indicado o caminho pelo qual demonstraria Sua presença no meio do povo: o tabernáculo (Êx 25:8). Ali, ritos, móveis e utensílios representariam a permanência divina e ação salvífica em favor de Israel.
Apesar das limitações, Deus não privou Moisés de uma visão privilegiada e, em resposta, lhe disse: “Farei passar toda a Minha bondade diante de você […]. Quando a Minha glória passar, Eu porei você numa fenda da rocha e o cobrirei com a mão, até que Eu tenha passado. Depois, quando Eu tirar a mão, você Me verá pelas costas; mas a Minha face ninguém verá” (Êx 33:19, 22, 23).
Séculos depois, em uma estrebaria na cidade de Belém, o Deus que utilizou um santuário para Se esconder e colocou Moisés na fenda de uma rocha para preservá-lo agora usava a encarnação para Se revelar. O apóstolo João afirmou: “E o Verbo Se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a Sua glória, glória como do Unigênito do Pai” (Jo 1:14). Quanta profundidade em um único versículo!
A segunda pessoa da Divindade, assumindo natureza divino-humana, “tabernaculou” entre nós, tradução mais apropriada do verbo habitar (gr. sk?no?). Assim, a estrutura que havia sido estabelecida para demonstrar didaticamente o plano da salvação agora podia ser compreendida no Salvador. Jesus é a manifestação visível e concreta da “graça” (bondade e misericórdia) e da “verdade” (fidelidade e consistência) de Deus, a revelação plena da glória do Pai, que antes ficava escondida no lugar santíssimo do tabernáculo.
Portanto, a celebração do Natal não pode se limitar a uma festa na qual reunimos a família e os amigos para troca de presentes e uma deliciosa refeição. De fato, a ocasião é apropriada para refletir sobre a magnitude do plano da redenção, do mistério da encarnação e do amor divino em favor dos seres humanos. Tão importante quanto isso, também é uma oportunidade para reafirmar nossa entrega ao Salvador e nosso compromisso de compartilhar as boas-novas da salvação com aqueles que ainda estão perdidos.
WELLINGTON BARBOSA é editor da Revista Adventista
(Editorial da edição de dezembro/2024)
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Última atualização em 5 de dezembro de 2024 por Márcio Tonetti.