Devemos nos precaver das especulações enquanto aguardamos a vinda de Cristo
Wellington Barbosa
A Igreja Adventista do Sétimo Dia nasceu no berço da expectativa da iminente vinda de Jesus, conforme seu próprio nome indica. Movimento derivado do milerismo, que proclamou que o advento do Senhor ocorreria entre 1843 e 1844, a igreja, desde os seus primórdios como corpo organizado, tem repetido o ensino de Cristo de que “a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão o Pai” (Mt 24:36). No entanto, apesar da clareza das Escrituras, de vez em quando surgem expositores que procuram marcar uma data exata ou aproximada para o retorno do nosso Salvador.
Lembro-me de que, em certa ocasião, fui abordado por um membro da igreja que dizia ter participado de um pequeno grupo no qual tinha recebido um estudo abrangente e sólido, fundamentado na Bíblia e nos escritos de Ellen White, que indicava um período aproximado para a vinda de Cristo com base em algumas notícias do cenário religioso e político. O detalhe que chamava minha atenção era que o argumento se baseava em sérias distorções interpretativas das Escrituras e teorias de conspiração. Quando expressei minhas impressões iniciais, aquele irmão me respondeu que o defensor das ideias alegava que seu estudo era sério, e os pastores nunca haviam analisado detidamente seu material. Então, pedi-lhe que me emprestasse a apostila que havia recebido para avaliá-la.
O conteúdo era extenso e dava a impressão de ser profundo. Contudo, isso não passava da segunda página. Fazendo uma espécie de malabarismo teológico, o autor procurava defender seu ponto de vista com uma série de justificativas já refutadas consistentemente por estudiosos da igreja. Depois de ler as mais de 200 páginas do material, visitei aquele irmão com a apostila cheia de anotações e uma bolsa de livros e artigos que demonstravam os erros contidos nela. Com pouco mais de meia hora de conversa, aquele membro sincero da igreja se deu conta do equívoco apresentado e decidiu não mais participar daquele pequeno grupo.
O anseio pela vinda de Cristo em nossa geração não deve ser alimentado por especulações fantasiosas ou sentimentalismo vazio, mas pela Palavra de Deus
O anseio pela vinda de Cristo em nossa geração não deve ser alimentado por especulações fantasiosas ou sentimentalismo vazio, mas pela Palavra inspirada que tem sido o alicerce de uma fé robusta, madura e equilibrada ao longo dos séculos. Desejo muito que o Senhor venha tão logo quanto possível, mas minha vontade não pode me levar a contradizer a revelação bíblica, a fim de criar expectativas que emerjam de uma plataforma de conjecturas infundadas.
O teólogo Alceu Nunes, em seu estudo sobre movimentos apocalípticos, nos lembra de que “o equilíbrio deve ser mantido entre o desejo pelo reino dos céus e a submissão humilde ao cronograma divino, pois tudo acontecerá ‘na plenitude dos tempos’ (Gl 4:4) e em conformidade com os sábios desígnios e propósitos estabelecidos por Deus desde toda a eternidade” (O Dia de Sua Vinda [Unaspress, 2008], p. 116).
Assim, que as palavras do tradicional hino adventista reflitam nossa atitude equilibrada em relação à bem-aventurada esperança: “Orar, vigiar, eis a necessidade / Bem firmes os pés na bendita verdade / Descanso haverá na celeste cidade / Mas o dia não sei” (Hinário Adventista, nº 465).
WELLINGTON BARBOSA é editor da Revista Adventista
(Editorial da edição de setembro/2024)
Última atualização em 9 de setembro de 2024 por Márcio Tonetti.