Mais do que fãs

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A igreja precisa de membros que realmente entendam o que significa ser discípulos de Jesus

Wellington Barbosa

Crédito da imagem: Adobe Stock

Kyle Idleman, pastor e escritor norte-americano, fez uma observação perturbadora a respeito da condição de muitos membros de igreja: “Eu creio que Jesus tenha muitos fãs nestes dias. Fãs que torcem quando as coisas vão bem, mas que se distanciam quando chega um momento difícil. Fãs que se sentam confortavelmente nas arquibancadas para vibrar, mas que não sabem nada do sacrifício e sofrimentos do campo de jogo. Fãs de Jesus que sabem tudo sobre Ele, mas que não O conhecem” (Not a Fan [Zondervan, 2011], p. 25).

De fato, alguma coisa parece estar errada com o cristianismo. Observe, por exemplo, os países onde os evangélicos têm conquistado milhões de membros. Embora haja uma grande euforia em torno do nome de Jesus, o crescimento parece não ser acompanhado de uma reforma que transforme a vida das pessoas e comunidades alcançadas pelo evangelho.

Onde está o problema? Realmente, a igreja cristã parece estar repleta de fãs de Cristo, mas o chamado divino leva as pessoas para além disso. Mais do que agitação e discursos inflamados a respeito da teoria da verdade, é necessário que os cristãos vivam a verdade. Nesse processo, a palavra-chave que se destaca é discipulado. A comunidade de fé precisa ser formada por pessoas dispostas a viver o exemplo de Cristo e espalhar Seu bom perfume em todas as situações da vida (2Co 2:14, 15).

Discipulado não tem que ver com o quanto de conhecimento sobre Deus conseguimos transmitir, mas com o quanto de vida com Deus conseguimos compartilhar com aqueles que precisam conhecê-Lo

Assim, a teoria da vida cristã deve ser acompanhada pelo exemplo daqueles que já caminham com Cristo há algum tempo. Discipulado, não tem que ver com o quanto de conhecimento sobre Deus conseguimos transmitir, mas com o quanto de vida com Deus conseguimos compartilhar com aqueles que precisam conhecê-Lo. Em tempos de secularização, pluralização e privatização da fé, isso se torna um grande desafio. Afinal, o mandato de Jesus à Sua igreja foi: “Vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a guardar todas as coisas que tenho ordenado a vocês” (Mt 28:19, 20).

O livro de Atos demonstra que os primeiros cristãos entenderam a ordem do Mestre e impactaram o mundo em pouco tempo ao obedecê-la. Movida pelo Espírito, a igreja era fiel aos ensinos apostólicos, fervorosa em sua espiritualidade, poderosa em ações e palavras, intensa em sua vida comunitária, solidária diante das necessidades pessoais e agradável aos olhos do povo. Como resultado disso, “o Senhor lhes acrescentava, dia a dia, os que iam sendo salvos” (At 2:42-47).

Reviver essa dinâmica dos primeiros anos do cristianismo requer uma mudança de paradigma considerável, que começa pela compreensão de que o verdadeiro discípulo de Jesus permite que Sua soberania tenha efeito em todas as dimensões da vida, ­levando-o a uma dinâmica de existência em que cada pensamento, palavra ou ato revele Cristo às pessoas ao redor.

O discipulado é uma tarefa desafiadora, mas conta com a promessa do Senhor: “E eis que estou com vocês todos os dias até o fim dos tempos” (Mt 28:20). Na missão de converter fãs em seguidores, o Mestre não está na arquibancada, mas correndo lado a lado comigo e com você!

WELLINGTON BARBOSA é editor da Revista Adventista

(Editorial da edição de junho/2023)

Última atualização em 7 de junho de 2023 por Márcio Tonetti.