Poder na fraqueza

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Não há deficiência que limite a utilidade de uma pessoa para a obra de Deus

Wellington Barbosa

Crédito da imagem: Adobe Stock

A história adventista é composta de personalidades fascinantes, cuja vida apresenta lições de fé, superação e compromisso com a obra de Deus. Por exemplo, durante meio século, o ministério de publicações nos Estados Unidos contou com a mente perspicaz e pena ágil de Uriah Smith (1832-1903), provavelmente o pioneiro mais versátil da igreja. Entre outras atividades, ele foi editor, administrador, pregador, professor, autor, entalhador e inventor. É impossível imaginar o adventismo em seus primeiros 50 anos sem considerar a influência de Smith, cujos textos, hinos, livros e inventos ajudaram a forjar parte da identidade denominacional.

Outro importante líder do adventismo durante seu período de desenvolvimento foi Wolcott Littlejohn (1834-1916), que foi pastor, professor, administrador e escritor. Diante da necessidade de reabrir a Faculdade de Battle Creek, em 1883, a comissão diretiva da instituição entendeu que ele era a pessoa certa para encarar o desafio de recolocar a escola nos trilhos da missão educacional adventista. A contribuição de Littlejohn não se limitou à área da educação, mas foi reconhecida também nos textos que escreveu a respeito da liberdade religiosa, do sábado e das origens e crenças dos adventistas do sétimo dia.

Em terras brasileiras, uma personalidade admirável que desenvolveu um frutífero ministério foi Geraldo Marski (1913-2010). Pastor, administrador e capelão, trabalhou nas regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste do país. Por onde passou, deixou um legado de espiritualidade, disposição e serviço. Tive a oportunidade de conhecê-lo e ouvir algumas de suas histórias no período em que fui aluno do Iasp, atual Unasp, campus Hortolândia, na década de 1990. Sua presença agradável e capacidade de extrair lições espirituais de situações cotidianas eram capazes de fazer com que adolescentes deixassem a quadra de esportes para ouvi-lo falar nas arquibancadas do ginásio do colégio!

A IGREJA PRECISA SER UM ESPAÇO NO QUAL TODAS AS PESSOAS TENHAM CONDIÇÕES DE RECEBER ACOLHIMENTO, MULTIPLICAR SEUS TALENTOS E SE SENTIR VALORIZADAS

Em comum, além das contribuições que esses homens de Deus deram à igreja, há algo a mais: todos tinham algum tipo de deficiência. Uriah Smith teve sua perna esquerda amputada no início da adolescência; Wolcott Littlejohn perdeu a visão no início da fase adulta e Geraldo Marski foi vítima de uma doença nas pernas que o deixou manco. Apesar das dificuldades, eles não permitiram que sua condição física os impedisse de cumprir sua parte na vinha do Senhor. E assim deve ser! A igreja precisa ser um espaço no qual todas as pessoas tenham condições de receber acolhimento, multiplicar seus talentos e se sentir valorizadas.

No Brasil, estima-se que mais de 46 milhões de pessoas tenham alguma deficiência. Muitas delas são membros de nossas congregações, estão estudando a Bíblia conosco ou nos acompanham nos meios de comunicação. Desde 2011, a Igreja Adventista tem aperfeiçoado o atendimento a esse importante grupo. Recentemente, a sede sul-americana estabeleceu o Ministério Adventista das Possibilidades, que possui quatro subdivisões: ministério dos surdos, da saúde mental e bem-estar, de cegos e baixa visão e da deficiência física e mobilidade reduzida. Assim, espera-se que as igrejas e sua liderança trabalhem em três estágios: conscientização, aceitação e ação.

Uriah Smith, Wolcott Littlejohn e Geraldo Marski são exemplos de que nenhuma deficiência limita o poder divino que se aperfeiçoa na fraqueza (2Co 12:9). O que temos feito para que muitos outros, em situações semelhantes, deixem sua contribuição na história do povo de Deus?

WELLINGTON BARBOSA é editor da Revista Adventista

(Editorial da edição de fevereiro/2023)

Última atualização em 13 de fevereiro de 2023 por Márcio Tonetti.