Presença fiel

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A influência cristã que promove a verdadeira paz

Wellington Barbosa

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James Davison Hunter, professor de religião, cultura e teoria social da Universidade da Virgínia, articulou de maneira muito interessante o conceito bíblico da influência do cristão, denominando-o teologia da presença fiel. Para o autor, “uma teologia de presença fiel nos obriga a fazer o que somos capazes, sob a soberania de Deus, para moldar os padrões de vida, trabalho e relacionamento – ou seja, as instituições das quais nossa vida é constituída – em direção a uma shalom que busca o bem-estar não apenas da casa de Deus, mas de todos” (To Change the World [Oxford, 2010], p. 254).

Shalom, palavra hebraica traduzida geralmente como paz, é um termo que vai além da ausência de conflito. Inclui o senso de segurança, satisfação, bem-estar, saúde, completude e bênção. A expressão permeia toda a Bíblia, indicando o Senhor como a Fonte suprema da shalom (Sl 29:11; 2Ts 3:16). Paulo, por exemplo, em suas cartas, frequentemente saudava a igreja com “graça e paz” (Rm 1:7; 1Co 1:3; 2Co 1:2). Ele também exortou os membros para que seguissem “as coisas que contribuem para a paz” (Rm 14:19) e, efetivamente, vivessem em paz (1Co 7:15; 2Co 13:11).

Essa ideia, porém, não estava confinada à comunidade de Israel. No 6º século a.C., o profeta Jeremias, ao transmitir a mensagem divina aos cativos babilônicos, escreveu: “Assim diz o Senhor dos Exércitos […]: Procurem a paz [shalom] da cidade para onde Eu os deportei e orem por ela ao Senhor; porque na sua paz vocês terão paz” (Jr 29:4, 7). A ordem inequívoca é única no Antigo Testamento: os exilados deveriam orar por Babilônia e procurar a “segurança, satisfação, bem-estar, saúde e completude” dela. Que desafio, considerando o contexto de hostilidade e destruição demonstrados pelos exércitos de Nabucodonosor ao invadir Jerusalém, em 586 a.C.! Apesar disso, Deus esperava que Seu povo fosse um canal de bênçãos para o Império Babilônico.

SEJA POR MEIO DE AÇÕES PERCEPTÍVEIS OU IMPERCEPTÍVEIS, TEMOS A RESPONSABILIDADE DE TORNAR MELHOR A VIDA DAS PESSOAS

No Sermão do Monte, Jesus expressou o desejo de que Seus discípulos influenciassem positivamente a comunidade, dizendo: “Vocês são o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens” (Mt 5:13). Cristo poderia ter ordenado aos Seus seguidores que se apartassem do mundo; contudo, Sua orientação foi em sentido contrário. Ellen White, ao comentar esse texto, afirmou: “O sal deve ser misturado com a substância em que é posto; é preciso que penetre a fim de conservar. Assim, é com o contato pessoal e a convivência que as pessoas são alcançadas pelo poder salvador do evangelho. […] O sabor do sal representa o poder do cristão – o amor de Jesus no coração, a justiça de Cristo penetrando a vida. O amor de Cristo tem a natureza de se difundir e penetrar. Caso em nós habite, fluirá para outros. Nós nos aproximaremos deles tanto que seu coração será aquecido por nosso abnegado interesse e amor” (O Maior Discurso de Cristo [CPB, 2022], p. 29).

Embora nossa condição seja diferente da dos israelitas que foram cativos em Babilônia, nós também estamos em um exílio. Até que possamos voltar a Jerusalém, devemos nos empenhar pela shalom da comunidade que nos cerca. Seja por meio de ações perceptíveis ou imperceptíveis, temos a responsabilidade de tornar melhor a vida das pessoas, a fim de que vejam o caráter divino por nosso intermédio e “glorifiquem o Pai […] que está nos céus” (Mt 5:16). 

WELLINGTON BARBOSA é editor da Revista Adventista

(Editorial da Revista Adventista de março/2024)

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Última atualização em 14 de março de 2024 por Márcio Tonetti.