Saiba como evitar que sua liderança seja comprometida pela incoerência, injustiça e imoralidade
Há alguns dias temos acompanhado os desdobramentos de um dos maiores escândalos envolvendo a produção de alimentos no Brasil das últimas décadas. De acordo com investigações da Polícia Federal, alguns frigoríficos estariam utilizando recursos ilícitos para o reaproveitamento de carnes impróprias para o consumo humano na fabricação de produtos processados. A notícia caiu como uma bomba no mercado internacional. Imediatamente, grandes importadores da Europa e da Ásia se movimentaram para barrar a entrada de carne brasileira em seus países.
O impacto para nossa economia foi imediato. De um dia para o outro, a balança comercial sofreu uma parada brusca: o volume de exportações de carne, que era de 63 milhões de dólares diariamente, foi a praticamente zero. No médio prazo, conforme estima o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, a perda anual deverá ser de 1 bilhão e meio de dólares. É difícil prever quais serão todas as consequências desse procedimento desastroso de algumas indústrias, considerando que 7,3% do PIB nacional são provenientes do setor de produção de proteína animal e que 7,1 milhões de pessoas trabalham na produção de carne no Brasil.
Longe de entrar no mérito sobre a pertinência ou não do consumo de carne – embora o ideal bíblico seja que estejamos cada vez mais próximos de uma alimentação rica em cereais, frutas, nozes e verduras – chama a atenção todas as implicações que a falta de integridade de algumas pessoas que se encontram nesse vasto e complexo setor da economia brasileira têm sobre a vida de milhões de pessoas, tanto de quem trabalha na cadeia produtiva quanto de quem se encontra na cadeia de consumo.
O fato é que, em virtude do “apodrecimento” de alguns elos de liderança das empresas envolvidas, milhões de trabalhadores e consumidores serão afetados por “sabe-se lá” quanto tempo, nessa crise que vem em péssima hora no contexto do país. A realidade é que não podemos mensurar exatamente quanto a falta de integridade pode prejudicar os rumos de famílias, empresas ou da economia de uma nação.
Por definição, a palavra integridade, muito usada no contexto da administração como sendo a base de uma liderança excelente, tem que ver com: “(1) qualidade de íntegro; (2) caráter daquilo a que não falta nenhuma das suas partes; (3) estado de são, de inalterável; (4) retidão, honradez, pureza inata” (Dicionário Aurélio Online). Podemos tornar mais claro esse conceito dizendo que ela é, como expressam Robert Moorman e Steven Grover, “a consistência entre o que um líder diz e o que um líder faz” (ver mais em “Why does leader integrity matter to followers?”, International Journal of Leadership Studies, v. 5, n. 2, 2009). A partir dessas ideias, quando podemos dizer que a integridade de um líder “apodrece”?
Em primeiro lugar, a integridade apodrece quando o líder é incoerente em suas ações. O ditado popular “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço” expõe essa condição de modo muito simples, mas verdadeiro. Lorin Woolfe é preciso ao afirmar que “mais de 90% das quinhentas empresas indicadas como as melhores pela revista Fortune têm uma declaração de ética. Para muitas delas, porém, essas declarações não passam de escritos na parede” (Liderança na Bíblia, 2009, p. 31). Líderes verdadeiros entendem que a integridade não está relacionada a discursos, mas à vida.
A integridade também apodrece quando o líder é injusto. Mas voltemos ao caso da “carne podre”. Todo o problema se deu em virtude de um esquema de propina que envolvia funcionários das empresas envolvidas e fiscais públicos para que ignorassem as ilegalidades. Certamente, qualquer pessoa ciente do comportamento desonesto dos envolvidos nesse caso jamais confiaria nas atitudes e nos julgamentos deles. Assim, o líder verdadeiro demonstra sua integridade por meio de decisões justas e imparciais, independentemente de quem será prejudicado ou beneficiado.
Por último, a integridade apodrece quando o líder é imoral. Qualquer pessoa em posição de liderança que despreza a moralidade e conspira contra o bem-estar e a dignidade do próximo demonstra que nunca deveria estar à frente de qualquer empreendimento. Se você observar a raiz dos escândalos que diariamente preenchem as manchetes dos grandes meios de comunicação, notará a mistura de ganância, arrogância e luxúria na maioria deles. Líderes verdadeiros têm profundo compromisso com a moralidade e permanecem “firmes pelo que é reto, ainda que caiam os céus” (Educação, p. 57).
Jesus afirmou no Sermão do Monte que seus seguidores são o “sal da Terra” (Mt 5:13). Nos dias de Cristo, como em nossos dias, o sal era muito apreciado por duas características básicas: sua capacidade de dar sabor aos alimentos e de conservá-los, evitando assim que apodrecessem. Para mim, parece óbvia a aplicação desse texto, em um mundo cada vez mais deteriorado. O cristão deve ser, em sua esfera de influência e liderança, o elemento que destoa da incoerência, da injustiça e da imoralidade prevalecente, trazendo o sabor e as virtudes do que é sadio e benéfico para aqueles que estão ao seu redor.
WELLINGTON BARBOSA, graduado em Teologia e Administração, é editor na Casa Publicadora Brasileira e cursa o doutorado em Ministério na Universidade Andrews (EUA)
Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.