Não há barreiras que impeçam Deus de agir para salvar o ser humano
Wellington Barbosa
Há poucos dias, ouvi um sermão sobre uma personalidade das Escrituras que me levou a refletir sobre algo que muitas vezes passa despercebido. Geralmente, ao falarmos de Raabe, destacamos sua condição social (Js 2:1), enfatizamos sua fé em Deus (Hb 11:31) e, mais importante, sua presença na genealogia de Jesus (Mt 1:5). Contudo, antes que essas coisas pudessem acontecer, ao levantar as cortinas que nos conduzem à realidade espiritual, percebemos detalhes no relato que enchem o coração de esperança e gratidão.
No Êxodo, quando Israel saiu do Egito, a expectativa de tomar posse de Canaã era evidente. As manifestações divinas em favor de Seu povo eram impressionantes: a nuvem de proteção durante o dia, a coluna de fogo à noite e a entrega da Lei no Sinai são exemplos de que Deus estava empenhado em cumprir Sua promessa, permitindo que a descendência de Abraão herdasse logo a Terra Prometida.
No entanto, a dureza do coração do povo e o apego aos costumes pagãos levaram o Senhor a manifestar Sua ira diante de episódios de idolatria (Êx 32), murmuração (Nm 11) e rebeldia (Nm 12). Ainda assim, Deus permaneceu disposto a conduzir Israel até a herança prometida aos patriarcas. Como prova de Seu propósito, ordenou a Moisés que enviasse espias a Canaã com a missão de avaliar a condição do povo, as características das cidades e a qualidade da terra (Nm 13:17-20).
Após 40 dias, os 12 representantes dos filhos de Israel retornaram com um dos mais famosos relatórios de uma expedição de reconhecimento militar: a terra era extraordinária, mas as cidades eram fortificadas e seus habitantes, poderosos (Nm 13:27-29). Apesar das aparências, Calebe, confiando nas grandes manifestações divinas em favor do povo, encorajou a congregação a confiar e avançar na conquista (v. 30). No entanto, ele e Josué foram votos vencidos. A falta de fé dos outros dez espias contaminou o povo, levando-o à rebelião. Não fosse a intervenção divina, os espias fiéis teriam sido apedrejados (Nm 14:10).
O SENHOR DESEJA ALCANÇAR PESSOAS POR NOSSO INTERMÉDIO, LEVANDO-NOS AO ENCONTRO DELAS
Esse ponto crítico da história fez com que a conquista de Canaã, que poderia ter acontecido em pouco tempo, fosse adiada por 40 anos (Nm 14:34). Daquela geração de líderes, apenas Josué e Calebe herdaram a terra, liderando os filhos daqueles que haviam duvidado do poder de Deus (v. 29-32).
Ao final de quatro décadas, no tempo determinado, parte da história se repetiu. Agora, quem estava à frente de Israel era Josué, e sua ordem a apenas dois espias foi: vão e observem a terra de Jericó (Js 2:1). Nesse contexto, eles encontraram Raabe, uma mulher marginalizada e de má reputação, mas que possuía uma visão elevada sobre Deus e a misericórdia que Ele poderia conceder a ela e à sua família (Js 2:11-13).
Embora não saibamos a idade de Raabe, é razoável supor que ela tivesse menos de 40 anos, o que nos leva a algumas perguntas intrigantes. De que maneira ela aprendeu sobre os grandes feitos do Senhor em favor de Israel, desde a abertura do mar Vermelho até aquele momento? Como sua compreensão de Deus foi moldada, considerando as percepções que ela possuía sobre o poder, a misericórdia e a fidelidade divinas? Quem poderia ajudá-la a crescer na fé em circunstâncias tão adversas?
A história de Raabe ilustra o propósito salvífico do Senhor para a humanidade. De fato, Ele conduziu dois espias desconhecidos a um território hostil com um único objetivo: encontrar uma pessoa que, por anos, havia sido influenciada pelo Espírito Santo, para que ela se tornasse parte de Seu povo. Hoje, por nosso intermédio, Deus deseja fazer o mesmo. Temos sido sensíveis à Sua voz e obedientes ao Seu comissionamento?
WELLINGTON BARBOSA é editor da Revista Adventista
(Editorial da edição de fevereiro/2025)
Última atualização em 3 de fevereiro de 2025 por Márcio Tonetti.