Aliança eterna

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Livro analisa o papel da lei e do evangelho no relacionamento entre Deus e Seu povo

Guilherme Silva

Foto: Divulgação / CPB

Por que Jesus afirma que veio para cumprir os mandamentos (Mt 5:17), mas o apóstolo Paulo diz que o fim da lei é Cristo (Rm 10:4)? Que lugar ocupam a lei e o evangelho na aliança de Deus com Seu povo? Cristãos das mais diferentes confissões religiosas acreditam que, na era do Novo Testamento, a lei foi substituída pela graça. Desse modo, quem vive no Espírito estaria livre do jugo dos mandamentos.

Ellen White, pioneira adventista, alerta: “Nenhum erro aceito pelo mundo cristão fere mais audaciosamente a autoridade do Céu, nenhum se opõe mais diretamente aos ditames da razão, nenhum é mais pernicioso em seus resultados do que a doutrina moderna, que tão rapidamente ganha terreno, de que a lei de Deus não mais vigora para os homens” (O Grande Conflito, p. 584).

Muitos intérpretes bíblicos falham em enxergar a realidade de que o Deus dos mandamentos é o mesmo Deus da cruz (Êx 33:18-23, Jo 1:14-18). Em meio à grande confusão de interpretações que opõem a graça à lei, o livro O DNA das Alianças (CPB, 2021, 256 páginas), de Skip MacCarty, traz uma importante contribuição à compreensão desse tema.

MacCarty é doutor em Ministério pela Universidade Andrews (EUA) e serviu por mais de duas décadas como pastor associado da Pioneer Memorial Church, no campus da universidade. Sua abordagem é solidamente bíblica e brotou dos questionamentos enfrentados ao longo de seu ministério.

Sua obra analisa em detalhes a relação entre o Antigo e o Novo Testamentos e qual é o papel da lei e do sábado para o povo de Deus após a cruz. Segundo o autor, as alianças feitas pelo Senhor em diferentes situações ao longo da história são unidas pelo amor divino que se estende de eternidade a eternidade.

A grande contribuição de MacCarty está em demonstrar que muitos trechos bíblicos falam da antiga e da nova aliança não em termos de um período histórico ou uma fase do relacionamento entre Deus e a humanidade. Para o autor, essas duas alianças são defi nidas, em muitos casos, como uma experiência vivida em qualquer época ou lugar.

A nova aliança é vista como uma experiência com base na graça, que produz fé, contém o evangelho e está voltada para a missão. Esses quatro elementos, extraídos de Jeremias 31:33, 34 e Hebreus 8:10 a 12 , são apontados como os marcadores do DNA da experiência de nova aliança, em que a lei de Deus continua válida, é internalizada pelo crente e vivida pela graça e no poder do Espírito.

A experiência de antiga aliança, pelo contrário, é o retrato da lei restrita à pedra, vivida de maneira externalizada, com aparência de piedade, mas destituída do poder do Espírito. Um exemplo disso pode ser visto em 2 Coríntios 3:6, em que o apóstolo Paulo afi rma que “a letra mata, mas o Espírito vivifi ca”. Nesse caso, a referência negativa à lei não retrata um período histórico, mas a experiência da obediência externa de um coração não transformado.

Ao longo de toda a obra, o livro demonstra que o Deus soberano é autor de uma lei perpétua, de uma graça infi nita e de uma aliança eterna. Portanto, a graça não nos livra da lei, mas nos habilita a vivê-la pela fé. Até as últimas consequências.

TRECHO

“Em Suas diversas alianças com os seres humanos, Deus revelou progressivamente Sua natureza como um Deus de graça, compaixão, amor, justiça, justificação, verdade e perdão. […] A graça e a verdade, proclamadas na palavra de Deus ao Seu povo no Sinai, foram encarnadas em Cristo e habitaram entre nós” (p. 56).

GUILHERME SILVA é pastor, jornalista e editor de livros na CPB

(Resenha publicada na edição de maio de 2021 da Revista Adventista)

Última atualização em 10 de junho de 2021 por Márcio Tonetti.