Reflexão necessária

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As teologias contextuais e a doutrina adventista

Wellington Barbosa

Foto: Adobe Stock

O pós-modernismo, movimento que se desenvolveu ao longo do século 20, teve implicações profundas em diferentes áreas do pensamento, incluindo o campo teológico. Possivelmente, a principal delas tenha sido propor uma abordagem de interpretação bíblica que valoriza a experiência do leitor acima daquilo que se encontra revelado no texto sagrado. Como resultado, as últimas décadas testemunharam a elaboração de teologias contextuais que relativizam a verdade absoluta das Escrituras e enfatizam a definição de “verdade” a partir da visão e experiência de um grupo ou comunidade.

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Em anos recentes, a influência desse pensamento tem sido observada em alguns círculos adventistas, e isso deve servir de alerta para nós. Historicamente, nossa igreja tem crido que as “Escrituras Sagradas são a revelação infalível, suprema e repleta de autoridade” da vontade de Deus. Elas “constituem o padrão de caráter, a prova da experiência, o revelador definitivo de doutrinas e o registro fidedigno dos atos de Deus na história” (Nisto Cremos [CPB, 2018], p. 11).

Adotando princípios interpretativos estranhos às Escrituras, algumas pessoas desejam refundar a fé mais preocupados com o espírito do tempo do que com a iluminação do Espírito Santo

Assim, considerando o compromisso do adventismo com a centralidade da Palavra, o que poderia justificar a adesão de alguns membros a pressuposições teológicas incompatíveis com a declaração expressa em nossa Crença Fundamental número 1? Não tenho a pretensão de ser dogmático neste editorial, mas parece-me que as principais causas são:

1. Desconhecimento. De maneira geral, as teologias contextuais favorecem grupos que, ao longo do tempo, têm lutado por justiça social. Embora as pautas defendidas mereçam atenção, a elaboração teológica que as sustenta ignora elementos que são fundamentais para a doutrina adventista como, por exemplo, a inspiração, confiabilidade e veracidade da Bíblia. Desconhecendo as implicações disso para a fé, e até mesmo o que a revelação divina diz a respeito das soluções dos problemas discutidos, alguns membros embarcam em movimentos que aparentemente estão corretos em sua vindicação, mas equivocados em seus pressupostos e métodos de ação.

2. Desequilíbrio. Há também membros que conhecem a Bíblia, identificam nela os argumentos que lidam com as dificuldades enfrentadas por grupos que carregam marcas profundas de injustiça, mas defendem uma abordagem desequilibrada de resolução. De fato, uma leitura cuidadosa das Escrituras indica que Deus não quer lidar com o problema humano em um nível superficial. A transformação das estruturas opressivas só ocorre quando se considera a essência pecaminosa do ser humano. Por mais bem-intencionada que seja a reivindicação social, se ela não considerar a conversão das pessoas ao evangelho genuíno, será uma tentativa parcial e frustrada de solução.

3. Distorção. Por fim, alguns abraçaram intencionalmente pressupostos desconstrucionistas e visam redefinir as crenças e práticas adventistas a partir de sua metodologia desejam refundar a fé mais preocupados com o espírito do tempo do que com a iluminação do Espírito Santo. Assim, defendem soluções para problemas sociais sob uma perspectiva humanista, com um revestimento teologicamente enviesado.

O período em que vivemos é desafiador e demanda de nós uma postura sábia. O adventismo nasceu em uma época de grande efervescência social e conseguiu deixar sua marca como um movimento profundamente comprometido com as Escrituras, engajado com a sociedade e equilibrado em seus posicionamentos. Precisamos manter vivas essas características em nossos dias.

WELLINGTON BARBOSA é editor da Revista Adventista

(Editorial da edição de julho/2023)

Última atualização em 20 de julho de 2023 por Márcio Tonetti.