A história do Museu de Arqueologia Bíblica

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Conheça a trajetória de uma iniciativa que é única na América Latina

Wendel Lima

O MAB abriu oficialmente as portas no dia 12 de novembro. Foto: AICOM

O trabalho de campo em um sítio arqueológico envolve pelo menos duas tarefas: (1) escavar as várias camadas, trazendo à tona artefatos, inscrições e construções do passado; (2) e interpretar esses achados, identificando o período deles e os correlacionando com outras informações. Por isso, vamos seguir o mesmo processo com a história do Museu de Arqueologia Bíblica (MAB): escavar suas camadas e tentar interpretar seu significado.

1º Período: O sonho e a formação do acervo inicial

Em grande medida, a trajetória do MAB está ligada à contribuição de três doutores: Paulo Bork, Ruben Aguilar e Rodrigo Silva. Tudo começou na década de 1920, quando uma valiosa coleção de tabletes babilônicos foi oferecida para o Pacific Union College (PUC), instituição adventista da Califórnia (EUA). Resultado: dois desses artefatos do período patriarcal (2000 a.C.) acabaram sendo adquiridos para fins didáticos.

No entanto, como o PUC não tinha um museu arqueológico, os dois tabletes ficaram guardados por algumas décadas, até que foram dados ao Dr. Paulo F. Bork (1924-2015), arqueólogo brasileiro que, por vários anos, lecionou nessa instituição. Nos anos seguintes, o Dr. Bork foi ampliando sua coleção por meio de doações e aquisições. O sonho dele era destinar esse pequeno acervo e parte de sua biblioteca para o Instituto Adventista de Ensino (IAE), onde ele havia estudado na década de 1940.

Porém, foi apenas em 1994 que isso se concretizou: a coleção de Bork, com cerca de 200 livros e 110 peças, chegou ao campus Engenheiro Coelho. Os livros foram logo incorporados ao acervo da biblioteca universitária, enquanto os objetos foram guardados na caixa forte do Centro de Pesquisas Ellen G. White.

2º Período: Organização e estabelecimento

Nessa época, o Dr. Ruben Aguilar Santos, professor de Arqueologia Bíblica do IAE e exímio desenhista, foi encarregado de elaborar o projeto de um museu, onde os referidos objetos pudessem ser expostos. Em 1996, uma sala foi designada para essa finalidade, e o professor Aguilar começou o trabalhoso processo de desenhar os móveis e a disposição das peças do pequeno museu. Mas ele teve que refazer quase todo seu trabalho quando foi avisado de que o espaço destinado para o acervo havia sido reduzido.

Em julho de 1997, os desenhos estavam prontos e o projeto foi aprovado pela direção do campus. O mobiliário foi executado com eficiência pela equipe da marcenaria liderada por Deusdedith Dantas Muniz; porém, a falta de orçamento para a compra de pequenos equipamentos e a contratação de um funcionário para cuidar da visitação ao museu postergou a inauguração do espaço.

No fim de 1999, entendeu-se que seria melhor o futuro museu ficar sob a tutela do Centro Nacional da Memória Adventista. Nessa época, sob a liderança do Dr. Alberto Timm, a equipe era formada pelos professores Ruben Aguilar e Rodrigo Silva, como curadores adjuntos. Meses depois, em 16 de maio de 2000 é que finalmente o Museu de Arqueologia Bíblica Paulo Bork foi inaugurado, com o acervo formado por aquelas 110 peças doadas nos anos 1990, além de várias moedas do tempo de Cristo e dois vasos e uma lâmpada da época de Moisés, doadas pelos doutores Siegfried J. Schwantes e Milton S. Afonso.

Milton Afonso e Rodrigo Silva, nas dependências do novo museu. Foto: AICOM

3º Período: Divulgação do conhecimento e expansão

Contudo, foi a gestão do Dr. Rodrigo Silva, a partir do ano 2000, que mudou o rumo do MAB, levando a instituição para outro nível de visibilidade. Se, no passado, as doações para o museu vinham principalmente na forma de acervo e a partir do interesse de acadêmicos e administradores da Igreja Adventista, nos últimos anos, as doações passaram a vir em forma de likes, views e das mensalidades dos mais de 30 mil alunos do curso livre e on-line A Bíblia Comentada.

Essa projeção do museu e popularização da área da arqueologia bíblica, evidentemente, não ocorreram da noite para o dia nem foram fruto do acaso. Nos últimos 20 anos, o MAB investiu em divulgação do conhecimento, associando seu nome à publicação de livros, entrevistas para programas televisivos e podcasts de grande audiência, às pesquisas acadêmicas de universidades públicas, escavações no Oriente Médio, cursos de pós-graduação, congressos internacionais sediados no Unasp e ao documentário semanal Evidências, que é veiculado na TV Novo Tempo desde 2007.

Doutor Rodrigo Silva, arqueólogo responsável pelo MAB, apresenta o novo espaço. Foto: AICOM

Certamente, hoje o MAB vive seu melhor momento: nunca teve tanta visibilidade e recebeu tanto investimento, inclusive de reforço na sua equipe. Por isso, o museu abre suas portas tendo como staff o Dr. Rodrigo Silva como diretor e arqueólogo; a Dra. Janaína Xavier, como museóloga e conservadora; Sérgio Micael Santos, como historiador; Ygor Lebrank de Melo na área educativa e Lucas de Souza Carvalho Santos, como assistente administrativo e de curadoria.

Significado

Por fim, reflito aqui sobre o que simboliza essa inauguração. Em seus três campi, o Unasp é caracterizado por reunir construções históricas e singulares do adventismo brasileiro, dignas de visitação e “peregrinação”. Porém, com a inauguração do MAB, nossa instituição passa a abrigar um espaço cultural cuja relevância transcende a tradição adventista, pois representa a preservação da memória coletiva de grupos religiosos herdeiros da fé judaico-cristã.

Portanto, a inauguração do MAB em prédio próprio representa, em primeiro lugar, um grande ganho cultural para nossa região e país, pois permitirá o acesso às coleções arqueológicas que ampliam o conhecimento sobre a Bíblia e a cultura dos povos do Oriente Médio e do mundo mediterrâneo.

Em segundo lugar, a inauguração do MAB representa um novo impulso para a pesquisa e produção de conhecimento científico. Isso porque pesquisadores de universidades públicas como a USP, UnB e UFRJ já consultaram o acervo do MAB; contudo, agora, a arqueologia bíblica passa a ser uma das linhas de pesquisa do futuro mestrado em Teologia e poderá ser objeto de estudo de todos os níveis educacionais do Unasp.

Finalmente, a inauguração do MAB tem uma dimensão espiritual. Afinal, a arqueologia tem desempenhado um papel crucial no exame da historicidade da narrativa bíblica, permitindo a identificação de locais mencionados na Bíblia, o estabelecimento de cronologias mais precisas e enriquecido a compreensão dos aspectos culturais e linguísticos que permeiam o texto sagrado.

Por essa razão, quando os visitantes do MAB entrarem neste campus e virem esse prédio erguido, vão testemunhar o compromisso deste centro universitário confessional e da igreja que o mantém, com a autoridade normativa das Escrituras. E quando os visitantes do MAB entrarem no museu, vão experimentar um pouco do que se sente no campo de escavações: uma conexão especial com pessoas reais, fatos e eventos do passado.

Que o MAB nos ajude a ler a Bíblia com outro olhar, a perceber a atuação de Deus na história da humanidade e a confiar que o texto bíblico ainda pode nos orientar nesta época complexa que precede a volta de Jesus à Terra.

WENDEL LIMA, pastor e jornalista, atua como pró-reitor de Desenvolvimento Espiritual do Unasp (discurso lido durante o programa de inauguração do MAB)

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Última atualização em 14 de novembro de 2023 por Márcio Tonetti.