Tesouros da arqueologia bíblica

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Museu de Arqueologia Bíblica (MAB) é inaugurado no Unasp, campus Engenheiro Coelho. Conheça algumas das raridades desse acervo composto por mais de 3 mil peças

Márcio Tonetti

Como arqueólogo responsável pelo MAB, o Dr. Rodrigo Silva sonhou com este projeto e possibilitou que ele alcançasse uma visibilidade sem precedentes. Foto: AICOM

A arqueologia tem possibilitado a leitura tridimensional do texto bíblico. E você não precisa ir tão longe para conhecer algumas das grandes descobertas que comprovam a historicidade do texto sagrado. O Museu de Arqueologia Bíblica (MAB), inaugurado neste domingo (12), no Unasp, campus Engenheiro Coelho (SP), busca oferecer essa imersão. Primeiro do tipo no Brasil, o espaço conta com um acervo de mais de 3 mil peças, sendo que 80% delas são originais, todas devidamente autorizadas pelos órgãos governamentais responsáveis dos países de origem.

Cerca de 2 mil pessoas foram testemunhar esse momento histórico para a igreja no Brasil. Afinal, foi a concretização de um sonho que começou décadas atrás e envolveu muitos desafios, mas também muita dedicação e generosidade.

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“As pessoas não virão apenas para visitar o MAB, mas sim para ter uma experiência imersiva”, destacou o doutor Rodrigo Silva, arqueólogo responsável pelo museu, na abertura do programa.

O projeto da construção do prédio que agora chama a atenção na entrada do campus contou com o aporte financeiro de instituições da igreja, empresários, influenciadores digitais, entre outros doadores, cujos nomes foram escritos em uma parede logo à entrada do museu.

Durante o programa de inauguração, também foi destacada a importante contribuição dos mais de 30 mil alunos do curso on-line “A Bíblia Comentada”, ministrado pelo doutor Rodrigo Silva, possibilitando que o valor das mensalidades fosse direcionado para o MAB. Aliás, o nome de cada um deles está registrado em um livro que foi produzido para ficar exposto no museu.

“Tenho estudado a Bíblia com o doutor Rodrigo, e foi maravilhoso estar presente na abertura do Museu de Arqueologia Bíblica”, ressalta Rodrigo Ferreira Félix, que veio do Rio de Janeiro, juntamente com a esposa e a filha, para acompanhar a cerimônia.

EXPLORANDO O MUSEU

A coleção do MAB inclui objetos que datam de aproximadamente 2 mil antes de Cristo até por volta de 330 depois de Cristo. Foto: AICOM

Até mesmo no chão do MAB, há detalhes históricos interessantes, uma vez que, logo na entrada, existe uma rara réplica do piso do templo de Jerusalém na época de Jesus. Além disso, o visitante tem a sensação de estar entrando em um sítio arqueológico.

Piso com detalhes semelhantes ao que existia no templo de Jerusalém na época de Jesus. Foto: André Vasconcelos

Outro aspecto curioso é a seção introdutória que se propõe a mostrar a importância da Bíblia, como ela surgiu e o modo como chegou até nós. Chama a atenção um exemplar da Vulgata Latina, publicado em 1542. Trata-se de uma das primeiras Bíblias impressas no Ocidente depois da prensa de tipos móveis de Gutenberg. O volume integra uma coleção de obras antigas doadas pelo empresário Milton Soldani Afonso, um dos grandes apoiadores do projeto que esteve presente no evento.   

Percorrendo as demais seções, veem-se objetos que datam de 2 mil antes de Cristo até por volta de 330 depois de Cristo. Do período do Bronze Antigo, por exemplo, quando foi inventada a escrita, há um tinteiro de alabastro (tipo de pedra) que mostra como os escribas produziam seu material, além de tabletes cuneiformes originais, incluindo um que veio da cidade de Ur dos Caldeus, onde viveu Abraão.

Outra raridade é uma lamparina com mais de 4 mil anos, que, apesar da idade, ainda apresenta marcas de queimado. Inclusive, vale a pena conhecer o painel que mostra a evolução das lamparinas, exemplificando como esses artefatos cerâmicos mudaram ao longo do tempo. Aliás, dentre as milhares de peças do acervo, a que inspirou o logotipo do MAB foi justamente a lamparina a óleo, que simboliza o propósito de ser luz para todos que por ali passarem.

Existe também uma réplica em tamanho natural do famoso Código de Hamurabi, cujo original está no Museu do Louvre, em Paris (França). Esse importante artefato, de 1750 a.C., traz as leis do rei da Babilônia, semelhantes, em certos aspectos, aos estatutos que vemos nos escritos de Moisés.

Já do período em que os hebreus estavam no Egito, destaca-se a réplica da Estela de Merneptá, que apresenta o registro feito por um faraó dos lugares que ele conquistou. Nesse artefato, o monarca egípcio descreve uma batalha contra Canaã e contra Israel, mostrando que, no século 14 a.C., Israel já existia como país naquele mesmo lugar. Vale a pena ver também alguns vasos cananeus originais.

Na seção alusiva ao Período do Ferro, está exposta uma réplica da Estela de Tel Dan, que traz a expressão “casa de Davi” (que aparece na Bíblia), forte evidência de que esse importante monarca realmente existiu. E, passando pela seção sobre o Período Persa, que remonta a 550 a.C., época em que os judeus saíram da Babilônia, é possível conhecer o Cilindro de Ciro, objeto de argila que traz inscrições acerca de como ele conquistou a Babilônia sem batalha.

Porém, em meio a tantas peças, uma das que mais fascina o doutor Rodrigo Silva é um tijolo original que menciona o rei que conquistou Judá, destruiu o templo de Jerusalém e levou o povo de Israel cativo para a Babilônia em 609 a.C. (para saber como esse artefato chegou ao museu e foi decifrado, clique aqui).

Para a doutora Janaína Xavier, que faz parte da equipe responsável pelo MAB, uma iniciativa assim permite uma proximidade muito maior com o texto bíblico. “A coleção do museu tem muitas peças que eram usadas no cotidiano, o que nos permite entender como era a vida das mulheres, das crianças, dos jovens; ou como era estudar e se alimentar, por exemplo, naqueles dias. São detalhes de um acervo que oferece um aprendizado muito rico”, destaca a museóloga, que é mestre em Museologia e doutora em Artes Visuais.

“O museu é um ambiente moderno que traz o passado para os dias de hoje”, acrescenta Rodrigo Silva, que cursou doutorado em Arqueologia Clássica e pós-doutorado em Arqueologia Bíblica. E para conservar da melhor maneira possível esses artefatos antigos, a climatização do espaço segue padrões internacionais, segundo Janaína, que também tem formação nessa área.

JARDIM DA BÍBLIA

Espaço do Jardim da Bíblia. Foto: André Vasconcelos

O MAB é composto ainda por um jardim com diversas espécies de árvores das terras bíblicas, tais como a acácia (da qual foi extraída a madeira usada na fabricação da arca da aliança), o cedro do Líbano, o salgueiro, a mostarda e a oliveira, incluindo uma com aproximadamente 300 anos. Nesse mesmo ambiente, é possível ter uma noção de como o azeite era fabricado nos tempos bíblicos, o que ajuda a compreender o sofrimento de Cristo, milênios atrás, em outro jardim, o Getsêmani, cujo nome remete à “prensa de azeite”.

“O Museu de Arqueologia Bíblica é um monumento de exaltação à Palavra de Deus para milhares de estudantes, familiares e visitantes que passarem pelo campus”, conclui o doutor Martin Kuhn, reitor do Unasp.

MÁRCIO TONETTI, pastor e jornalista, é editor associado da Revista Adventista

VEJA COMO FOI O PROGRAMA DE INAUGURAÇÃO

Última atualização em 14 de novembro de 2023 por Márcio Tonetti.