Desconstruindo mitos sobre a postura de Deus em relação a Israel
Reinaldo W. Siqueira

Ao analisar a relação entre Israel e a igreja, frequentemente o ponto de vista cristão tradicional sugere que o antigo Israel falhou em cumprir os propósitos divinos em relação à sua missão. O povo teria se isolado e, em muitos casos, desprezado as demais nações, deixando de compartilhar com elas a fé no Deus Criador. O clímax dessa situação negativa ocorreu quando teriam rejeitado e crucificado Jesus, o Messias prometido. Devido a isso, crê-se que foram rejeitados por Deus e substituídos por um novo povo: a igreja cristã. Ela é vista como o “novo Israel” ou o “Israel espiritual”, composto por pessoas de todas as nações que, pela fé, aceitaram o evangelho de Jesus Cristo e assumiram a missão de proclamá-Lo a todo o mundo.
Vários textos do Novo Testamento são citados para apoiar essa visão, incluindo o prólogo do evangelho de João (especialmente Jo 1:11-13); o debate entre Jesus e os judeus (Jo 8:31-47); a parábola dos lavradores maus (Mt 21:33-44; Mc 12:1-12; Lc 20:9-19); o clamor da multidão diante de Pilatos (Mt 27:15-44; Mc 15:6-32; Lc 23:13-43; Jo 19:12-22); o apedrejamento de Estêvão (At 7:51-57); e a alegoria de Agar e Sara (Gl 4:21-31).
É importante reconhecer que o conteúdo desses textos pode despertar sentimentos de aversão, repulsa e indignação contra os judeus em alguns cristãos. Ao longo da história, esses sentimentos muitas vezes se manifestaram de maneira violenta, resultando em desprezo, agressão e, em alguns casos, até genocídio. Contudo, é preciso notar que essa interpretação tradicional não reflete o conteúdo das Escrituras, e muitos estudiosos discordam dela.
Pontos importantes
Em primeiro lugar, é importante ressaltar que qualquer sentimento de desprezo, ódio ou ação violenta contra o ser humano é condenado por Deus. No sermão do monte, Jesus afirmou que qualquer ofensa dirigida a um ser humano é considerada por Deus tão grave quanto um assassinato, resultando em perdição eterna (Mt 5:21-22). Devemos amar inclusive nossos inimigos, orando por eles e praticando o bem, seguindo o exemplo do amor divino (Mt 5:43-48). Esses dois princípios fundamentais ensinados por Jesus condenam todas as ações cristãs de desprezo e violência praticadas contra os judeus ao longo da história.
Além disso, Deus continua amando o povo de Israel mesmo após a crucifixão de Jesus. Paulo afirmou: “Quanto ao evangelho, eles são inimigos por causa de vocês; mas quanto à eleição, amados por causa dos patriarcas” (Rm 11:28). A afeição de Jesus pelo povo de Israel é evidente em diversos momentos de Seu ministério (Lc 19:41-44; 23:28, 29, 34). Na parábola do Bom Pastor (Jo 10:1-18), as ovelhas pertencem inicialmente ao rebanho de Israel (v. 11-15), mas também incluem aquelas que não faziam parte desse aprisco, as quais Ele busca para que haja um único rebanho e um único Pastor (v. 16; cf. Jo 11:51,52).
Outro ponto importante se refere ao conceito equivocado de que praticamente nenhum judeu aceitou o evangelho no primeiro século. Inicialmente, havia 120 fiéis (At 1:15), mas, no Pentecostes, esse número aumentou para mais de 3 mil (At 2:41). Diariamente, pessoas de origem judaica aceitavam a mensagem (At 2:47), resultando em cerca de 5 mil fiéis em Jerusalém (At 4:4), incluindo sacerdotes (At 6:7). Mesmo enfrentando perseguições, a comunidade perseverou e cresceu, atingindo dezenas de milhares de fiéis (At 21:20). Além disso, a evangelização obteve resultados positivos entre os judeus em Damasco (At 9:1-19), Antioquia da Síria (At 11:19-30), Antioquia da Pisídia (At 13:43), Icônio (At 14:1), Éfeso (At 19:1-20) e Bereia (At 17:10-12). Assim, a crença comum de que a pregação do evangelho falhou totalmente entre os judeus não corresponde aos dados registrados no livro de Atos.
A CRENÇA COMUM DE QUE A PREGAÇÃO DO EVANGELHO FALHOU TOTALMENTE ENTRE OS JUDEUS NÃO CORRESPONDE AOS DADOS REGISTRADOS NO LIVRO DE ATOS
Paulo também deixou claro que Deus não rejeitou Israel em sua carta aos Romanos. No capítulo 11, ele questionou: “Será que Deus rejeitou o Seu povo?”, e logo respondeu: “De modo nenhum!” (v. 1). Essa resposta é uma negação enfática utilizada para rejeitar vigorosamente ideias contrárias à verdade bíblica (cf. Rm 3:4, 6, 31; 6:2, 15; 7:7, 13; 9:14; 11:1, 11). Como evidência de que Deus não havia rejeitado Israel, o apóstolo mencionou sua própria identidade: “Porque eu também sou israelita, da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim”; e prosseguiu: “Deus não rejeitou o Seu povo, a quem de antemão conheceu” (Rm 11:2). Na sequência, Paulo explicou que a situação de Israel naquele momento assemelhava-se ao ocorrido nos dias do profeta Elias. Aparentemente, todo Israel havia se afastado de Deus e O abandonado. Entretanto, o Senhor havia preservado para Si “sete mil homens que não dobraram os joelhos diante de Baal” (v. 2-4). Ele concluiu, então, que, em seus dias, também sobrevivia “um remanescente segundo a eleição da graça” (v. 5).
De fato, Paulo não era o único judeu que acreditava em Jesus. Havia um grupo considerável de judeus cristãos que formou a base da igreja e saiu a pregar o evangelho por todo o mundo. Dessa forma, a própria existência da igreja cristã, com base no remanescente fiel, constituía a evidência mais sólida de que o Senhor não tinha rejeitado Seu povo. Havia, portanto, uma continuidade no povo de Deus, representada pela boa oliveira. Embora alguns ramos naturais tivessem sido cortados e lançados fora devido à “transgressão” e à “incredulidade” deles (Rm 11:11, 20), muitos ramos naturais ainda permaneciam. Foi entre esses ramos naturais que os gentios, como ramos da oliveira brava, foram enxertados (v. 17-22). Paulo utilizou a metáfora para ilustrar que, mesmo aqueles ramos naturais que foram cortados poderiam ser enxertados de volta, desde que não persistissem na incredulidade (v. 23, 24).
Em sua argumentação, o apóstolo antecipou um tempo no qual Deus reunirá a plenitude dos judeus com a plenitude dos gentios (Rm 11:25-32). Esse mistério profético o levou a expressar louvor a Deus, celebrando a profundidade e riqueza dos Seus desígnios tanto para Israel quanto para toda a humanidade (v. 33-36). Paulo percebeu a igreja como o catalisador desse plano divino, sendo a evidência da fidelidade e do amor de Deus para com o povo de Israel. Em Efésios, ele abordou a integração dos gentios com os judeus na comunidade de fé por meio de Jesus, o que chamou de “o mistério de Cristo”
(Ef 1:9, 10; 2:11–3:11; 6:19, 20).
Finalmente, um dos princípios fundamentais de interpretação bíblica para os adventistas, herdado da Reforma, é o da analogia da fé. Segundo esse princípio, na avaliação de uma ideia nas Escrituras: (1) a Bíblia como um todo deve ser considerada; (2) todas as passagens bíblicas que tratam do assunto devem ser examinadas; e (3) as passagens difíceis devem ser compreendidas à luz das passagens claras sobre o mesmo assunto. Assim, o texto bíblico como um todo e as passagens bíblicas claras sobre a relação entre a igreja e Israel devem iluminar e auxiliar na compreensão das passagens difíceis sobre o tema.
Portanto, como compreender as passagens mencionadas no início deste artigo que são tradicionalmente utilizadas para sustentar o ensino da rejeição de Israel e sua substituição pela igreja cristã?
Textos e contextos
O prólogo do evangelho de João (principalmente Jo 1:11-13). Essa porção apresenta um enfoque geral. O Verbo (em grego, o Logos, “Palavra”) é retratado como o criador de todas as coisas (Jo 1:1-3). Nele estava a vida, e Ele era a luz da humanidade. O Verbo Se fez carne e habitou entre nós (v. 4-9, 14), mas experimentou uma rejeição generalizada: “O Verbo estava no mundo, o mundo foi feito por meio Dele, mas o mundo não O conheceu. Veio para o que era Seu, e os Seus não O receberam (v. 10, 11). É fundamental interpretar o verso 11 à luz do verso anterior, destacando que a atitude de rejeição abrangeu tanto judeus quanto não judeus.
CHEGARÁ O TEMPO EM QUE DEUS REUNIRÁ A PLENITUDE DOS JUDEUS COM A PLENITUDE DOS GENTIOS
O apóstolo, então, afirmou: “Mas, a todos quantos O receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no Seu nome, os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (v. 12, 13). Se o verso 11, que antecede essa última declaração, fosse restrito apenas ao povo de Israel, a oportunidade de tornar-se filho de Deus também estaria limitada. No entanto, considerando que o foco desses textos é geral, a promessa divina é igualmente acessível a todos os seres humanos, sejam judeus ou não.
A disputa entre Jesus e os judeus (Jo 8:31-47). O termo “judeus” ocorre cerca de 70 vezes em João, com diferentes sentidos. Às vezes, refere-se aos líderes judaicos em Jerusalém (Jo 1:19; 2:18, 20);
outras vezes, a um grupo de judeus que se sente ofendido por questões religiosas (Jo 3:25; 6:41, 52); também se relaciona aos habitantes da Judeia ou de Jerusalém (Jo 11:19, 31, 33, 36, 45);
e finalmente, ao povo judeu como um todo (Jo 2:6, 13; 3:1; 4:9, 22). Qual é o sentido de “os judeus” em João 8:31 a 47? O contexto dessa disputa encontra-se nos versos 14 a 30, em que os fariseus, identificados como “os judeus”, debatem com Jesus acerca da Sua declaração ao povo de que Ele era a luz do mundo (v. 12). No fim desse debate, o texto diz que “muitos creram Nele” (v. 30). O verso 31 identifica esse grupo como os “judeus que haviam crido Nele”, ou seja, um grupo de fariseus que passaram a crer em Jesus. É com esse grupo específico que Cristo dialoga nos versos 31 a 47. Ele põe à prova a crença deles e expõe a superficialidade dela. Depois, declara que eles eram “filhos do diabo”, pois queriam matá-Lo ao serem contrariados (v. 37-47). Assim, deveria esse grupo tão restrito se tornar uma referência a todos os judeus ao longo da história?
A parábola dos lavradores maus (Mt 21:33-44; Mc 12:1-12; Lc 20:9-19). No final dessa parábola, o evangelista identifica os lavradores maus que enfrentariam o juízo divino como sendo os líderes religiosos judeus aos quais Deus havia confiado Sua vinha, ou seja, o povo de Israel (Mt 21:45; Mc 12:12; Lc 20:19). A parábola segue o simbolismo bíblico da vinha representando o povo de Israel (Sl 80:8-11; Is 5:1-7; 27:2-11; Jr 2:21; Os 10:1). Na parábola, o senhor da vinha não puniria a vinha, mas os lavradores. Isso reflete o momento em que Deus estabelece uma nova liderança espiritual para o Seu povo, composta por apóstolos, profetas, evangelistas, pastores-mestres (Ef 4:11-13; 1Co 12:27, 28). Assim, a parábola aborda a continuidade do povo de Deus, na qual a vinha permanece, mas seus responsáveis mudam (Ellen G. White, Atos dos Apóstolos [CPB, 2021], p. 10, 11).
O clamor da multidão diante de Pilatos (Mt 27:15-44; Mc 15:6-32; Lc 23:13-43; Jo 19:12-22). A visão de muitos a respeito desse fato é que todo o povo judeu presente em Jerusalém participou dos eventos relacionados ao fim do julgamento de Jesus. Escolheram Barrabás em vez de Cristo, declararam não ter outro rei senão César, exigiram a crucificação do Salvador e clamaram para que Seu sangue caísse sobre eles e seus filhos. No entanto, os detalhes apresentados nos evangelhos contradizem essa compreensão. Jesus foi preso e julgado no meio da noite, de forma oculta ao povo da cidade. Cedo, antes das 6 horas da manhã, Ele já estava entregue às autoridades romanas (Jo 18:28). Havia uma turba presente nesse momento, mas seu tamanho seria relativamente pequeno. Se o julgamento ocorreu na fortaleza Antônia, o pátio de julgamento só poderia conter algumas centenas de pessoas; se foi no antigo palácio de Herodes, então poderia conter na casa do milhar.
Sob a influência dos líderes religiosos, a multidão clamou pela crucificação de Jesus (Mt 27:20, Mc 15:11, Jo 18:38-40 e 19:6, 12-16). Durante os dias festivos da Páscoa, Jerusalém atraía pelo menos algumas centenas de milhares de pessoas, devido aos peregrinos que vinham para a celebração. A maioria dessa população estaria dormindo, ou teria despertado recentemente, permanecendo em casa sem conhecimento dos eventos em curso. Muitos deles, ao saírem de suas residências, depararam-se com Jesus já condenado, carregando a cruz em direção ao Calvário. Esse foi o caso de Simão de Cirene, que vinha do campo para a cidade, assim como das mulheres que choraram por Jesus (Lc 23:26, 27). A multidão presente no julgamento era relativamente pequena e de forma alguma representava a totalidade do povo judeu.
O apedrejamento de Estêvão (At 7). O momento crucial desse evento teria sido o das palavras de juízo pronunciadas por Estevão nos versos 51 a 53, que muitos interpretam como marcando o fim da aliança de Deus com o povo de Israel. A partir desse ponto, alguns acreditam que Israel deixou de ser a nação eleita e foi rejeitado. Essa interpretação, no entanto, conflita com a declaração clara de Paulo em Romanos 11, posterior cronologicamente ao martírio de Estevão.
A alegoria de Agar e Sara (Gl 4:21-31). A alegoria parece sustentar a ideia de que Israel teria sido rejeitado por Deus e não mais seria considerado um povo eleito. Nessa perspectiva, os judeus seriam associados aos filhos da escrava Agar, simbolizando o monte Sinai, a lei mosaica e a Jerusalém da época de Paulo. Por outro lado, os cristãos seriam identificados como os filhos da mulher livre, Sara, representando os herdeiros da promessa divina e filhos da Jerusalém Celestial, a legítima esposa do Senhor (v. 21-28). Dessa forma, sugere-se que os judeus teriam sido rejeitados da família de Deus, comparando-se a situação com a história de Ismael e Agar (v. 30).
A MISSÃO DE CRISTO NÃO VISAVA À ANIQUILAÇÃO DE ISRAEL, MAS SUA REDENÇÃO
Essa alegoria, entretanto, deve ser compreendida a partir de seu contexto na carta aos Gálatas, com foco na questão da justificação do ser humano diante de Deus, não por meio das obras da lei, mas pela fé em Jesus (Gl 2:16-21). Em Gálatas 3:1 a 4:20, Paulo argumenta que qualquer ser humano, seja judeu ou não, que busca ser justificado por meio das obras da lei, encontra-se em um estado de escravidão e sob a maldição do juízo divino previsto na lei.
A solução para essa condição humana é a salvação pela graça divina por meio da fé no Messias prometido. Foi dessa maneira que Abraão foi justificado diante de Deus, e é assim que qualquer pessoa alcança a justificação perante Ele. Paulo conclui essa discussão utilizando a alegoria de Gálatas 4:21 a 31. Aqueles que buscam a justificação pela lei acabam sob a escravidão do pecado, representada na alegoria pela escrava Agar e seu filho, pelo Sinai (pois a lei condena o pecador) e pela Jerusalém da época, na qual líderes e muitos de seus habitantes não aceitaram a salvação por intermédio de Cristo.
Os cristãos na Galácia, que estavam tentando se justificar por meio das obras da lei, estavam seguindo esse caminho, e as duras palavras de expulsão da mulher escrava e de seu filho (Gl 4:30) são dirigidas para eles. Ao adotarem essa postura, equiparam-se aos descrentes, excluindo-se da salvação e da família de Deus.
Salvação para Israel
Se a igreja cristã não é um novo povo que substitui o antigo Israel, o que é ela, então? Qual é sua relação com Israel? Tradicionalmente, o termo “igreja” (em grego, ekklesia) é usado no meio cristão para descrever o novo corpo religioso que surgiu a partir do ensinamento de Jesus por intermédio de Seus apóstolos, substituindo o povo de Israel. Muitos acreditam que Cristo escolheu a palavra a fim de apresentar um novo conceito religioso para designar o movimento que Ele estava estabelecendo (Mt 16:18). Esse termo, no contexto greco-romano, era empregado no sentido de uma assembleia cívica ou política.
Essa compreensão, no entanto, não condiz com a realidade da origem do uso do termo ekklesia para designar uma assembleia religiosa, a congregação do povo de Deus. Cerca de 300 anos antes de Cristo, na Septuaginta, os tradutores judeus do Pentateuco para a língua grega empregaram a palavra para traduzir o termo hebraico kahal (congregação) do Senhor, no livro de Deuteronômio (Dt 4:10; 9:10; 18:16; 23:2, 9; 31:30).
O termo ocorre dezenas de vezes com esse mesmo sentido em vários outros livros dessa versão grega do Antigo Testamento. No Novo Testamento, Estêvão o utiliza com esse significado ao mencionar a congregação dos filhos de Israel no deserto (At 7:38). Assim, o emprego da palavra “igreja” por Jesus e por Seus discípulos não representa uma inovação com a intenção de assinalar um novo povo, mas insere-se dentro de uma tradição judaica centenária, apontando para a ideia de continuidade, não de ruptura e substituição.
Ao analisar as Escrituras, percebe-se que a igreja não é uma alternativa divina para substituir Israel devido à sua rejeição do Messias. Conforme Paulo afirmou, a igreja é o ápice do plano divino de redenção, idealizado desde a eternidade: o mistério de Deus em Cristo Jesus (Ef 1–3). Por meio dela, o Senhor estava cumprindo Suas promessas de abençoar toda a humanidade, tanto judeus quanto não judeus, por intermédio de Jesus, o descendente prometido de Abraão (Gn 12:2, 3; 13:16; 15:5; 17:4-7; 22:15-18; Gl 3:7–4:7; Rm 4; 9-11). Assim, estava se cumprindo a profecia segundo a qual o Messias, o Servo do Senhor, traria os filhos de Israel de volta a Deus e seria a luz divina para os gentios (Is 49:5, 6). A missão de Cristo não visava à aniquilação de Israel, mas sua redenção (Lc 2:29-32). Como o Bom Pastor, Ele resgatou as ovelhas do aprisco de Israel, bem como aquelas fora desse aprisco. Por todas elas, Ele deu Sua vida e as busca para uni-las em um só rebanho, sob os Seus cuidados (Jo 10:14-16).
A igreja, por meio do poder do Espírito, é o instrumento planejado desde a eternidade para cumprir esse propósito. A igreja apostólica foi fiel a Deus ao desempenhar seu papel. Infelizmente, a partir do segundo século, a apostasia levou a igreja cristã a abandonar esse desígnio divino. Para justificar essa apostasia, desenvolveram-se teologias que sustentavam a nova direção adotada pelo cristianismo, sendo uma delas a teologia do supersessionismo, ou seja, a rejeição de Israel e sua substituição pela igreja cristã.
Como um movimento profético, os adventistas foram levantados por Deus para restaurar verdades há muito esquecidas (Is 58:12-14) e serem Seus mensageiros a todos os habitantes da Terra (Ap 14:6-12). É fundamental, portanto, que também restauremos a compreensão dos planos divinos para o povo de Israel (Is 40:1-3; Rm 11:25-32). Ao compartilharmos o evangelho eterno com amigos, vizinhos, conhecidos ou quaisquer pessoas de origem judaica, que eles possam perceber em nossa mensagem as boas-novas provenientes de Deus e celebrá-las, assim como fez o profeta judeu Isaías: “Quão formosos são sobre os montes os pés do que anuncia boas-novas, que faz ouvir a paz, que anuncia coisas boas, que faz ouvir a salvação, que diz a Sião: ‘O seu Deus reina!’” (Is 52:7).
REINALDO W. SIQUEIRA é o diretor do Centro Mundial de Amizade Judaico-Adventista
(Matéria de capa da Revista Adventista de janeiro/2024)
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Última atualização em 26 de janeiro de 2024 por Márcio Tonetti.