Memória viva

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O adventismo e seu posicionamento em relação a Israel

Wellington Barbosa

Foto: Adobe Stock

Era uma tarde fria de sábado. Ao longe, o som das tropas soviéticas se tornava cada vez mais nítido, anunciando a redenção de um dos cativeiros mais terríveis da história. Apesar da resistência alemã, em 27 de janeiro de 1945, cerca de 8 mil prisioneiros foram libertos do campo de concentração e extermínio de Auschwitz, um dos principais símbolos do nefasto regime nazista. Entre 1933 e 1945, mais de 6 milhões de judeus foram assassinados, como resultado da política antissemita defendida por Adolf Hitler, líder supremo do Terceiro Reich alemão. É triste constatar que a região na qual se originou a Reforma Protestante também amplificou uma ideia maligna que se fortaleceu no início da Idade Média e ainda ecoa em grupos extremistas de diferentes partes do mundo. Ironias da história.

Simultaneamente à ascensão antissemita do fim do século 19 e início do século 20, surgia também o sionismo, movimento contrário que defendia a existência e autodeterminação do povo judeu e a criação de um Estado para reunir os filhos da diáspora. O término da 2ª Guerra Mundial e as terríveis constatações do que havia sido o Holocausto impulsionaram a criação de Israel, em maio de 1948.
Se, por um lado, o antissemitismo teve apoio de cristãos ao longo da história, por outro lado, o sionismo também encontrou adeptos no cristianismo, especialmente entre aqueles que advogam o dispensacionalismo e as teologias da prosperidade e do domínio, justificando, com base na escatologia, a criação e posição do Estado de Israel como sinal fundamental para os eventos finais.

Judeus conversos terão parte importante e ajudarão a preparar o caminho do Senhor

Em que ponto o adventismo se encontra entre esses polos? Evidentemente, rejeitamos qualquer traço de antissemitismo, reconhecendo-o como algo totalmente incompatível com as Escrituras e a vivência do evangelho. Isso não significa, porém, que abraçamos as interpretações dispensacionalistas que agregam teologia, história e geopolítica para legitimar qualquer ação do Israel moderno. Fundamentados na revelação divina, entendemos que Deus não Se limita a um Estado ou a um povo para cumprir Seus propósitos, mas atua por intermédio de um remanescente fiel que vive de acordo com a Palavra de Deus e tem a vida centrada no Descendente de Abraão (Rm 9:6-8).

Ao crer dessa maneira, contudo, não acreditamos que o Senhor tenha Se esquecido da aliança com Israel. Ao contrário! Para além dos contornos geopolíticos e da ênfase na ancestralidade judaica, Ellen White destacou a importância do trabalho em favor do povo judeu e viu os resultados impressionantes das conversões entre eles no tempo do fim. Em 1905, ela escreveu: “Haverá muitos conversos entre os judeus, e esses conversos ajudarão a preparar o caminho do Senhor e fazer no deserto um caminho direto para o nosso Deus. Judeus conversos terão parte importante a desempenhar nos grandes preparativos a ser feitos no futuro para receber a Cristo, nosso Príncipe. Nascerá uma nação em um dia” (Evangelismo [CPB, 2023], p. 401).

No mês em que o mundo relembra as vítimas do Holocausto, deveríamos pensar melhor sobre as questões que envolvem o povo judeu e sua história, bem como acerca da responsabilidade que temos ao compartilhar com ele as boas-novas que encontramos em Jesus, o Messias. 

WELLINGTON BARBOSA é editor da Revista Adventista

(Editorial da Revista Adventista de janeiro/2024)

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Última atualização em 29 de janeiro de 2024 por Márcio Tonetti.