Como vivenciar o luto com sabedoria
Pablo Canalis
Certa ocasião, recebi uma paciente no consultório que começou a relatar sobre a perda de seu avô. “Parece que foi ontem que eu o via contar as mesmas histórias, sentado em sua poltrona favorita, lendo alguma coisa ou assistindo a alguns programas de TV de que gostava. Ultimamente, tinha até aprendido a mexer no celular, mas sempre pedia para alguém aumentar o volume, porque já não conseguia ouvir bem. Por isso, presenteamos o vovô com fones de ouvido brancos, daqueles que cobrem todo o ouvido. Eles combinavam com os poucos cabelos que restavam em sua cabeça. Como ele ria ao se olhar no espelho com aqueles fones!”
“Em casa, as coisas estão muito diferentes. Minha mãe não quer falar sobre ele e evita qualquer menção a seu nome. Por outro lado, minha tia mais velha não para de falar a respeito dele. Por causa disso, faz algum tempo que ela e minha mãe evitam conversar. Não sei, mamãe aparenta estar com raiva ou algo assim. As demais tias insistem que devemos doar as coisas do vovô para ajudar algumas pessoas, mas minha avó chora por qualquer motivo e se recusa a mexer nos pertences dele. Parece que cada um lida com a morte de uma maneira diferente. De todo modo, sinto saudades dele.”
É muito comum que, após uma perda, seja de um ente querido, animal de estimação, emprego ou relacionamento, entre outras, identifiquemos diferentes comportamentos. Alguns reagem com muita tristeza, encontrando dificuldade em retomar as atividades rotineiras. Outros, ocupando sua mente com múltiplas atividades, lidam melhor com a ausência. Alguns levam mais tempo, outros, menos.
CADA PESSOA TEM UM LIMITE QUE, SE ULTRAPASSADO, PODERÁ OCASIONAR ALGUMA DIFICULDADE NO PROCESSO DE ELABORAÇÃO DO LUTO
Isso desperta algumas perguntas: Há um jeito correto? Algum tempo definido para sentir tristeza ou saudade? De fato, cada pessoa tem um limite que, se ultrapassado, poderá ocasionar alguma dificuldade no processo de elaboração do luto. Em muitos momentos, precisaremos chorar, mas chorar em excesso poderá atrapalhar nossa forma de viver. Temos momentos de felicidade, mas ficar eufóricos em demasia poderá prejudicar nossa vida e até evidenciar alguma doença mental.
Esse processo deve ser vivido, pois evitá-lo geralmente nos torna mais vulneráveis a doenças, e vivê-lo de maneira inadequada também pode nos prejudicar. Por isso, gostaria de compartilhar algumas sugestões para vivenciar o luto com uma perspectiva emocional e espiritual mais saudável.
Administre a fase de negação com a confiança na justiça perfeita de Deus; a fase de raiva com a esperança de que Ele pode fazer com que qualquer infortúnio se transforme em bênção; a fase da barganha com a paz resultante da crença de que, mesmo que a vida não volte a ser como antes, o Senhor nos promete um futuro muito melhor do que nosso passado ou presente; a fase da depressão com um propósito firme e resiliente de quem vive na Terra preparando-se para viver no Céu; e a fase da aceitação com a convicção de que Deus não erra e Sua fidelidade é verdadeira e eterna.
Respeitemos a maneira como os outros vivenciam a perda; aprendamos a lidar com a nossa própria forma de experimentar o luto e busquemos ajuda, caso percebamos alguma dificuldade em confrontar essa realidade da vida.
PABLO CANALIS é médico, pós-graduado em Psiquiatria e Medicina da Família e Comunidade
(Artigo publicado na seção Em família da Revista Adventista de novembro/2023)
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Última atualização em 1 de novembro de 2023 por Márcio Tonetti.