Matriz do racismo

3 minutos de leitura

Um olhar bíblico sobre as tensões raciais

Marcos De Benedicto

Foto: Adobe Stock

Em 2009, Andrian Desmond e James Moore lançaram uma tese sobre o motivo que teria impulsionado o quieto naturalista inglês Charles Darwin a elaborar a explosiva teoria da evolução: a tentativa de explicar a origem da humanidade a partir da mesma fonte. Isso ajudaria a combater a escravidão. O pesquisador era apaixonado pela causa abolicionista, conforme o livro Darwin’s Sacred Cause (Houghton Mifflin Harcourt, 2009).

OUÇA TAMBÉM

A religião cristã e o racismo (podcast)

No entanto, o naturalista não precisaria ter se distanciado da fé para provar a matriz humana unificada. A Bíblia é clara: só existe uma raça humana criada por Deus e uma imagem divina. Não mais nem menos. “De um só homem fez todas as nações para habitarem sobre a face da Terra” (At 17:26). No início, a raça inteira falava uma língua. Há um ancestral comum. Logo, todos temos a mesma origem. Se as pessoas cressem na Bíblia, não haveria racismo.

Infelizmente, a falsa tipologia de várias raças, com sua paleta de cores, foi a que prevaleceu por muito tempo. Os fatores genéticos e climáticos foram esquecidos. Assim, surgiu o racismo, ideia de que um grupo étnico é superior ao outro. Como resultado, vieram a discriminação contra os diferentes, a negação do valor do outro, o apagamento de suas contribuições, a subtração de direitos, as palavras ofensivas, a brutalidade no dia a dia, o ódio em mil formas.

A palavra “racismo” é relativamente nova, não tendo registro anterior ao século 20, mas a prática é antiga. Quase todas as formas de escravidão e muitos regimes genocidas possuem conexões com o racismo. Esse mal tem raízes no pecado e no coração humano, mas transcende a esfera pessoal. Por isso, hoje se fala em racismo ­algorítmico, social, político, institucional e estrutural.

O racismo perpetua o DNA do pecado, a linguagem do ódio e a estrutura da morte

O racismo está no tecido da sociedade e precisa ser combatido. Na atualidade, quase todos os dias a mídia denuncia casos de racismo. Um dos últimos foi o ataque racista que matou a tiros dez pessoas em Buffalo, no estado de Nova York (EUA), em 14 de maio. No Brasil, a situação está tão grave que o Senado acabou de aprovar um projeto de lei que aumenta a pena para crimes de injúria racial praticados em locais públicos.

E onde nós nos situamos? O adventismo surgiu em meio a fortes tensões raciais. Felizmente, vários líderes da denominação transcenderam a cultura da época e ousaram lutar pelo fim da escravidão. Ellen White teve um papel de destaque. Em março de 1891, num discurso à liderança da igreja, ela tratou das “desconcertantes” questões raciais. Fez um forte apelo em favor do trabalho com o povo “de cor”. O material foi publicado em forma de um panfleto de 16 páginas. Esse importante documento ficou “perdido” numa sala por um tempo, mas depois ganhou vida. Além disso, ela buscou um “ativismo” prático, como a fundação do Colégio de Oakwood, destinado a prover educação para os jovens negros. Não é por acaso que quase a totalidade dos afro-­americanos adventistas reverencia a pioneira.

Apesar da rima, racismo é incompatível com cristianismo. Até por seu fundamento, o cristianismo não pode ser racista, porque Jesus não era racista (Jo 4:9; Lc 10:30-37). Ele destruiu o muro de divisão entre a humanidade (Ef 2:13-18) e com Seu sangue comprou para Deus pessoas de todas as tribos e nações (Ap 5:9). O racismo perpetua o DNA do pecado, a linguagem do ódio e a estrutura da morte.

Por tudo isso e muito mais, se a lei não obrigasse, se a origem comum não fosse suficiente, se o exemplo do Salvador não bastasse, se o amor não unisse, teologicamente não haveria desculpa, pois em Cristo somos um. Se você ainda tem racismo no olhar e nas palavras, coloque Jesus no coração, para que Ele o transforme, porque racismo, além de crime, é pecado. E o pecado destrói tudo que a humanidade tem de bom.

MARCOS DE BENEDICTO é editor da Revista Adventista

(Editorial da edição de junho de 2022)

LEIA TAMBÉM

Última atualização em 14 de junho de 2022 por Márcio Tonetti.