O milagre do papel

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A história surpreendente por trás da matéria-prima que está sendo utilizada para imprimir o livro O Grande Conflito

Márcio Tonetti

Depósito de papel da CPB atingiu volume inédito. Foto: Divulgação

Quando o projeto de distribuição em massa do livro O Grande Conflito foi anunciado oficialmente, o mundo ainda enfrentava os desafios da pandemia de Covid-19. Apesar do clima de incerteza na economia, os pedidos das sedes administrativas brasileiras começaram a chegar já em meados de 2021. Distribuir uma obra tão emblemática quanto essa empolgou a igreja! Assim, não demorou para que o montante de encomendas chegasse à casa dos milhões.

VERSÃO EM ÁUDIO DESSA HISTÓRIA

Porém, o que uma editora pode fazer se não tiver papel para impressão? Essa foi a realidade com a qual a Casa Publicadora Brasileira (CPB) se deparou quando a campanha estava começando a decolar. Talvez você não saiba que o papel usado para imprimir o livro missionário deve ter composição e gramatura com características muito peculiares, a fim de que o livro não fique muito espesso nem pesado, facilitando a leitura e distribuição.

O detalhe é que esse tipo de matéria-prima não era fabricado no Brasil. Uma empresa da Finlândia era a principal fornecedora da CPB. Contudo, naquele contexto, a fábrica do exterior não tinha condições de atender toda a demanda da editora brasileira. Primeiro porque o volume do pedido era muito grande. Até então, a CPB vinha imprimindo livros missionários com 80, 96 páginas… Por sua vez, a versão do clássico de Ellen White que estava sendo preparada para distribuição no Brasil teria 288 páginas. Isso implicaria um volume de papel 3,6 vezes maior do que nos anos anteriores.

Poucos meses depois, surgiu outro problema: o conflito entre Rússia e Ucrânia. Em um mundo globalizado, a relação de interdependência é uma constante. Evidência disso é que as fábricas de papel finlandesas dependem de madeira das florestas russas. E com os embargos econômicos contra a Rússia, a Finlândia não tinha como importar a matéria-prima.

Todos esses fatores contribuíram para que a demanda reprimida desde o começo da pandemia levasse a uma crise global de papel exatamente no momento em que a igreja mais precisava dele para imprimir o livro missionário. Aliás, a escassez não era apenas de papel para o livro missionário, mas também do que é utilizado para imprimir outros livros e periódicos. Então, onde, afinal, conseguir o insumo, já que nem a Finlândia nem o Canadá, outro grande produtor da matéria-prima, podiam suprir o volume total que a CPB precisava?

SOLUÇÃO PRÓXIMA

Diante dessa situação, os líderes da editora conclamaram seus servidores à oração. Ao mesmo tempo, continuaram pesquisando possíveis fornecedores. “Nesse ínterim, fomos a uma fábrica de papel no estado do Paraná que já tinha sido nossa fornecedora. A intenção era ver se eles tinham papel para imprimirmos nossas revistas. Porém, eles disseram que não tinham condições de atender nosso pedido”, relata Reisner Martins, gerente de Produção da CPB.

Ao perguntar se a empresa tinha outros tipos de papel em estoque, os administradores da instituição adventista foram informados de que a fábrica acabara de desenvolver um novo tipo de papel. Devido ao senso de urgência, logo na manhã seguinte, uma bobina foi encaminhada para a matriz da editora em Tatuí, no interior de São Paulo, a fim de ser testada. Supreendentemente, o papel tinha praticamente as mesmas especificações do que era importado para produzir os livros missionários anteriores. “Colocamos a bobina na máquina e ela rodou bem”, Reisner lembra. A solução, portanto, estava a cerca de 300 km de distância, o que aceleraria muito o recebimento do material. Para se ter ideia, a logística para trazer o papel da Finlândia leva quatro meses em tempos normais, enquanto para trazer de Arapoti (PR) leva apenas quatro horas.

A dúvida, porém, era quanto de papel essa empresa poderia fornecer. A resposta foi igualmente inesperada: “Quanto vocês precisarem!” Isso porque, como se tratava de uma nova linha de papel no mercado brasileiro, o produto ainda não tinha sido oferecido a ninguém.  

Pastor Edson Medeiros mostra exemplar de O Grande Conflito produzido com a primeira bobina enviada pela fábrica paranaense. Por se tratar de um teste, o miolo do livro saiu com o conteúdo da Lição da Escola Sabatina, periódico que estava sendo impresso naquela mesma máquina. Foto: William de Moraes

“Nenhuma fábrica decide fazer papel de uma hora para outra. Por isso, imagino que, pelo menos um ano antes, Deus colocou na mente de alguém daquela indústria de Arapoti (PR) a ideia de fabricar um novo tipo de produto. Então, eles se equiparam para que, quando surgisse a necessidade, encontrássemos esse papel”, Reisner acredita.

NOVOS DESAFIOS

De lá para cá, não faltou mais papel. Com o fornecimento normalizado, além da solução nacional, a fábrica da Finlândia voltou a enviar o insumo para a CPB. A fim de imprimir os 27 milhões de exemplares que serão distribuídos no Brasil até o fim do próximo ano, serão consumidas cerca de 8 mil toneladas de papel. Isso significa que, se as páginas de todos esses livros fossem alinhadas, dariam 40 voltas ao redor da Terra; e, se todos os exemplares fossem empilhados, seriam equivalentes a 592 vezes a altura do Burj Khalifa, em Dubai, arranha-céu mais alto do mundo. A boa notícia é que todo o papel necessário para alcançar esse objetivo já está estocado na CPB.

Evidentemente, isso desafiou a capacidade de produção, armazenamento e logística da instituição. Inclusive, a CPB investiu na construção de uma nova estrutura de 1.500 m² para ampliar sua área de estocagem. Obra que, em grande medida, foi motivada pelo aumento da demanda em razão da campanha histórica. Além do estoque recorde de papel, mais de 4 milhões de exemplares de O Grande Conflito que serão entregues no ano que vem já estão prontos nos pavilhões da editora. 

Como no passado, Deus continua provendo soluções surpreendentes para que a obra de publicações cumpra seu papel. “O mesmo Deus que abriu o mar Vermelho e fez brotar água da Rocha nos proveu papel de uma maneira miraculosa, para que pudéssemos atender à igreja com 27 milhões de livros O Grande Conflito. Estávamos orando por uma solução, e o Senhor nos respondeu com a quantidade necessária de matéria-prima”, conclui o pastor Edson Medeiros, diretor-geral da CPB.

MÁRCIO TONETTI, pastor e jornalista, é editor associado da Revista Adventista

Última atualização em 28 de setembro de 2023 por Márcio Tonetti.