Lançado há 125 anos, best-seller de Ellen White sintetiza a essência da caminhada cristã
Livros têm o poder de revelar paisagens, ampliar horizontes, transportar para outros mundos, encantar neurônios, reconfigurar o pensamento, mobilizar sentimentos, colorir a existência, conectar pessoas, iniciar sonhos, criar realidades. Se for um livro inspirado, as possibilidades se multiplicam, ligando o humano ao divino, fazendo milagres no coração e transformando vidas. Caminho a Cristo está nessa última categoria.
Essa obra-prima tem uma história interessante. No verão de 1890, foi sugerido que Ellen White escrevesse um pequeno livro sobre a experiência cristã para ser vendido por cerca de 50 centavos. Não se sabe quem deu a ideia. Mas sabe-se que George B. Starr sugeriu que o original fosse oferecido à editora evangélica Fleming H. Revell, para alcançar um público mais amplo.
Desde seu lançamento em 1892, o livro foi um best-seller, alcançando sete edições somente no primeiro ano. É um dos livros mais traduzidos da história da literatura, bem à frente, por exemplo, do clássico A Imitação de Cristo, de Thomas à
Kempis, e do Alcorão. O restante é a história que você vai conhecer na reportagem escrita por Márcio Tonetti.
Além de ter inspirado milhões de leitores e influenciado pastores conhecidos como Alejandro Bullón, Morris Venden e Denis Fortin, que preparou a edição anotada do aniversário de 125 anos, Caminho a Cristo revela também um pouco da visão de Ellen White sobre a experiência religiosa.
Nos 13 capítulos do livro, a autora apresenta a beleza do amor de Deus, o pecado e a necessidade de um Salvador, o arrependimento e a mudança de rumo, a confissão e a misericórdia divina, a luta contra o eu e o controle da vontade, o perdão e a paz interior, a conversão e a obediência, o novo nascimento e a permanência em Cristo, o prazer de testemunhar, o conhecimento de Deus, a oração como diálogo com um Amigo, a fé e a certeza da salvação, a alegria no Senhor.
O atual capítulo 1, um maravilhoso retrato do amor divino, foi acrescentado por um motivo circunstancial: uma nova edição no exterior (Inglaterra e Austrália) precisava de um texto diferente por questão de direito de publicação. Mas, de certo modo, isso foi providencial e expressa a própria mudança na perspectiva da autora sobre Deus. Com o tempo, sua visão de um Juiz exigente deu lugar à apreciação de um Pai que personifica o amor, aprecia a beleza, nota as lágrimas e percebe os sorrisos. Se o capítulo 1 original ecoava o pessimismo puritano, o primeiro capítulo atual reflete o autêntico otimismo bíblico.
Ellen White foi além da fórmula “leia a Bíblia, ore e testemunhe”. Sua espiritualidade é rica e complexa, com duas esferas em tensão, que se complementam e criam um equilíbrio. Ela destaca a transcendência de Deus, mas valoriza sua imanência. Defende a revelação objetiva, mas não descarta o testemunho da natureza. Enfatiza o privilégio de falar com Deus e diz que, “por meio da oração sincera, somos ligados com a mente do Infinito” (p. 96), mas inclui a meditação. Ressalta realidades externas (revelação, Bíblia, lei), mas reconhece processos internos (contrição, desejo, regozijo). Advoga a justificação pela fé, mas abraça a santificação. É cognitiva e afetiva, mente e coração. Enfim, numa síntese única e notável, mostra o rigor da consciência reformada e o ardor da experiência metodista.
Como qualquer grande livro, Caminho a Cristo não é apenas um amontoado de palavras página após página, mas uma obra de arte com frases brilhantes e ideias inspiradas que ajudam a criar um contexto para a vida e a nos tornar mais iluminados e humanos. Combinando profundidade e simplicidade, é uma ferramenta espiritual, educacional e transformacional por excelência.
Leia a matéria, mas, acima de tudo, dê os passos sugeridos pelo livro!
MARCOS DE BENEDICTO é editor da Revista Adventista
(Texto publicado originalmente na edição de julho de 2017)
Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.