Diferenças culturais exigem abordagens missionárias variadas
Eduardo Teixeira
A cada cinco anos a Igreja Adventista realiza uma assembleia mundial para votar líderes e questões relacionadas ao Manual da Igreja. Devido à pandemia, o encontro previsto para 2020 aconteceu somente em junho de 2022, em St. Louis, no Missouri (EUA).
Durante as reuniões, uma das partes consiste na apresentação dos relatórios das Divisões, escritórios regionais da Associação Geral que possuem responsabilidades administrativas e de supervisão para as unidades da igreja em áreas geográficas específicas.
A configuração global da presença adventista está dividida em 17 macrorregiões que levam em consideração aspectos geográficos e sociais. Temos a Divisão Centro-Leste Africana, Euro-Asiática, Interamericana, Intereuropeia, Norte-Americana, Pacífico Norte-Asiático, Sul-Americana, Sul do Pacífico, Sul-Africana Oceano Índico, Sul Asiática, Pacífico Sul-Asiático, Transeuropeia, Centro-Oeste Africana, Missão Chinesa, Campo de Israel, União do Oriente Médio e Norte da África e União Ucraniana.
Os relatórios apontam os principais esforços missionários da igreja, mostram os testemunhos e o avanço do evangelho nas localidades específicas de cada Divisão ao longo do quinquênio. Mas, por conta da alteração da data, foram apresentadas as mudanças dos últimos sete anos nos encontros ocorridos na sexta, 10 de junho.
Cada liderança contou com alguns minutos para agradecimentos e para a apresentação dos vídeorrelatórios. Um dos pontos ressaltados por todos os pastores que coordenam os escritórios regionais foi a expansão da mensagem adventista por meio das mídias sociais, emissoras de rádio e canais de televisão. De acordo com os dados apresentados, pequenos vilarejos e grandes cidades têm conseguido um engajamento cada vez maior por conta dessa interação tecnológica.
DESTAQUES
A Divisão do Pacífico Norte-Asiático mostrou os resultados em meio a crenças orientais e um forte estilo de vida secularizado nas grandes cidades. Ainda que a proporção de adventistas para as demais pessoas seja pequena, cinco famílias estão servindo como plantadores de igreja em Tóquio. Além disso, um movimento missionário pioneiro, envolvendo mais de 130 voluntários, já alcançou cerca de 34 mil pessoas. Outras duas preocupações têm sido as novas gerações. Por isso, a igreja possui estratégias específicas para a criação de vínculos e estudos bíblicos, além de orar pela abertura religiosa da Coreia do Norte.
A sede Interamericana comemorou seu centenário e a organização de 2.400 igrejas. Na Venezuela, o Ministério da Mulher avançou consistentemente nos estudos bíblicos, contabilizando mais de 600 batismos. Enquanto isso, a Jamaica ampliou os esforços voltados aos surdos e conseguiu expandir os cuidados a eles dentro e fora das congregações. Já no Haiti, a igreja se uniu para ajudar os irmãos e os demais cidadãos após o terremoto de 2021, em Porto Príncipe. O envolvimento foi tão significativo que os membros continuaram seus cultos na rua até que tiveram condição de construir uma nova igreja com capacidade para 500 pessoas.
No Brasil e nos países vizinhos, o escritório Sul-americano intensificou o serviço missionário por meio das Bíblias Missionárias. As novas gerações também fazem parte da preocupação, tanto que o número do envolvimento nos camporis aumentou em mais de 100%. Ao longo da pandemia, as 836 instituições de ensino permaneceram funcionando com plataforma própria de ensino e com aulas virtuais para atender os 323.417 alunos. Essas e outras iniciativas resultaram em 1.314,441 batismos.
Os números também apontam crescimento na região Centro-Leste Africana. Sobretudo na Etiópia, país em que a semente do evangelho tem germinado a ponto de serem registrados batismos de muitos pastores de outras denominações e a conversão de igrejas inteiras. A saúde é outra frente missionária que desponta na região por meio de um hospital-escola que conta com equipamentos médicos avançados para o ensino.
Na Intereuropeia, os testemunhos apresentaram a dificuldade da pregação do evangelho em países com pensamento secular, nos quais poucos acreditam na Bíblia e um número ainda menor participa das iniciativas nas igrejas. Porém, o atendimento adventista na pandemia despertou a atenção de diferentes grupos. Além disso, o amparo aos refugiados ucranianos na fronteira da Romênia despertou famílias inteiras para os cuidados de Deus.
Em sentido especial os adventistas do sétimo dia foram postos no mundo como atalaias e portadores de luz (Ellen G. White, Eventos Finais, p. 45).
No território da Sul-Africana Oceano Índico, três frentes voluntárias se destacam nos países: alimentação, atendimento médico e educação cristã. Em Angola, a parceria do governo com os adventistas foi intensificada e isso aumentou consideravelmente as ações sociais. O mesmo aconteceu na Zâmbia, em que o presidente é adventista e tem apelado ao povo para a prática de uma vida cristã voltada ao cuidado do próximo. Enquanto isso, os cidadãos do Zimbábue presenciaram o avanço da educação aliada aos tratamentos médicos e programas de abastecimento de água e distribuição de alimentos.
A Divisão Transeuropeia tem investido em centros de influência, camporis e aulas bíblicas on-line para estender a influência em países que contam com um perfil pós-moderno de individualismo e consumismo. Os resultados foram sentidos por diversos grupos na Irlanda, Holanda e Sérvia. Além disso, após 40 anos de separação, os líderes húngaros participaram de encontros com a liderança regional. Essa união também foi vista no acolhimento de albaneses por meio da educação, no suporte aos croatas após o terremoto e no acompanhamento dos refugiados ucranianos quando chegam à fronteira da Polônia.
Já o Campo de Israel conta com sete pastores e 21 congregações. Suas atuações estão voltadas à promoção da paz e a pregação do evangelho.
Em Haifa, há um centro de influência que está próximo aos jardins Baháí e registra, a cada ano, cerca de três mil visitantes não adventistas. Há também atendimento aos carentes, iniciativas de preservação do meio ambiente, acampamentos familiares, encontros jovens, clube de aventureiros e o ensino de hebraico para imigrantes por meio do Antigo Testamento e de visitas a lugares bíblicos.
Papua-Nova Guiné, Austrália, Nova Zelândia e outras ilhas do Pacífico formam a região administrada pela Divisão do Sul do Pacífico. A comunicação é destaque nessa região, alcançando comunidades isoladas por meio do rádio e da TV. Em Fiji, por exemplo, o Hope Channel é o único canal 24h do país. Na Nova Zelândia e Austrália, as rádios e a televisão são conhecidas pelo alto padrão dos programas locais. Outro item que chama a atenção da população dessa região é o cereal matinal dos adventistas, o mais conhecido do mercado alimentício. A saúde é outro ponto fundamental, pois em algumas aldeias os membros que antes tiveram que construir igrejas distantes das comunidades foram chamados a ajudar na pandemia e puderam se aproximar dos moradores que cederam espaços centrais das aldeias. Em Sidney, a medicina continua a ser referência. Afinal, o hospital adventista do câncer é referência nos atendimentos de uma saúde que preza pelo bem-estar integral dos pacientes.
As ênfases na sede Norte-Americana estão atreladas aos serviços comunitários, hospitais e às ações missionárias de curta e longa duração. Os membros adventistas costumeiramente atuam fora do seu território natal e, por vezes, atravessam as fronteiras para atender as demandas de outros povos, outras línguas e nações. Entre 2015 e 2022, mil igrejas foram construídas e 219.293 batismos, realizados. As convenções com professores também se destacam, sendo que o maior encontro contou com 6 mil participantes.
Na região Centro-Oeste Africana, muitos dos 22 países dessa unidade administrativa estão localizados na "Janela 10x40" e grande parte da população enfrenta uma rotina de instabilidade, seja pela pobreza ou pela intolerância religiosa. Os conflitos políticos e econômicos acompanham há anos o território circundado pelo Saara e Atlântico e continuam a propagar ensinamentos extremistas. Porém, mesmo com inúmeras dificuldades, os adventistas lutam para pregar a Bíblia e, por meio de seus esforços, a igreja computou mais de 360 mil batismos desde 2015. A educação e a mídia também avançam e despertam interesse na população. A ADRA é um braço forte na rotina dessa Divisão que comemorou os 100 anos de presença adventista em Gana juntamente com o presidente do país e celebrou os 50 anos da primeira conferência negra da África.
Vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mateus 28:19).
Os países que integram a Divisão Euro-Asiática receberam muitas reuniões públicas nos últimos anos. Essa movimentação era impensável durante o regime comunista na região. Milhares de irmãos participaram das comemorações dos 500 anos da reforma protestante na Rússia e na Ucrânia. Em solo russo, há um jornal adventista com mais de um milhão de cópias distribuídas e a igreja realizou o projeto de um novo hinário e de uma nova tradução da Bíblia. Os jovens têm participado ativamente de projetos anuais de missão e, juntamente com os serviços comunitários em centros de influência e em espaços de saúde, conseguem despertar interessados na boa notícia do reino de Deus. A colportagem é outra marca adventista que nos países religiosamente abertos chama a atenção. Já nas nações com maioria muçulmana, a educação cristã é que serve para construir pontes e abrir espaço para novas iniciativas.
A Missão Chinesa abrange China e as áreas autônomas de Honk Kong e Macau. O número de adventistas por lá é de 476 mil e atualmente existem 4 mil igrejas. Assim como em tantos outros lugares, o rádio e a televisão são os principais instrumentos para o avanço da mensagem cristã. Os hospitais e colégios também fortalecem o cuidado das comunidades.
Há relatos de professores convertidos nas unidades escolares que, antes, nem sequer tinham ouvido falar de Jesus. Durante a pandemia, os adventistas dessas áreas ajudaram a população, fornecendo máscaras e kits de higiene para escolas locais, asilos, famílias de baixa renda. Eles também fizeram doações financeiras para contribuir com irmãos indianos e de outras localidades. Em 70 anos, foi a primeira vez que todos os delegados chineses puderam participar da Assembleia da Associação Geral. Para continuar a expansão do ensino do evangelho, o site chumadventist.info oferece inúmeros serviços. Nele é possível encontrar hinários, publicações, biblioteca de teologia, aplicativos, Bíblias, folhetos, contatos do centro de mídia e das mídias sociais da Igreja Adventista.
Os países da região do Pacífico Sul-Asiático possuem uma realidade desafiadora para a pregação da mensagem cristã. Os desafios estão nos aspectos rígidos da intolerância religiosa com grandes percentuais de muçulmanos, budistas e hindus. Sem contar os frequentes desastres naturais. É por isso que a igreja atua com hospitais e grupos de cuidado. Esses grupos alcançam diferentes ramificações religiosas e étnicas. Por isso, existe um grande número de conversões de ex-rebeldes dos grupos armados. E, para alcançar áreas extremamente populosas, a mídia e os centros de influência ganharam destaque. Uma curiosidade dessa sede é a atuação da missionária mais antiga em atividade da Igreja Adventista: Helen Hall, de 84 anos.
É na União do Oriente Médio e Norte da África que o número de adventistas dobrou, passando de 3.123 para 6.275. É um dado considerável, já que a sede completou uma década e atua em países que somam 600 milhões de habitantes e possuem condições extremas de intolerância religiosa. A missão segue com universidade, centros de influência, rádio, televisão, redes sociais e missionários anônimos. Foram registrados mais de 90 pontos de cultos domésticos e, das 25 cidades mais populosas sem presença cristã, já é possível afirmar que o trabalho começou em 14 delas.
Por causa da guerra, vimos a criação da União Ucraniana. Ela é formada por 743 igrejas, 191 grupos, 41.159 membros, 751 prédios e cinco instituições. Isso inclui unidades escolares, editora, clínica médica, centro de mídia e a presença da ADRA. Desde o início do conflito armado, mais de 10 mil adventistas saíram do país e cerca de 15 mil estão escondidos. As instituições da igreja ajudaram esses e outros cidadãos com medicamentos, roupas, alimentação, dinheiro e transporte. Os atendimentos ultrapassam a marca dos 30 mil. O estúdio do Hope Channel foi parcialmente destruído, mas ainda assim continua a ser usado para mensagens de paz e esperança.
A Divisão Sul-Asiática também se vê diante de uma maioria hindu, budista e muçulmana. Até porque o cristianismo nessa região alcança apenas 1,7% da população. Mesmo assim, grandes esforços são feitos em favor da Índia, das Maldivas, do Butão e do Nepal. Os meios de comunicação são parte da estratégia, juntamente com igrejas domésticas. Desde 2015 foram construídas 78 igrejas e plantadas 450 congregações. A ADRA e os voluntários internacionais da Maranatha têm contribuído para o avanço da mensagem adventista. Como fruto dos esforços da Maranatha no território, houve a construção de 1.950 igrejas e 250 prédios escolares que somam mais de 400 salas de aula.
CONTINUIDADE
Ainda que existam dificuldades locais ou globalizadas, a Igreja Adventista segue com os esforços para fazer discípulos em diferentes nações. Por meio desses relatos é possível mensurar inúmeras bênçãos nesse processo que precisa avançar.
As iniciativas não podem ser acanhadas frente aos desafios atuais e uma lembrança que ajuda os missionários adventistas é a de que “...nada temos que recear quanto ao futuro, a menos que esqueçamos a maneira em que o Senhor nos tem guiado, e os ensinos que nos ministrou no passado” (Ellen White, Eventos Finais, p. 72).